Seja bem-vindo!

"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Passaporte

O sonho não mais fora popular:
Arquitetado pelas sombras e estragos de uma noite,
A ele têm direito tão somente aqueles aptos ao amar
Ao passo que seus filtros nunca mais serão tão fracos — antes fossem.

Se não sonhasse, o quê de mim seria?
Seria pela noite mais um homem com pesares de meu dia?
Apresenta-se-me, pois, o passaporte dos sagrados
Pertencente a poucos grãos seletos deste solo hoje arado.

Do conceito boa sorte, no entanto, hei de discordar.
A este âmbito inconciso em que não basta nosso orar:
Necessário é o esforço do amante
Em permitir seu coração à valsa em ritmo andante
(Determinante, a permissão desbanca a ordem dos quadrantes).

Em verdade, são sortudos desprovidos de temores
A se esbarrarem às balisas dos amores
Emancipando-se da fundamental percepção
De olhar profundo a si, a dialogar com o seu coração.

Escandinávia

Onomatopeico erguia-se o brado de Thor.
Bravo guerreiro do futuro haveria de lidar com o pior
A fim de, do amor, mudar, á história, as raízes
Em que, por pampas removidas, co-habitam as matizes.

"Bravo!" é o incentivo fornecido pela pena
A qual às penas deste gajo cria forma, as fomenta,
Entre vales de alegria e o pico imerso da verdade
A cuja direção se vai minha locomoção, além dos muros da cidade.

É mito a história de um povo
Pelo fato irrisório de sua não instituição?
A mim, a vida está ao polvo
E eu, a presa arrependida, a devorar meu coração.

Anti-causa — oposição à anti-matéria.
Por serem uma só identidade analógica,
Possuem Kalpas de distância em amplitude ideológica
Sob a frieza de um urso caçador à sua Sibéria.

Cuido de invadir âmbitos, os quais a mim nunca assistiram
Embasado nas Europas pelos bárbaros tomadas.

É efeito trabalhado; ouro puro, a obra-prima.
Cultuo deuses deste mundo, num retrato, minha vida.
Quais serão os pentagramas a tratarem destes versos
Pela boca de meus sonhos solfejados, descobertos?

Rubor

Meu coração possui um dono inconsciente
Que não sabe que outra mulher além da sua se apaixona
Por suas mãos a deslizarem sobre o piano tenramente
Ao passo que, de seu amor, jamais desiste ou se questiona.

Como eu queria tê-lo conhecido há oito meses!

Meus olhos têm encontros com a sua boca
E minha boca, deles, conserva inveja
Por pertencer a esta dama tão sincera
A qual carente, sem seus beijos fica louca.

O rubor domina o mundo
E assim o faz com ruas de nossa cidade...

As ruas são vermelhas em virtude do Natal que se aproxima,
Quanto a meus olhos, são vermelhos por não merecerem suas rimas.
Meu rosto se avermelha por estar perto do seu
E não poder reconhecer que meus cabelos e minhas veias são vermelhas, por Romeu.

Além de veias e cabelos, meu coração também explode, está ao chão.
Ele encontra sua voz no orelhão
E não se atenta à minha por não contar com sua paixão
Daqueles braços de veludo — sou amor na contramão...

Prantos

Minhas pálpebras estalam quando vejo seu sorriso
Aqueles olhos me cativam, me reservam o impossível.
Pelas ruas, ando só a imaginar seus dons queridos
Que destina a outra dama — porque é comprometido.

Olho àquela boca a cada dia?
Ela manifesta a sabedoria acalentada em seu íntimo,
Seja me fazendo dar risadas, seja demonstrando galhardias
Da honra fúlgida que move o batalhar do intenso ritmo.

É o companheiro dos meus sonhos —
Aquele, outrossim, que eu desenhava no papel
Sempre que a infância tinha encontro
Com a mulher que eu seria após despir-me de meu véu.

Minhas lágrimas tornaram-se incontidas,
Pois passaram a ter autodisciplina
Ao ouvirem pranteares de meu coração,
O qual se recusa, em relação àquele gajo, trabalhar em solidão.

Ele se ergue em meio a chuvas e eclipses
(Sua futura esposa deve estar tão orgulhosa!)
Por que eu não consigo, como ele o fizera, dar adeus ao meu destino?
A chuva se intensifica — por que é comprometido?

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Flanquear

Aceitara meu pedido de romance aquela dama,
Olhos puros sobre a água, a qual de sonhos meus emana
A evitar o flanquar de meu sorriso a si mesmo —
Contestado, absoluto, é meu amor mais que receios.

Fúlgidos serão os lábios desta noite
Em que morenas folhas dão origem ao inverno
À medida do aquecer do coração de outrem sincero
Sublimado a ter, à dama, equivalente a mil amores.

(Há sete meses...)

Um envelope ela dissera mais que eu o faria
Por meio de rimas e sonetos e canções de meio-dia.
"Fianchetto" era o pedido. A cortejar aquela dama
Algum destino era ferido a se render à nossa chama.

Criai, vida, o teu pobre intento:
De mim, afastar o corpo dela (e seu sorriso).
De vossa cara, vida, em deboche, o lamento
Instaurei a nobres méritos — flanqueio do destino.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Cabelos louros

Tentativa é, de Cervantes, extrair objetivos —
Ó, idéia corriqueira adotada vez ou esta por ninguém! —
Ao passo que, do mundo como um todo, do Natal, eu fico aquém
Visando a estar à porta aberta do caminho alternativo.

Venero, todavia, um amigo seguro de que inexisto:
A ele, certamente, não farei quaisquer diferenças;
Tendo em vista, à vida toda, o rumar de suas crenças,
Faço deste Sol meu dia a rebater quaisquer perigos.

Cabelos louros hoje submersos à sua veia musical.
Num contrabaixo, os cabelos de um Sansão forte, imortal;
Às dez cordas da viola, a cabeleira de Berenice,
Seja em lenda, seja à astronomia à qual dedico minha origem.

Cabelos louros hoje submersos à sua veia musical...
Desrespeitosamente, ele invade folhas deste meu caderno,
Seja em minha irmã guitarra, seja em sua escrita magistral
Formada há quase cinco décadas desde que o mundo se tornara mais sincero.

Sua voz eternizada à voz do vento,
Suas letras compuseram o melhor de meus momentos,
Até mesmo esposa e filhos foram dados por presente
Desde aquele dia, minha vida o tomara por presente.

Coração em xeque

A cada empurrão e investida,
A cada punho que grava em minha face,
A cada valsa pela “terra mais garrida”,
A cada estrume que tu dizes ser minha arte...

A cada esquiva por esquinas da cidade,
A cada peça de teatro não cumprida,
A cada beijo que tu dizes ser miragem,
A cada sangramento que arrancas desta língua
Que tentava te beijar passivamente
E recebera um troco atroz viçosamente...

Em meio a tais vergões, meu coração se posta em xeque
E tem a dúvida sobre quem se deve amar:
Se a garota em rebeldia sob o leque
Ou a mulher a quem jamais se deve olhar.

É a segunda um alguém por desapego
(De nada dela há de se aprender),
É a primeira um erro algoz, massivo, certo
Em que se faz a serenata de alegria, de amor e de prazer.

Súplica

Ouço sinfonias que prefiro odiar
Por exigência dos ouvidos de um menino
À convivência, só, forçado, coagido
Em busca única por milhas a trilhar.

Sua dificuldade, por labor, o desespera,
Sua mente — seu sabor — a primavera
Iludida, condenada às suas cores —
Vez por ano, as neves prestam-lhe favores.

Solidão apavorada é sua vida:
Às mãos, desgosto pela juventude perdida,
Seja sua, seja deles, seja dela que o espera
A bailar sobre a cabana de ouro e sal — a nossa esfera.

Quais serão as súplicas cabíveis das paredes
Ao verão deste fidalgo preso à cama
Rebuscada a cada esquina pela mente
Criativa ao apagar da nobre chama?

Dá-me, vida, o direito de sonhar tão livremente
Sem tuas dores e misérias do outono deprimente
Ao badalar do juramento, aos meus braços reprimido,
Do crescer de uma ilha inexplorável ao destino.

