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"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Enquanto isso, "no país do cinismo..."¹

Caríssimos,
Sinceramente, eu gostaria de iniciar o ano de 2010 em meu Blog postando algo bom, motivador, alegre. Infelizmente, as condições que nos circundam não são favoráveis ao meu propósito — não é que só aconteça desgraça mundo afora, mas em especial há pontos desagradáveis que não podem nos perpassar sem que haja correta ponderação.
Contamos com as tristes consequências das chuvas em diversas regiões do país, como interior de São Paulo, Rio de Janeiro e, nos últimos dias, a "ponte que partiu" (literalmente) no Rio Grande do Sul.
Mas algo se fez ainda mais banal que tudo isso. E foi o seguinte comentário do jornalista Boris Casoy:
"Que m... Dois lixeiros desejando felicidade do alto de suas vassouras. Dois lixeiros... o mais baixo da escala de trabalho".
Se é permitida uma rápida contextualização, tal declaração se deu no Jornal da Band em fins de 2009, quando da exibição de uma matéria em que garis entrevistados desejavam, alegremente, um feliz e próspero 2010 a todos os telespectadores. Por erros técnicos, o microfone de Casoy não havia sido desligado à entrada de um intervalo comercial, fazendo com que suas palavras fossem ao ar. A repercussão deste comentário fez com que sua retratação, em pleno 1º de janeiro, fosse inevitável: "Errei mesmo, falei bobagem [...] Ontem, durante o intervalo do 'Jornal da Band', em um vazamento de áudio, eu disse uma frase infeliz, que ofendeu os garis. Por isso, quero pedir profundas desculpas aos garis e aos telespectadores do 'Jornal da Band'".
Apesar das polêmicas declarações pelas quais o jornalista é conhecido — e até por um inusitado episódio em que ele soltou "gases" no ar —, sempre fui admirador de sua pessoa e, sobretudo, de seu trabalho. E explicarei porquê.
Não sei se é de vosso conhecimento, mas o paulistano Boris Casoy — descendente de imigrantes judeus russos —, nascido a 13 de fevereiro de 1941, contraiu grave poliomielite junto com sua irmã. Ficou sem andar até seus nove anos de idade, até ser operado nos Estados Unidos e se recuperar. "Como não podia andar, era um grande ouvinte de rádio, admirava aquele milagre da transmissão da voz", afirmou ele numa entrevista. Essa bela história de sua vida me incentivou e encorajou.
Não obstante, uma renomada jornalista da Folha de S. Paulo, Barbara Gancia, por meio de duas publicações, inesperadamente, defende seu colega de ofício.
Em 5 de janeiro, ela postou um artigo em seu blog (http://tinyurl.com/ylrmnj9), no qual enaltece as contribuições de Boris Casoy ao jornalismo, conforme constatamos no seguinte trecho:
Quem não sabe o que é colocar um programa de TV ao vivo no ar pode ter a opinião que quiser.

Acontece que eu sei, como sei também o que é a pressão do fechamento de jornal. E o tipo de cobrança que o Boris fez é comum. Os editores vão contestando as escolhas feitas pelos repórteres ou pela produção, dependendo do veículo, até o final do programa ou até que o segundo ou terceiro clichês do jornal sejam rodados na gráfica.
Isso é da natureza do nosso trabalho e não tem nada a ver com preconceito.
Oras — aderindo ao estilo da autora, fazendo uso de minha experiência enxadrística sob estratégias às peças negras —, oras! Se é tão sofrível trabalhar com jornalismo, por que ela não trabalha com moda? E ainda expor os superiores e a equipe técnica da(s) emissora(s) e/ou jornal(is) desse jeito.... Sem ética alguma! Contudo, ela ainda expressou que discordava da opinião de Casoy especificamente nesse ponto.
No entanto, a maior explosão viria na Folha de S. Paulo de ontem, 08 de janeiro de 2009, em Cotidiano, no artigo intitulado "Sirvam a cabeça do Boris com Batatas!". Embora apresente fontes concretas e trechos de uma tese de mestrado do sociólogo Fernando Braga da Costa, ela teceu outro comentário, a meu ver, mais pífio que o do próprio Casoy.
[...] Foi infeliz o comentário do apresentador do "Jornal da Band"? Foi.