A pipa

O atraso da palavra é notório,
Visto que sua presença equivale a milhares desses pensamentos
De um homem (ou garoto) relutante, irrisório
A se lançar contra a torneira de espadas correntes — seu intento...

Uma pipa é lançada em declínio, carregada pelo vento
De encontro ao não-gravitacional; ao encontro desse solo
Em que produzem ouro e milho, e batata, e chimarrão
Contra “outdoors”, hoje esquecidos, sentidos pela presunção.

O moleque corre atrás de sua pipa, agora respaldada pelas mãos de um frentista
Em aparência educado, lhe confere seu brinquedo (talvez o tenha antes possuído)
É marcante a euforia da criança, colocada novamente a brincar
E ela corre em alegria, detentora de um sorriso e uma pipa.

O observador fica calado...
Seus olhos perseguiram essa pipa.
Os mesmos olhos que choraram por rasgarem sua língua
Por uma gata devorada, a lhe forçar a ter com versos, suas rimas.

Ele não fora tão gênio com as linhas nas mãos
Quanto o é com as mesmas em seus olhos; sob os pés
(Talvez em folhas de caderno,
Seja outono ou inverno,
Em seus quadrantes do Universo...).

A pipa, um dia, ainda em curvas, voará...
E tocará aquela nuvem que formara um coração.

A pipa, um dia, em curvas voará...
E tocará aquela nuvem que retrata um beijo
Do casal de namorados pelas ruas, aos lampejos
Contrastantes ao passado comparável a alcatraz.

Outro garoto se vê dentro da mesma situação —
Da pipa e do beijo
Roubado há exatos sete meses deste ensejo
Em que resgata a velha chama de seu novo coração
(Ao qual cada alegria é novidade...).

Ele passava pelo cruzamento mais famoso da cidade,
Deixava para trás o seu desgosto e o mapa do Brasil,
Seu pensamento, enfim, tocava a imensidão do céu anil
E cada verso seu brilhava nos confins da sociedade.

Profético, homérico, paulistano...
Apresentara-se-lhe o dia que valera por dez anos.
Cumprira, o homérico profeta, o velho sonho paulistano
De andar pela cidade embriagado em seus encantos.

E cada lado compusera uma moeda...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Marmita

a.
Há três anos, descrevi a marmita de um pedreiro
Em seu horário de almoço — alvos talheres, sal, tempero.
Chamava-se Antônio o amórfico inspirador
Que a caneta de um poeta, à prosa intrometido, desbravou.

Hoje, acompanhei a criação de um novo texto
Protagonizado por um novo criador.
Fissurado pela imagem do heróico Arpoador,
Ele demonstra neologismo em se jogar do parapeito.

A marmita hoje é minha,
Fora preparado com esmero pelo meu amor.
Alegria a mim suprema — mais que o Sol sempre se por
A dar local à bela noite de sussurros e autorias.

Cada grão de arroz que enviaste é sagrado:
Acompanha a sensação de cada bater do coração
A anunciar teu pensamento nele a se postar aterrissado
E tua imagem nessa mente me aconchega, me é colchão.

Ah, esposa de meus dias!
Tens sobrepujado vãs tristezas e alegrias;
Tens te adaptao ao novo ritmo do dia
Que o futuro nos reserva em prol de sua vastidão,
Em prol das nuvens entreabertas ao prover de uma paixão.


b.
Um casal é como um filme sem diretores.
A vida, por sua vez, como o teatro e seus atores
Sem saberem aonde estão, aonde irão, em seus temores
Sem ensaios, á mestria, ao crescer de seus amores.

Surpresa é ter o beijo de uma noiva
Adocicado pela essência do amor — maior verdade —
Que se ensaia (a te tomar por minha esposa)
Em coração, teu pensamento a argumentar contra a saudade.

Surpresa é ter um bolo ao chegar àquela casa
(Que me acolhe, me abriga)
Acompanhado pelo sal de uma torta,
Ambos preparados pelo amor em tuas mãos
O qual, de pressentido, arrebentara com portais da solidão.

Hoje, trago teu carinho na mochila
Estendido pelas asas da paixão interior
Sob a certeza de ser teu amor por vidas
Que se erguem sobre os muros do inverno, do calor.

O chão do refeitório engordurado pelo almoço,
Uma barata pela sala é prensada no sapato...
Um casal é como um filme abstrato;
Um casal é como o artista abstrato.


c.
"Como estará meu ombro amigo,
Sim, do qual à aderência tenho alívio,
Pelo qual meu corpo dorme em arrepios,
No qual minha essência busca abrigo?

"Onde estará meu ombro amigo?
Teria com saudades de meus beijos?
Haveria de me ver em seus desejos?
Ou somente é ilusória dor de ouvido?

"Perco-me no sono sem que haja a voz dos sonhos...
Estaria o ombro amigo a trovar pela cidade?
Bradara, pois, pela má naturalidade.
Suas trovas são cantigas de amigo
Que um coração de um poeta leva embora, em si, consigo.

"Ele é banhado pelo esforço, por verdade.
E embora não se sinta á minha altura,
Sou beijada por seus olhos de doçura
A brilharem — bucolismo em meio à arte.

"De mim, alega não tirar seu pensamento.
(Será que é verdade?)
Somente sei que, no passar de meus momentos,
O consumismo de meu ser se dá em forma de saudade".


d.
"Ilex paraguariensis" ao correr de minhas veias,
Bombeares de uma vida a bailar feito correias
Em que, suspenso, interativo, está o amor em refração
Eternizada à constrição dos dias provedores de ilusão.

Parabólica a reter em si meus pensamentos
É a dama a transmitir à minha vida e sentimento
De amar e ser amado a cada criação,
A cada tombo ou alegria, a cada beijo ou arranhão.

Em vez de uma face, esbofeteara um coração.
Não obstante, à (im)parcialidade, empunhara do condão
A proteger o noivo que a ela direciona suas lágrimas
Ao escrever do nobre enredo pelas pautas de suas páginas.

Um livro encantado a que incrementam-se as pautas
Por meio do tinteiro — a simplicidade de um coração
Em que repousam ternos gestos nos quais abro mão de pausas,
A fim de abster o amor da eventual sofreguidão.

O banquete é servido (estou sozinho):
Superior, em amplitude, à citação do chimarrão.
Em seu castelo, a dama cruza seu destino ao do menino
Que, por ela apaixonado, junta as mãos em oração.


e.
É a primeira ocasião, em cinco dias,
Que não serei, pelos teus braços, afagado
Ao chegar ao nosso lar.

Um lar que não mar nem mesmo ilha,
Não está "in loco" algum localizado
No entanto, tão somente, em nosso encontro tem lugar.

Evidente que, aos prantos, o meu rosto tu verias.
Por vezes penso, em vãos momentos, quão feliz ainda serias
Sem que este vagal poeta tu tivesses conhecido,
Sem que a este amor sincero tu tivesses respondido.

Disseste "sim" olhando apenas às virtudes
Às quais o mundo aderiria a unir as vidas desses jovens.
Por outro lado, agradeço por me conferires juventude
A partir do rumo certo ao qual lançamos nossas vozes.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Empréstimo

Velho hábito —
Involuntário...

Traduzir a cada instante o que hoje sinto
Á permanência da surpresa rotineira que envio
Seja em carta, seja em prosa, seja em curvas de teus lábios —
Logo, permitem que meu mundo seja estrado.

Confundo-me entre as pessoas confundidas pelos trens,
Abalo-me por não ser digno o bastante de não ter tudo o que tens.
Sabe, Margarida, tuas pétalas são invisíveis à penumbra do destino.
Entretanto, és fogo em ímpeto; és destaque em meio aos lírios.

Seja em meu lirismo, seja em meio ao Carnaval,
Meu coração é do menino que, pela primeira vez, se apaixona.
Seja em meu lirismo, seja à lira social,
Meu coração se acelera a cada encontro; a cada valsa, me apaixona.

Críticas serão pautadas, feito pés do Sol à escada
Ao passo que verbos divinos, rotulados, formam águas
A afogarem argumentos dos vencidos por fluências em palavras —
Todo o cenário se remonta a cada encontro meu com minhas asas.

O voo é imprescindível — vem a hora de partir
(Empresto minhas asas ao destino...
À tristeza, à saudade...) —
Enquanto o fim do mundo insano se aproxima a me inspirar a ser feliz.

domingo, 21 de novembro de 2010

Prova

Ouvi acordes de algum lado,
Dei adeus a um feriado
De que discordo plenamente em função de ideologias
A que sigo fielmente: em vez de dores, energia!

Mas pouco me importa o feriado —
Fiz de sua sequência, do futuro, um preparo,
Pelo qual me fortaleço a cada dia
Em prol de sonhos que traçamos como nosso dia-a-dia.

Estar longe de ti: prova de fogo
Sem ao menos o caderno — meu escopo —
Aterrissa-se-me à mente involuntariamente o soluçar
Às notas de que, em dois meses, sem teus olhos, n'outra prova, falarei ao solfejar.

Quero a convivência do zunido de minhas asas —
Teu amor com teus abraços despertara minhas brasas
As quais, sem minha espera, hoje habitam firmamentos
Em que lemos um futuro — revelar de um momento.

Estar longe de ti: grito socorro,
Pois o brado acalentado em meu coração é fogo novo,
A certeza de te proteger entre as asas de meus braços,
Entre a chuva, entre as asas que promovem os meus passos.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Almoço

Um almoço pode suceder uma manhã apreensiva, em que cada gota de neurônio e paciência está escassa. Um almoço pode suceder a notícia de que um ser seu mais amado está bem, a ser concomitantemente sucedido por uma bronca — quaisquer críticas construtivas...
Recuso-me a comer — estava na rua, prestes a deixar a namorada em sua casa, a fim de prosseguir, ao meu trabalho —; "Vamos comer", insiste ela, "estou com fome e dor de cabeça", diálogo no qual eu interpelava a imaginar que somente comeríamos salgados e guloseimas.
Eis que meu engano é atestado: a um restaurante ela me conduzia. Vimos a Rua Fáustolo, no bairro paulistano da Lapa, se converter em Rua Vespasiano, no que concerne aos passos dados rumo a um novo destino. Embora o número do local não me acorde no momento, garanto que alguns segundos somente nos foram necessários a que a ele chegássemos.
A entrada denotava aconchego, o qual se potencializara pelo "cheiro de fome" àquela altura tão intenso e perceptível! "É por minha conta" é o que o coração daquela dama me dizia enquanto seu sorriso esboçava a cada instante em que nos entreolhávamos. Por fim, entrávamos no restaurante, meu constrangimento em vez de notas de Real em meus bolsos e carteira — por mim, inclusive, pouco utilizada —, afinal o orgulho por vezes sonda os espectros dos quais se originam nossos pensamentos e ações.
Sentamo-nos. As mesas e cadeiras, de fato, remetiam a um lar. "Este restaurante era a antiga casa da família [dona do comércio]", me informava minha amada, agora comparável a um guia turístico, ao passo que eu, o visitante — vislumbrado — descobria cada centímetro daquele paraíso mágico ao qual havia acabado de chegar, cujas paredes verde opaco davam ao pequeno tamanho o tom convidativo de um "Sinta-se em casa". Agora eram dois convites (e o terceiro viria com o acalorado "Seja bem vindo" de um dos proprietários do recinto). Irrecusável! Cada funcionário, às alegrias, atendia a seus clientes com melhores dos sorrisos a lhe colorirem os cenhos.
Algo interferiria em meu encanto: ao me sentar, notei algumas pequenas folhas debaixo da cadeira e da mesa. À hipótese de serem restos de alimento preparado, ponderei acerca de ali repousar minha mochila. Atitude pequena e medíocre do garoto que logo faria o melhor almoço de sua vida — talvez as folhas tivessem sido trazidas pelo vento, numa tentativa (bem sucedida) do Universo de informar que devo abrir minha mente. Mochila repousada.
A comida chegava. Trazia carinho consigo. Ao lado de uma fantástica mulher, eu me alimentava entre goles de refrigerante, ao romantismo rebuscado. Embora industrial, a Lapa sempre me inspira um clima de séculos XVIII e XIX, perfeitamente endossado por aquele momento, o qual jurei prolongar por toda a eternidade, em futuras tentativas de lhe extrair réplicas perfeitas (ou, ao menos, quase perfeitas...)

sábado, 13 de novembro de 2010

Invasivo

Ao lado fabril e febril da cidade...
Nossos corpos aliciam-se entre si,
Tuas boca e malícia vêm a mim
A prover de teu sabor — louco enxame de imagens.

Tu te escorres entre o quente dos meus braços.
Entre vontades em teus passos,
Me entrego em meu silêncio a teu calor
Mais intenso em densidade que os vinhos e o licor.

Tu te ergues, logo desces —
Investida invasiva em que te perdes
Ao contato de tua pele, em ti, me prendo...
Distante do nascer do Sol, sou teu ensejo.

Urros e sussuros...
Não ligamos — absurdo!
Em teu ouvido, meu deleite obtido.
Te contorces em meus gritos favoritos.

Por fim, és invadida.
E te vestes com meus tapas e flechadas.
Promíscuo, em teu amor, te agarro nua
A cada grito de prazer que chama a Lua.

Nossa chama não se apaga.
Olho, de teu rosto, mais brotares de desejos
(Invasão de méis e tapas):
Suja, finalmente, está a fonte de teus beijos...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Definição

Será que ainda estás?
Será que ainda és?
Não sei o que me faz
Clamar pelos teus pés.

Despedi-me de tua mãe neste domingo.
(Cruéis horários do transporte público...)
Ah, como eu a amo!
Lança sobre nós o teu encanto.

(Voltei, reencontrei-te...
Ao ventre da mais sagrada das mulheres.
Ela me esperava, fingia que não...
Eu acalentava versos em meu coração.)

De ti, jamais desejarei sentir saudades.
Portanto, permanece ao lado meu.
Sabes que és, de nossas vidas, a metade.
Vence, pois, as intempéries... Repousa em braços meus.

Perdoa-me por tudo...
Perdoa-me pelas palavras,
Perdoa-me pelos absurdos,
Perdoa-me, outrossim, por te ter deixado no escuro.

Reclamei de comprar fraldas,
Reclamei por ter um lar,
Reclamei por ter escalas,
Reclamei por me casar...
Hoje tudo isso é o que mais quero!
Acredita que teu pai te é sincero...

A águia mãe treina seus filhos —
Do penhasco, os derruba.
"Aprendei a voar!",
Brada-lhes em meio a nuvens taciturnas.

Se uma delas não o aprende,
A mãe confia em seus instintos
(A saber que existem, inexistem)
E mergulha em tom rasante pela vida de seus filhos.

Quanta rigorosidade!

No entanto, não sou digno ainda de, a ela, ser comparado.
Somente me permite recorrer a alguns passos,
E permite que, de tua mãe, eu roube certo trecho
Desta linda alusão, a tua vida por desejo.

Prometo acompanhar cada passinho,
Prometo ensinar-te cada música,
Assim como prometo vencer junto contigo,
Como ao teu lado estar presente, ao calor de cada luta.

Deixa que eu termine cada carta,
Deixa que eu te torne meus poemas,
Deixa que eu chore a cada fala
De teus lábios, ao romper de teus dilemas.

Tenta olhar para mim...
Não morre, meu bebê...
Vive!
Ensina o teu pai a ser feliz,
Caminha junto de teu pai e sê feliz.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

5 meses "oficiais"!

Cidade de São Paulo...
O ano era 2010.
Quanto ao dia, um simples 28 de maio, como eram todos os quaisquer...

"Foi quase uma senha pra te tocar
Nem foi um sorriso, foi um sinal"

Dia típico, até se tornar utópico. Uma carta lhe pedia em namoro. E você dava sua mão àquela carta; jurava amores a ela.
Eu a tinha escrito.

A vergonha se travestia de criatividade e dava asas à imaginação de um garoto que "não resiste aos seus mistérios". E ela fazia jus a cada esforço: voava como o garoto em direção ao coração de sua amada.

"E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

Ninguém tem razão, tenta me entender
E a gente é maior que qualquer razão..."

O garoto pulava de alegria há cinco meses. Era sua primeira namorada! E mal sabia ele que seria o amor de sua vida (mentira... ele sabia sim!).