Mas vem cá, tem alguma relevância? Muda em um iota todos os anos de serviços prestados por Boris Casoy ao jornalismo tapuia? É evidente que não.
Que eu saiba, o lixeiro é mesmo "o mais baixo da escala do trabalho", como afirmou Boris com desavergonhada crueza. Ou será que algum dalai lama vai ousar me dizer que o posto é ocupado pelos médicos? Um gari e um lixeiro desejando "muito dinheiro" em 2010 é mesmo motivo de riso; não vejo onde está o maior preconceito de que o jornalista foi acusado.

Falando em Direito, segundo o portal do Correio Braziliense, "o apresentador e a Bandeirantes serão processados. A Fenascon — Federação Nacional dos Trabalhadores em Serviços, Asseio e Conservação, Limpeza Urbana, Ambiental e Áreas Verdes — está movendo uma ação civil que, de acordo com o portal Imprensa, foi registrado no Fórum João Mendes, em São Paulo" (DALBEN, Sílvia. Boris Casoy e Band são processados por caso dos garis. Correio Braziliense. 08 de janeiro de 2010).

"É lamentável que isso ocorra contra uma categoria que faz um trabalho essencial para a sociedade, faz a limpeza, ajudando a evitar enchentes", diz o advogado da Fenascon, Francisco Larocca, que continua: "Foi de uma irresponsabilidade muito grande. Tem que haver reparação".

Por outro lado, podemos estar enganados ao atacarmos Boris Casoy veementemente: talvez ele tenha feito uma brincadeira para descontrair o ambiente profissional tenso da edição no jornalismo. Ainda assim, percebemos a ênfase dada por ela — sob sarcasmo ao citar o termo Dalai Lama (escrevamos com LETRAS MAIÚSCULAS, pois é o título da Sua Santidade; da maior autoridade do Budismo Tibetano) — à classe dos garis. Ridículo. É um incentivo à adoção do sistema de castas. Sobre a "relevância" por ela negada, existe. Existe. Existe. Existe sim.

Ela ainda se defendeu das (óbvias) represálias de seus leitores do Blog e da Folha, afirmando, na rede, que estamos num país livre, numa democracia e que, portanto, temos total direito de expressar nossas opiniões.

Por fim, a expressão "comentário infeliz" — utilizada em demasia por Casoy e pelas partes da defesa — denota covardia, falta de ética , falta de profissionalismo e falta de vergonha, pois é uma justificativa vazia e protocolar.

Não quero, de modo algum, ser agressivo. Caso Barbara Gancia consiga ler este artigo, que fique claro meu reconhecimento de que sou um bebê no ramo das letras. Quero ser jornalista? Quero ser escritor? Quero. Mas ainda não me comparo à experiência e à vivência deste ícone do jornalismo.

Mas eu quero, de coração, uma oportunidade (nem que seja somente uma) de dialogar com ela, pois não cabe a mim somente criticar e apontar erros. E, se puderdes colaborar com tal objetivo, agradeço. Precisamos ouvir seus argumentos. Terminantemente, sou contra a discriminação por ela defendida. Mas, como eu mesmo venho propondo em meus textos desta presente página — oferecida ao querido leitor —, precisamos do diálogo como elemento chave da sociedade.

NOTAS:

1. "No país do cinismo...": Modo com que o jornalista José Paulo de Andrade, da Rádio Bandeirantes, inicia suas postagens no Twitter (http://twitter.com/zepauloandrade).

2 comentários:

  1. Fazia tempo que eu não passava por aqui... Pois aqui estou \o/

    Quanto ao comentário do Casoy: o fato de aparecer um gari desejando prosperidade financeira pode aparentar um pouco ironico, mas nada justifica suas palavras. O que sinto de sua frase não foi nada menos que desprezo por uma classe de trabalho julgada inferior.

    Adoro esse blog, eu briso muito aqui. xD
    ksopaksopakposa

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  2. Obrigado, Suzana!
    =D
    De fato, o desrespeito dele ficou nítido. Embora haja a possibilidade de tal citação ter sido mera brincadeira.
    É fundamental que aprendamos, como seres humanos, a conviver — talvez seja este o elemento necessário à contenção da maldade "invisível" que nos assola de modo silencioso.

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