Larissa, entrelaçados à stória que criamos diariamente, e agora, com a borzinha e o bebezinho a chegar, tudo será perfeito!

AMO QUE AMO!!!
5 MESES "OFICIAIS"!
Thank you for existing!!!

5 meses de sorriso

No país da ladroagem, dos holofotes e da eminente homofobia, quando tudo parece estar errado (não que não esteja), alguém surge e dá sentido a meus dias.
Enquanto as igrejas retiram do papel e trazem forma a seus estádios, enquanto o templo a sediar a Copa se encontra em lugar errado, um casal de namorados valsa ao som de Bandolins.

"Ela teimou
E enfrentou o mundo
Se rodopiando
Ao som dos bandolins..."¹

No entanto, a conotação felizmente é controversa, pois o amor tecido, a ser narrado, só dá certo, sejam quais forem as paredes intransponíveis. Afinal, se nem mesmo o mapa do Brasil foi capaz de nos deter, por que alguém acha que o mapa da São Paulo o faria?

Acordo atrasado para este 15 de outubro, em parte por ter ido dormir já com o raiar do hoje. À descida da rua em que resido, ouço a música de Nando Reis, "Pra você guardei o amor", interpretada pelo mesmo com a cantora Ana Cañas. Nossa trilha sonora. A mais autêntica.
Músicas da Céu (Bubuia e Lenda)...
Piano Bar...
Misunderstood...

É magistral. Atemporal. É sobrenatural! O que sentimos um pelo outro é inexplicável. Pra quê tentar traduzir o intraduzível? Na minha opinião, tudo é intraduzível, embora o sejamos ainda mais. Alguns dizem que é loucura. Outros, obsessão. Alguns rotulam como insanidade. Não vejo a hora de te ver...
Conforme reza a tradição, a me abrigar, a camiseta marrom do Jimmy Page — à mesma condição, o par de All Star marrom que fortalece meus andares.
E falar com esses olhos é virtude. Da qual não há paridade.

Cada cena se refaz em minha mente desde aquele "dia especial", em que "Alguém me ofereceu a mão e não pediu mais nada em troca".*

"Eu sei,
Não é sempre que a gente encontra alguém
Que faça bem,
Que nos leve desse temporal.

"O amor é maior que tudo,
Do que todos
Até a dor
Se vai quando o olhar é natural.

"Sonhei
Que as pessoas eram boas em um mundo de amor
E acordei
Nesse mundo marginal..."*

A Larissa é tão especial... Ela me faz jogar contextos de protesto dentro de canções de amor, dentro do assunto amor. O leque é aberto pela mulher de mente aberta que possui meu coração. Ela salva tudo!

"Mas te vejo e sinto o brilho desse olhar
Hmmm...
Que me acalma e me traz força pra encarar
Tudo..."*

Agora, que assuma a primeira pessoa!


Finalmente, deixo aqui amor um trecho da música "Sorriso", do Línox, por eu sentir o que está lá. Desde o quinze-de-maio-de-dois-mil-e-dez, dia em que meu tato sentia seu amor por mim. Eu era finalmente correspondido! Ser amado era normal? De fato, o divisor de águas — chamado Larissa (Não! Não somente o divisor — e sim as próprias águas).
Eu era um rio sem águas. Havia sentido nisso!?

Minha "loucura" se estende a tudo: visto sua roupa, só para evitar que o seu cheiro se afaste de mim durante o dia todo.

"E hoje não me vejo
Sem teu cheiro junto ao meu
Sou seu.

"E antes que eu soubesse,
Nossa stória se escreveu
Você e eu..."²

Amor, geramos uma vida! Agora somos quatro! A um mês de meio ano. Já! Quanto tempo passou... E o quinze-de-maio-de-dois-mil-e-dez eternizado em nossos corações... Amo nosso amor. Não me arrependo. E parece que foi ontem. Reli cada palavra que disseste a mim desde então; cada palavra que dirigi a ti; Cada fotografia; Cada sorriso. E eu te amo! Nossa... parece que foi ontem... E nossa insegurança fora esquecida em casa. Nos amamos! Nos aquecemos!

Dormi numa calçada de uma "stória" sem igual...

Amo estes 5 meses, pois eles me deram uma família!
Conte comigo, água!!!

Com amor e carinho,
O namorado + feliz do mundo por ter a melhor namorada do mundo!

NOTA:
*. Música "Dia Especial". Cidadão Quem. Composição: Duca Leindecker.
1. Música "Bandolins". Oswaldo Montenegro. Composição: Oswaldo Montenegro.
2. Música "Sorriso". Línox. Composição: Línox.


P.S.: E a quem acha que falar de amor e de namoro é besteira, leviano e desimportante:
I. Receba meu desprezo, pois você não mudará em nada minha vida, muito menos o que sinto;
II. Notou que citei "de amor E de namoro", não é? Pois bem, caso um dia você consiga aliar as duas coisas, certamente escreverá em seu Blog ou em algum lugar, nem que seja às paredes de sua gruta. Afinal, amor e namoro infelizmente não possuem sinonímia;
III. Garanto que você não ama.
IV. Caso tenha saudades dos artigos de opinião que costumava ler em minha página, por favor peça ao mundo que seja palco de algo importante, e não mais protagonize os fiascos em que vivemos ultimamente.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Alienação

(Lições adquiridas do lado de Lá)

Eu quero ser bocado a mais alienado
Para concordar com os costumes deste mundo,
Para concordar com os conformes absurdos
Que os povos criam de braços cruzados.

Seria tudo tão perfeito, acolhedor...
Ver a dor de alguém que chora e recusar
Estender a minha mão a auxiliar
Por cada passo infinito, especulado ao corredor.

Vivamos nossos sonhos sem a dor compartilhada.
Ao entrar do assaltante, esconderijo sob a escada
Do qual nos orgulhamos — bela sala de cinema —,
Bem melhor que a ousadia de compor algum poema.

Que vençamos ao alento do luar,
Ao compasso de um sonho, à certeza do olhar
Revigorante, vigorado, contra súplicas do tempo
A nos prenderem num só quarto — isolamento à voz do vento.

Será melhor cuidar?
(Sim, de fato!)
Haverá alternativas competentes ao remar
Contra correntes de intempéries — confiemos no olfato!

Passar pelo mendigo e se portar despreocupado
É o começo postural do cidadão alienado
Que, no dinheiro, vê começo e fim; não meio
A se manter pelas pessoas, pelo espelho.

Prosa e verso

"Everyday" —
Palavra totalmente defendida por tua garra,
Sobre a qual os nossos dias cristalizam
Quaisquer formas de energias relutantes à estrada.

Disseste a mim que rezasse
Por motivo algum, ou mágica qualquer
Da qual, por bons momentos, te afastaste —
A decidir pelo destino, um mal-me-quer.

Por qual motivo?
Admito a razão de tua fúria,
Mas pensei que a razão não fosse o dito;
Pensei que a loucura fosse o rito
Em que jogamos nossas cinzas ao mar de rosas
A molhar alguma praia de uma prosa.

Prosa e verso ao te ver
E a vontade de esquecer
Que fomos juntos e brigamos algum dia...

Prosa e verso ao te querer,
Ao telefone, ao saber
Que somos fortes, construímos uma vida.

O telefone a tocar
Enquanto as mágoas que nutrimos no passado
Retornarão cada qual a seu lugar
Por incentivo à permanência do abstrato.

Coração alerta

Três quartos de hora:
O telefone não é mais a minha meta,
Visto que não sou o foco deste
A promover, das agonias, mais sincera.

A íntegra de um poema
A esclarecer a noite amena
A cada cubo de energia fornecida pelo Sol
À luz do dia que me viu andando só.

Seja qualquer hora,
Sem teu coração comigo,
Há uma viga de silêncio
A endereçar cada resquício
De dor e solidão por sempre certas
A me fazerem ter com medos; com meu coração alerta.

Transeuntes se acidentam no transporte público
Enquanto eu me acidento ao bater do coração.
Aos momentos maus, impuros, o teu sempre único
Haverá de ter comigo ao romper da solidão.

Sejamos bons, infames, ao romper da solidão...
Sejamos bons, infames, ao bater do coração...

Ironias subdivisíveis

(Neil Peart me entenderia...)

Ironias subdivisíveis —
Passo hoje sem qualquer centavo em bolso e mãos
Em frente à padaria em que quinta-feira troquei uma nota de cinquenta.
O sábado de hoje assiste à minha dor — decepção —
Por não ter cores em meu bolso, em minha bolsa, na carteira.

"Que percas cada sonho!",
Bradara a vida ontem mesmo a mim,
Enquanto ouvir "Não vá embora"¹ não parece mais ter fim.
É bom se apaixonar quando existe a recíproca
(Não só quando se conta com a mesma entendida).

E a cada estação da qual o trem se despede,
Eu me lembro dos momentos em que me abandonaste.
E a cada estação à qual o trem brada "Bom dia!",
O amor inutilmente aumentará minha tristeza por confins desta cidade.

Ó, vida!
Deixa que eu viva!
(Nem que seja só pra te viver...)

As pesquisas desses dias associam a felicidade ao dinheiro.
Quase todo mundo as denuncia.
Estariam tão erradas assim?
Fica sem e experimenta ter, no sonho, um pesadelo
Ao qual qualquer insano renuncia.
Estaria tal visão, de todo, tão errada assim?

Que a sonoridade me abandone e tenha garras com passados
Responsáveis pelas preces que o futuro ora errado.

(Ironias subdivisíveis...)



NOTA:
1. Música "Não vá embora". Composição: Marisa Monte.

Normal

Ainda mais, essa...
Agora, se tornou normal tu me largares
E me condenares aos olhares
De quem não suporta este besouro de Antares.

Por que citaram segurança?
Por que me ensinaste a ler livros
Se, hoje, tu te importas com o luxo da T.V.?

Por que me intrometi co'a esperança
Se, de morta, esboçara o que é destino
E escapara às garras de um bravo ser?

Ainda mais, essa...
Agora, é normal tu me largares.
Corre e torce a que eu não faça o mesmo,
Pois vontade não me falta — há receio.

Espero que, um dia, tu aprendas a mudar
(A não criar subterfúgios...)
Espero que, um dia, tu te ensines a mudar
(A resgatar o meu refúgio...)

Enquanto falam do Terceiro mundo,
Alio a eles esta raiva de um sujo moribundo
Afim de, ao silêncio, enlouquecer
Pela maldita chuva que nos faz retroceder.

Passei ao lado de um lugar que era nosso.
(Passei agora mesmo)
Entendi, de vez por todas, que largaste de propósito
Um bom espelho.

Um mau remédio
Que não ouço;
Um mau remédio
Em meu pescoço.

Meia-hora

Passara-se a simples meia-hora
E eu não sei aonde irás.
O mundo a cair à minha volta
E eu não posso mais voar.

As asas do dissimulado estão ao chão
Enquanto, ao segundo céu, se fantasia
Ao passo que sua dama não o quer à sua vida —
O motivo pelo qual agora chora à extrema unção.

Milhões lutam e decidem o destino do País
E nossos passos, tão perdidos, não encontram um só chão.
Eu preferia ter contigo a beber o chimarrão
Em vez do inferno que se ergue a apresentar-me uma raiz.

Eu me ergo em desespero a mudar-me de endereço
A cada praça que oferece um falso apreço.
Em meio às chuvas que se fazem adereços
E à saudade das carícias de que nunca mais me esqueço.

Talvez, agora, tenhas visto nosso fruto —
Verdadeira proibição que vem ao mundo.
Abstenhamo-nos do ódio; precisamos nos unir.
Terás e abrir mão de teu orgulho e me ouvir.

Quando digo que não ouças ninguém,
Quando mostro que procuro ser alguém.

A velar por ministrar meu jeito,
Haverei de proteger teu gênio,
Haverei de melhorar por ti.

Nem só de reclamações se satisfaz o apontador.
Aponto o dedo...
Pra não ter que apontar um novo lápis...
Nem só de críticas se faz o crítico,
Nem só de argumentos se abastece o escritor,
De nada vale minha vida sem que tenha o teu amor.

Meu emprego indecente haverá de nos manter
E tua boca, sempre ardente, haverá de me acolher,
Pois eu sei que nunca fui o herói perfeito
E, se pudesse, refaria meus preceitos.

Se houver chance de te ver,
Darei a atenção e o carinho que as chuvas dão ao mundo,
Viverei a profissão e as alegrias de um sonho tão profundo
Em que me ergo, sigo em frente, abro as portas de um mundo.

Sagrado sono

(Sagrado sono...)
Em que milhares se abrigam —
Sejam homens ou raposas,
Vagalume, lampião.

(Sagrado sono...)
Invasor à correria
Entre vespas, mariposas —
Morte súbita do chão.

Algo vil, boçal, excêntrico
Que hoje nos impede de sonhar
Enquanto o guardião aqui, de letras — sempre atento —,
É traído por destinos que nem mesmo roubam o ar.

É burrice transformar o benefício em doença.
A mesma fita que estrangula poderia ser usada como laço,
Mas aquele gajo alternativo que ainda pensa
É tratado por bandido por ser certo em ser errado.

Que o quadro torto continue a se quebrar
(Espero que, quando desta quebra, não mais estejas dentro dele)...
Dormirás enquanto sofro por sonhar.

O que houve? Eu perdi a graça?
As noites já não trazem nossos dias?
Fazes com que a chama do amor fique às traças
Quando o bom sempre seria o inverso — eis a vida...
Melhor que eu seja, pois, sincero... E me demita!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Avalanche

"O Led Zeppelin na tua camiseta
Um planeta na tua cama
A Katy Perry escrita a lápis
Eternidades da semana..."

Ao som do nome que me lembra uma máquina,
Pelo teu cheiro, eu navego em Universos
Existentes em meus sonhos — e reajo em debandada
Pelos beijos que desejo, pelo amor que sempre espero.

Embora eu saiba que cumpres nobre das missões,
Imploro por tua vinda à minha vida, às sensações
De carinho e proteção, a imaginar-te aqui por perto.
Em paz, te entrego o coração deste garoto tão sincero.

E a saudade me promove uma avalanche de emoções.
Por mais que eu queira, por mais que eu te sinta,
Tenta, com todo o teu esforço, o cumprimento das missões
Que te torna especial, sensacional — uma mulher tão querida.

Meu rosto se umedece a se esfriar pela ausência
Do alguém que, a cada instante, me fornece um novo dia;
Do alguém que há de se orgulhar da excelência
Do dissimulado que vos fala à luz do dia.

Extrema falta de algum ar que me maltrata.
A segurança é nota zero no quesito humanismo...
Ao menos, tens mesmas ideias e te igualas
À minha vida. Sinto falta. Quero colo — e um sorriso.

Calau

Vi um calau na camiseta de um gajo
Enquanto torço pela vida, à esquerda do estágio
Em que me encontro arrependido por te deixar à tua Lapa,
Ao dirigir-me ao bom ofício em que fomento nossa estrada.

Calau que remetera à minha infância,
Quaisquer formas de desejos e esperanças
Entre mares e espelhos de bravura e coração,
Ardente às curvas de tua chama — tuas fúrias em paixão.

Conforme consta em certo canto, há marqueses em Calais.
Em prol de minha dama, canto — a argumentar aos tribunais.

Já deves ter chegado à tua Lapa —
E eu estive, por minutos, enganado.
E, por segundo, me mantive inabalável
Até que o frio de tua ausência me prendera às palavras.

Deixa que eu seja o sangue deste teu pulsar
Ilimitado, intangível, decisivo ao paladar
E aos deleites do garoto que se posta
Ao som de um novo telefone que ao amor se faz de rota.

Salve nossa trajetória! — Que a tracemos livremente.
Salve os ares da "stória" que tecemos ricamente
A cada beijo, a cada despedia;
A cada lampejo dado pelo amor aos nossos dias.

Conforme consta em certo canto, há marqueses em Calais.
Em prol de minha dama, canto — a argumentar aos tribunais.

Campainha

Mineiros finalmente resgatados
Após dois meses de tragédia em pleno Chile,
Enquanto a vida que nos cria de bom grado,
Remonta origens ao repúdio do desfile
Segregado por segregar.
O valor ao homem vencerá!

O mundo retomando a auto-estima,
Meu eu desmoronando por você.
O corpo do horizonte — ardor do clima —,
Apaixonado pelos ventos do nascer.

Mas a despedida é tão doída...

A cada toque dado pela campainha
Penso ser você
Corro pr’ atender
E a decepção toma conta do meu ser.

Cadê você que não atende ao meu chamado?
Não entendo seu estar certo tão errado.
Nem mesmo o seu transporte retornara
Transportando sua vida à minha fala.

Olho o tempo todo às janelas —
Real e artificial —
Cadê você que não atende ao meu chamado?
Não entendo seu estar certo tão errado.

Liguei a algum lugar à esperança de notícias
Que obtive pela graça da vitória
Aterrissada em minha mente de conquistas
Em que gravo nossos passos pela “stória”.

E ao ligar à sua casa, fico envergonhado —
Desligo o telefone só por ser o namorado
Que acredita na mudança de um ser,
Que acredita na Justiça do saber.

Ergamos nossas mãos às nuvens negras
Separadas ao destino por cabeças
Alistadas a roubar algum sorriso
Das venturas de um moço tão menino.

Composições de primeira viagem —
Tão confiáveis quanto ausência de miragens...

Esperei você voltar...
Não entendo seu estar certo tão errado.
Cadê você que não atende ao meu chamado?
Nem mesmo o seu transporte retornara
Transportando sua vida à minha fala.

Percebo haver três vidas
Pulsando em meu interior
(Talvez quatro),
Enquanto o diagnóstico é estar ao seu dispor.

A cada toque dado pela campainha
Penso ser você
Corro pr’ atender
E a decepção toma conta do meu ser.

domingo, 10 de outubro de 2010

Minuano a Potengi

Os raios da manhã surgiam, tímidos, por entre os vidros de uma estação do metrô paulistano.
Meus raios da paixão floriram à espera, salientes, a buscar a nau de teus encantos.
Notei que nosso amor é velocista e vai do Minuano a Potengi,
Assim como a proeza do sorriso é caminhar, chegar a ti.

Aceitarei a vida como eu a quiser construir — a cada bloco ou rejunte —
Sim! Sou narcisista e quero lanche — salgadinho ou beirute —
Enquanto meus desejo e prepotência seguem, pares, sempre juntos
À mudança do passado em prol do máximo de um mundo.

Qual será a prosa a ser tecida pelos versos da canção?
Qual será a rota percorrida a fim de encontrar teu coração?
Tais questionamentos, entre outros, pela luz dos olhos me tornaram de vitórias
À solitude desta chuva que fornece, em seu fluxo, a memória.

Que eu me aconchegue aos braços teus que me aliviam.
Que eu me contamine aos lábios teus que me encaminham
A carregar tua paixão por mais que as luzes nos critiquem —
Encontrarás meu coração a cada esquina a que assistires...

Há mais saudade em minha mente que marés sob o luar.
Assim como às paredes, sem teus toques, a bradar,
Me solicito a cada instante por teu corpo — do qual tanto preciso —
A fim de me escorrer em teu calor, em teu amor — no qual me inspiro.

Do Minuano a Potengi é um grande laço — um grande alcance...
Nem tão homérico, gigante, como nosso amor — o enxame
De nossos beijos e carícias, a brindarem pelo mel da eternidade.
Fortaleçamos nossas vidas ao modelo do humanismo a arrebatar uma cidade.

Persistência

Tive uma prosa com desenhos,
Mas nada me retira desta luta
Em que me degladio a ter teu beijo no meu cenho,
Em que me cumprimento ao ter teu rosto à minha escuta.

Tive um novo tempo com desenhos,
Mas nada me retira da missão,
Por ser de meu desejo ouvir tua voz a cada vento,
Por ser de meu desejo ser tuas mãos e coração.

Avanço sem jamais retroceder —
O retrocesso é derrota!
Permito-me, ao ver o céu aparecer,
Voltar a cada abraço de uma época remota...

O som da música invade minhas veias,
À pele, à primazia de ter amor a cada instante...
Ao ouvir de cada passou teu,
Meu cabelo se despenteia.

Eu fico todo arrepiado
Ao ver a vida entre segundos sãos, restantes...
Ao ouvir de cada passou teu,
Atrair-te-ei ao lado meu.

Sem sentido

Por que ainda mantenho a esperança de te ver?
Eu te procuro novamente a cada esquina,
A cada banco que me aguenta —
Embora eu não seja pesado,
O meu sofrimento o é.

Qual é a graça em viver sem ter teu ser?
Sem tal grande objetivo, a alegria se extermina
A se perder sem o direito às ferramentas
Detentoras da reforma do passado —
A primavera não nos quer.

O "monta-tudo" se tornara incompleto,
Assim como o fizera a obra-prima
Sem o lançamento da pera fundamental.

O Novo Mundo se tornara semi-velho
Sem a luz da tua vida
Sobre a melodia desta marcha orquestral.

Eu até diria sentir frio,
Assim como diria estar doente,
Por não estares a me aquecer, a me curar.

Mas o que sinto é tão vazio...
Perdi cada sentido facilmente,
Por não estares a me aquecer, a me curar.

Vil Revolução

Ser passado pelo carro da desforra e dar "tchauzinho"
É o que demonstra a nossa insatisfação.
Ser tratado como idoso quando ainda se é menino
É o que garante a nossa vil revolução.

Ser passado pelo carro da pamonha e ser palhaço
É o que dá forma aos nossos versos da canção.
Quando se abre um coração que não dá bola nem pr'a dor nem pr'o cansaço
É o que indica se existe coração.

Eles nos fazem respirar todo o resto do tabaco
Infelizmente, nos drogamos com as cinzas do cigarro.

Ser cobrado por ter força e por ter sonhos
Mostra que a vida não é mole não
E quando abrimos os braços, assinamos contratos
O telefone nunca mais saiu do chão...

Eles nos fazem respirar todo o resto do tabaco
Infelizmente, nos drogamos com as cinzas do cigarro.

Sou metamorfo,
Coração perto da goela...
Sombra no escuro,
Exatidão, noite sincera.

Eles nos fazem respirar todo o resto do tabaco
Infelizmente, nos drogamos com as cinzas do cigarro.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Quadrangular

(Minha gratidão nesta resposta)

Enquanto ouço de azul, vermelho e espelho,
Você não faz questão de mudar.
Até me perco em velhos livros como um pobre percevejo
"O que é preciso ninguém precisa explicar..."¹

Meu nariz já denuncia
Que o amor, hoje, morreu,
Que o Sol, hoje, choveu,
Que alguém que se perdeu
Encontrará sua razão em seu lugar
Encontrará sua razão em seu lugar...

Decepcione-me mais uma vez
Relacione cada Lua a cada tez
E não esqueça que ainda amo você
E não esqueça que a coragem não tem vez.

Mas, por precaução, esperarei.
Por uma dívida, estarei nesta estação de trem
Até
Você chegar...
Até que a chuva se enlouqueça e mostre um mundo não-quadrangular.

Nunca mais quadrantes,
Nunca mais quadrangular.
Nunca mais "Mutantes",
Sempre um novo "trottoir".
E encaremos o futuro que nos mata
E percorramos os degraus sem a escada.

Mas é claro que você não volta
Por que eu iria duvidar?
O sacrifício é sempre meu — do idiota
Que largou a realidade pra sonhar.

Decepcione-me mais uma vez
Relacione cada Lua a cada tez
E não esqueça que ainda amo você
E não esqueça que a coragem não tem vez.


NOTA:
1. Música "Variações sobre um mesmo tema". Banda "Engenheiros do Hawaii". Composição: Humberto Gessinger e Augusto Licks.

Você já foi fã?


Você já foi fã?
Então, provavelmente você saiba o que eu estou sentindo. Não, não... Nem mesmo quem já foi fã sabe o que estou sentindo.

Estamos às 21 horas e 27 minutos do dia oito de outubro de dois mil e dez. Seria mais uma sexta-feira, se não fosse o fato ocorrido há exatos vinte minutos. A banda canadense de rock progressivo, Rush, iniciou seu show às 21 horas, segundo os indicadores e noticiários.
Sou fã absoluto desta banda e não estou no show. Vontade de chorar, tristeza, dor... Não sei se os poderei ver novamente, afinal já são 40 anos de estrada. Uma hora ou outra, a aposentadoria deste fantástico power trio chegará.
É triste perder a chance de ver minha banda favorita em ação, tendo em vista que o preço dos ingressos, em se tratando do Rush, estava muito bom.
O Rush é composto por três integrantes:

Geddy Lee — baixo e vocal;
Alex Lifeson — guitarra e backing vocal;
Neil Peart — bateria.

Resumidamente, o rock progressivo é uma tendência musical em que, não necessariamente, o peso prevalece. O importante — como indica o próprio nome — é o conteúdo da obra como um todo. Geralmente, as letras são narrativas — conta-se uma história/estória com um fundo musical, fazendo com que suas bases se vinculem ao lado intelectual. Outra grande característica do rock progressivo são as músicas longas. O Rush, por exemplo, tem músicas de dez, vinte minutos, todas elas compostas por temas.

Hoje é dos piores dias de minha vida...
Tristeza compartilhada por meu irmão caçula Marcos, detentor de uma linda camiseta do álbum Fly by Night.
O Sol, ironicamente, me dava bom dia por volta das seis horas da manhã, quando eu saía de minha casa ao trabalho. De modo muito sugestivo, comecei meu dia a ouvir a música Subdivisions, do Rush. O baterista Neil Peart é o letrista da banda, por ser também escritor com obras publicadas (quanto à melodia, cabe sempre a Lee e Lifeson), e nesta música, exalta a solidão de quem sofre com as subdivisões da sociedade.

"Subdivisions -
In the high school halls
In the shopping malls
Conform or be cast out

Subdivisions -
In the basement bars
In the backs of cars
Be cool or be cast out

Any escape might help to smooth
The unattractive truth
But the suburbs have no charms to soothe
The restless dreams of youth..."²

Hoje, vivi isso na prática.

Foi legal ouvir o programa O Pulo do Gato — na Rádio Bandeirantes AM —, o qual preenche minhas manhãs diariamente e conferir que seu apresentador, o grande jornalista José Paulo de Andrade, citara o show do Rush, além de fornecer um breve resumo acerca do rock progressivo, cujo conteúdo fora aproveitado às linhas tecidas há pouco no presente texto. O fundo musical do programa ficara por conta da música Tom Sawyer, maior hit da banda e tema de McGyver: Profissão Perigo.

A foto da presente postagem foi o conjunto de presentes que minha namorada Larissa me dera por ocasião do último Dia dos Namorados. Talvez somente entenda o que eu quero dizer. Como podem ver, a camiseta é com o pentagrama do Rush. Eu a usei o dia inteiro como tributo à banda, no intuito de, de alguma forma, participar do show, do meu jeito, mas estar com meu coração junto ao de meus ídolos. E ainda recebi de presente da Larissa o CD Retrospective I, também deles, que reúne todas as minhas músicas prediletas da trajetória da banda, entre elas, a melhor em minha opinião — La Villa Strangiato. Daqui a pouco, enquanto desenharei caricaturas, ficarei ouvindo este CD, da mesma forma que ouvi Rush hoje o dia inteiro em meu Mp3.

Meu grande amigo e irmão mais velho Lincoln Tavares está lá. Boa sorte!!!

Um dia, estarei lá!



NOTA

Tradução do trecho da Subdivisions:
Subdivisões –
Nas salas do colegial
Nos shoppings
Ajuste-se ou fique de fora

Subdivisões –
Nos porões dos bares
Nas traseiras dos carros
Seja bacana ou fique de fora

Qualquer fuga pode amenizar
A verdade pouco atraente
Mas os subúrbios não possuem charme para aliviar
Os sonhos inquietos da juventude...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Da Primavera ao Verão

(Larissa Rainis/Caio Vini)

Ficar do seu lado é começar a primavera,
Onde as flores e raízes do amor se manifestam.
Ficar do seu lado é começar o verão
Onde o sol quente queima e arde nossos corpos em paixão.

Em minha boca, o saciar de meus desejos
De sua boca, ao desgastar de cada beijo.

Em meus dedos sua pele quente
Sua pele quente a queimar meus loucos devaneios.
A cada toque de sua língua, nasce um prazer diferente
Que me contagia e converte o azul do Oceano em vermelho.

Luxúria, desejo, vontade, toma-me
Em seus braços e me faz sua.
Vou te sentir e me fazer pelos teus toques
Que me abrem ao passeio ao teu corpo, a tuas curvas.

Tira meu fôlego sufocando meus desejos
Me deixando delirar em seu travesseiro.
Só de sentir a tua essência me arrepio,
Por quebrarmos meu passado rotineiro — Ah, como eu te quero!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Quinze

Nova postagem
Levantei hoje por volta das cinco e meia da manhã, me arrumei para ir ao trabalho. Vesti uma das camisetas de que masi gosto: uma marrom clara, com o Jimmy Page estampado à sua fronte. Jimmy Page... Guitarrista da maior banda de Rock da história — Led Zeppelin. Em minha camiseta, ele se posta imponente a segurar, de modo ímpar, sua Les Paul¹ que, perdida entre os dedos de seu parceiro, conflui com ele a que a mágica aconteça. Pérolas como "Achilles Last Stand", "Tea for One", "Nobody's Fault but Mine", "Dazed and Confused" — todas surgiram assim.
A influência de Page se estende a tanta gente... De Eddie Van Halen a Richie Sambora (guitarrista do Bon Jovi) e Slash (guitarrista do Guns n' Roses). E por que não eu? Ele é meu Guitar Hero favorito, ao lado de Stevie Ray Vaughan — o mago do Blues. Que bom que Page ainda está vivo!

Este quinze de setembro seria mais uma quarta-feira como outra qualquer, não fosse o fato de que ela me faz lembrar um sábado; um sábado em específico: aquele quinze-de-maio-de-dois-mil-e-dez, dia em que vi pela primeira vez a mulher com quem quero passar o resto de meus dias e de minhas vidas (nem só os gatos vivem sete vidas; o amor também o faz). Completam-se quatro meses desde aquele primeiro beijo... Desde aqueles primeiros carinhos, enquanto assitíamos aos eventos da Virada Cultural 2010...

Dormi numa calçada de uma "stória" sem igual...

E acordamos ao som da bateria do Krisiun — excelente banda gaúcha de Death Metal — enquanto esta aquecia seus motores para o show, durante o qual fomos informados da morte de Ronnie James Dio — dos maiores nomes da história do Rock. Mas nos recuperamos pelo amor que nos sondava; e fizemos com que a Lua se despedisse de nós e chamasse o seu amante — o Sol. Os dois nos invejavam tanto... Talvez ainda o façam, visto que nunca poderão se beijar, ao passo que fazemos isso o tempo todo, sem nos enjoarmos. Por tanto tempo nós fomos assim, Larissa... Salvo o fato de haver uma tela de computador entre nossas faces, em vez de um planeta. Hoje, talvez, um mundo inteiro sinta inveja da tela do computador, a querer nos separar. O Universo parecia conspirar contra o nosso amor — me tirou de nosso Estado. Mas nem isso me afastou de você. E ainda acham que o dinheiro o faria? E ainda acham que uma simples linha de metrô o faria? O tempo? A vida? Os compromissos talvez? E nós batemos isso tudo, assim como continuamos a fazer um pouco disto a cada dia. Como eu me orgulho por lutar a todo instante pra te ver...

"Queremos ver nossos sonhos
Se tornarem realidade
Pra tudo nessa vida
O que falta é coragem

Pra perceber
O quanto eu quero te ver..."*

E quase que outro Estado te retira de meu mundo... Rumo ao Sul, mar azul. E, sem saber, eu me tornava a "coisa muito importante" a bloquear o seu caminho. Querendo sem querer...

"Meu passado constrói meu presente
Nos teus olhos eu vejo a verdade
O que eu planto eu vou colhendo
Nas trincheiras da vaidade.

Hoje eu só sei
O quanto eu quero te ver..."*

Demos à luz os nossos sonhos. Agimos à luz de nossos sonhos, enquanto cada momento nos prepara pr'o futuro; enquanto essas luzes nos ajudam no escuro. Fico tranquilo por ter você a me guiar. Diz que não erra e só acerta, então se ponha a me chamar.

"Não apague as luzes,
Pois tenho medo do escuro.
Não me deixe aqui sozinho
Nesse abismo tão profundo...

E vem de novo
Essa vontade de te ver..."*

O medo e o frio inexistente me arrepiam. Preciso de você para ter vida. E mais: eu comecei a contar os dias há exatos quatro meses. Tenho a impressão de ter vivido vinte anos inúteis até então, pois nada tem sentido sem você. A vida era um cesto sem sentido.
Quantas pessoas já tentaram nos desanimar... Todos acham que é cedo. Alguns se rendem aos seus medos. Outros, às hipocrisias, tentam impedir que nós vivamos.

"Boas amizades
É o que me interessa
Vivemos num mundo
Que a falsidade impera.

Farsas e facas que cortam o meu coração
Uma lágrima minha seca antes que toque o chão..."*

A dor e o sofrimento; a vida e os momentos — coisas que decerto fomentaram o amor e a paixão. Vem a vontade de ficarmos juntos para sempre — felizes eternamente. Basta ver você chegar para que eu entre no meu mundo — tão quentinho e aprazível, tão fresquinho e especial... Eu vou às nuvens por sentir sua presença; entro em meu mundo navegando em seu olhar...

"E ela vem sorrindo, vem me abraçando
Meus problemas vão sumindo
Quando nós nos encontramos...

E ela vem sorrindo, vem me abraçando
Meus problemas vão sumindo
Quando nós nos encontramos...

(Quando nós nos encontramos...)
De novo..."*

Este quinze de setembro seria mais uma quarta-feira como outra qualquer, se eu não tivesse acordado ao som dos bandolins; se eu não tivesse hoje visto o seu rosto antes de qualquer outra coisa. Acordar e ver você é tão perfeito! Eu vou cuidar para que me tenha novamente a cada dia; para que o 8002 vire lembrança de uma vez por todas. Assim, pra que eu te veja, basta pisar o solo de minha casa, do qual surgiram vários solos de guitarra; no qual cultivo nossas "Flores da Esperança"².
Ao levantarmos, nos acompanhamos pelo ônibus e, também, pelo metrô. Sua benevolência não deixou nos separarmos nem pra dizer "tchau". E, mais uma vez, abandonara sua vida pra ficar comigo, nem que fosse só mais um pouquinho...
Num banco amarelo do ônibus que parte ao metrô Tucuruvi, nos lembramos da música "Ilex Paraguariensis", dos Engenheiros do Hawaii...

"Hoje eu acordei mais cedo
Tomei sozinho o chimarrão
Procurei a noite na memória... procurei em vão
Hoje eu acordei mais leve (nem li o jornal)
Tudo deve estar suspenso... nada deve pesar
Já vivi tanta coisa, tenho tantas a viver
Tô no meio da estrada e nenhuma derrota vai me vencer
Hoje eu acordei livre: não devo nada a ninguém
Não há nada que me prenda

Ainda era noite, esperei o dia amanhecer
Como quem aquece a água sem deixar ferver
Hoje eu acordei, agora eu sei viver no escuro
Até que a chama se acenda
Verde... quente... erva... ventre... dentro... entranhas
Mate amargo noite adentro estrada estranha

Nunca me deram mole, não (melhor assim)
Não sou a fim de pactuar (sai pra lá)
Se pensam que tenho as mãos vazias e frias (melhor assim)
Se pensam que as minhas mãos estão presas (surpresa)

Mãos e coração, livres e quentes: chimarrão e leveza
Mãos e coração, livres e quentes: chimarrão e leveza

... Ilex paraguariensis...
... Ilex paraguariensis..."

O chimarrão virou mingau de arroz com chocolate, pãozinho e café. E eu não com sozinho — tive a companhia do amor (e) do meu amor — o bor.
Divagamos sobre sonhos, "Somos quem podemos ser"... No metrô, fucamos juntos... Banco azul, mar azul, ao som do Blues. Tudo bem até o momento em que o vidro novamente fez questão de nos separar. E nossos sonhos pareceram ser só sonhos... Mas eu os farei realidades. Teçamos as teias do amor do nosso jeito tão errado sem deixar de ter razão. Teçamos as teias do amor à nossa verdade que, mesmo mentirosa, não deixa de ser realidade.

E o que o Jimmy Page em minha camiseta tem a ver com tudo isso?
O quinze-de-maio-de-dois-mil-e-dez poderá nos responder: foi com esta camiseta que te conheci, Lari. A calça que hoje trajo também esta comigo àquela noite. Em homenagem à você!
Falando nisso, que eu seja anacrônico: tocar "Piano Bar" para você pela manhã foi mais que tudo (faltou "Misunderstood").

O
quinze-de-maio-de-dois-mil-e-dez foi heróico, transcendental! Como eu queria retornar àqueles momentos mágicos vividos ao seu lado, em que nem mesmo o mar de gente incomodava. O melhor dia da minha vida! O que posso dizer? Tudo tão perfeito! Mas como você diz, ele já passou, mas ficará eternamente em nossos corações... À lembrança... Para sempre....

Exatas doze horas de hoje. Estou em meu trabalho... Chorando...
(Meio pão-de-cada-dia...)
É bom que o tempo passe, mas a cada dia o q
uinze-de-maio-de-dois-mil-e-dez ficará ainda mais para trás. E nunca mais nós o teremos, nunca mais o viveremos. Mas aqui no meu caderno valerá daqui pra frente... E ai de mim se essa caneta acabar. 'Tá no talo! 'Guentaí, caneta... Só mais um pouquinho...

Nosso quinze é mais sagrado e melhor que o da Rachel de Queiroz, com todo o respeito. Se todos pudessem saber da nossa stória... Talvez seja impossível, pois a nossa trajetória não tem explicação".

Agora eu abro mão de tudo o que for técnica... Às dez pr'a uma, as lágrimas me obrigam a escrever com o coração e não com a caneta (acaba, caneta!)...
Não consigo terminar... Aquele dia tão sagrado nunca sai de minha mente ("melhor assim"...) — o dia em que você se apaixonou por meus olhos infinitos. Fusão! Entre nós, entre certo e errado, verdadeiro Ying e Yang, entre "Misunderstood" e "Piano Bar". Contei pra tanta gente... Depois disso e até hoje. Até menti que namorava antes mesmo de te pedir; tudo só para fazer causa. Eu pediria a você dias depois.

Ao meu redor, todos falando de lembranças. Só eu 'tô escrevendo... Todos conversando. Só eu 'tô escrevendo... Mentira! Escrever por estas linhas é uma forma de conversar com você.

Voltei pelo texto, pra grifar a palavra "Fusão" e me veio à mente a imagem que tenho quando penso em nossa stória: duas partículas ou duas galáxias em altíssima velocidade surreal que se chocam com tudo. Em nosso beijo... Ali foi assim. É assim. Até hoje... Fusão! "Dois" da Tiê!
Sim! Aqui tem espaço! Em minha casa e, sobretudo, no meu coração. Não espaço vazio, nem de sobra... E sim um espaço de tamanho exato, sob medida pra você. Eu te esperei a vida toda, bor... É você!

"Pra você guardei o amor que nunca soube dar"...

Obrigado pelos meus quatro meses de vida!
De um recém-nascido...

"Não se renda às evidências
Não se prenda à primeira impressão
O que não foi impresso continua sendo escrito à mão"³.


NOTAS:
1. Guitarra Les Paul: modelo de guitarra lançado pela marca Gibson, eternizada pelos ícones Jimmy Page e Slash.
2. IKEDA, Daisaku. Flores da Esperança. Editora Brasil Seikyo. São Paulo. Agosto de 2009.
3. Música "Ilusão de Ótica". Banda "Engenheiros do Hawaii". Compositor: Humberto Gessinger.
*. Música "Essa vontade de te ver". Banda PERFEITA SIMETRIA (minha banda). Compositor: Adilson Gallione
4. E que Rachel de Queiroz perdoe a ousadia deste título.


"O Universo conspira em nosso favor,
A consequência do destino é o amor
Pra sempre
Vou te amar.

Mas talvez
Você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo
Acreditar

Que meu amor
Não será passageiro
Te amarei de janeiro a janeiro
Até o mundo acabar..."