Seja bem-vindo!

"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Passaporte

O sonho não mais fora popular:
Arquitetado pelas sombras e estragos de uma noite,
A ele têm direito tão somente aqueles aptos ao amar
Ao passo que seus filtros nunca mais serão tão fracos — antes fossem.

Se não sonhasse, o quê de mim seria?
Seria pela noite mais um homem com pesares de meu dia?
Apresenta-se-me, pois, o passaporte dos sagrados
Pertencente a poucos grãos seletos deste solo hoje arado.

Do conceito boa sorte, no entanto, hei de discordar.
A este âmbito inconciso em que não basta nosso orar:
Necessário é o esforço do amante
Em permitir seu coração à valsa em ritmo andante
(Determinante, a permissão desbanca a ordem dos quadrantes).

Em verdade, são sortudos desprovidos de temores
A se esbarrarem às balisas dos amores
Emancipando-se da fundamental percepção
De olhar profundo a si, a dialogar com o seu coração.

Escandinávia

Onomatopeico erguia-se o brado de Thor.
Bravo guerreiro do futuro haveria de lidar com o pior
A fim de, do amor, mudar, á história, as raízes
Em que, por pampas removidas, co-habitam as matizes.

"Bravo!" é o incentivo fornecido pela pena
A qual às penas deste gajo cria forma, as fomenta,
Entre vales de alegria e o pico imerso da verdade
A cuja direção se vai minha locomoção, além dos muros da cidade.

É mito a história de um povo
Pelo fato irrisório de sua não instituição?
A mim, a vida está ao polvo
E eu, a presa arrependida, a devorar meu coração.

Anti-causa — oposição à anti-matéria.
Por serem uma só identidade analógica,
Possuem Kalpas de distância em amplitude ideológica
Sob a frieza de um urso caçador à sua Sibéria.

Cuido de invadir âmbitos, os quais a mim nunca assistiram
Embasado nas Europas pelos bárbaros tomadas.

É efeito trabalhado; ouro puro, a obra-prima.
Cultuo deuses deste mundo, num retrato, minha vida.
Quais serão os pentagramas a tratarem destes versos
Pela boca de meus sonhos solfejados, descobertos?

Rubor

Meu coração possui um dono inconsciente
Que não sabe que outra mulher além da sua se apaixona
Por suas mãos a deslizarem sobre o piano tenramente
Ao passo que, de seu amor, jamais desiste ou se questiona.

Como eu queria tê-lo conhecido há oito meses!

Meus olhos têm encontros com a sua boca
E minha boca, deles, conserva inveja
Por pertencer a esta dama tão sincera
A qual carente, sem seus beijos fica louca.

O rubor domina o mundo
E assim o faz com ruas de nossa cidade...

As ruas são vermelhas em virtude do Natal que se aproxima,
Quanto a meus olhos, são vermelhos por não merecerem suas rimas.
Meu rosto se avermelha por estar perto do seu
E não poder reconhecer que meus cabelos e minhas veias são vermelhas, por Romeu.

Além de veias e cabelos, meu coração também explode, está ao chão.
Ele encontra sua voz no orelhão
E não se atenta à minha por não contar com sua paixão
Daqueles braços de veludo — sou amor na contramão...

Prantos

Minhas pálpebras estalam quando vejo seu sorriso
Aqueles olhos me cativam, me reservam o impossível.
Pelas ruas, ando só a imaginar seus dons queridos
Que destina a outra dama — porque é comprometido.

Olho àquela boca a cada dia?
Ela manifesta a sabedoria acalentada em seu íntimo,
Seja me fazendo dar risadas, seja demonstrando galhardias
Da honra fúlgida que move o batalhar do intenso ritmo.

É o companheiro dos meus sonhos —
Aquele, outrossim, que eu desenhava no papel
Sempre que a infância tinha encontro
Com a mulher que eu seria após despir-me de meu véu.

Minhas lágrimas tornaram-se incontidas,
Pois passaram a ter autodisciplina
Ao ouvirem pranteares de meu coração,
O qual se recusa, em relação àquele gajo, trabalhar em solidão.

Ele se ergue em meio a chuvas e eclipses
(Sua futura esposa deve estar tão orgulhosa!)
Por que eu não consigo, como ele o fizera, dar adeus ao meu destino?
A chuva se intensifica — por que é comprometido?

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Flanquear

Aceitara meu pedido de romance aquela dama,
Olhos puros sobre a água, a qual de sonhos meus emana
A evitar o flanquar de meu sorriso a si mesmo —
Contestado, absoluto, é meu amor mais que receios.

Fúlgidos serão os lábios desta noite
Em que morenas folhas dão origem ao inverno
À medida do aquecer do coração de outrem sincero
Sublimado a ter, à dama, equivalente a mil amores.

(Há sete meses...)

Um envelope ela dissera mais que eu o faria
Por meio de rimas e sonetos e canções de meio-dia.
"Fianchetto" era o pedido. A cortejar aquela dama
Algum destino era ferido a se render à nossa chama.

Criai, vida, o teu pobre intento:
De mim, afastar o corpo dela (e seu sorriso).
De vossa cara, vida, em deboche, o lamento
Instaurei a nobres méritos — flanqueio do destino.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Cabelos louros

Tentativa é, de Cervantes, extrair objetivos —
Ó, idéia corriqueira adotada vez ou esta por ninguém! —
Ao passo que, do mundo como um todo, do Natal, eu fico aquém
Visando a estar à porta aberta do caminho alternativo.

Venero, todavia, um amigo seguro de que inexisto:
A ele, certamente, não farei quaisquer diferenças;
Tendo em vista, à vida toda, o rumar de suas crenças,
Faço deste Sol meu dia a rebater quaisquer perigos.

Cabelos louros hoje submersos à sua veia musical.
Num contrabaixo, os cabelos de um Sansão forte, imortal;
Às dez cordas da viola, a cabeleira de Berenice,
Seja em lenda, seja à astronomia à qual dedico minha origem.

Cabelos louros hoje submersos à sua veia musical...
Desrespeitosamente, ele invade folhas deste meu caderno,
Seja em minha irmã guitarra, seja em sua escrita magistral
Formada há quase cinco décadas desde que o mundo se tornara mais sincero.

Sua voz eternizada à voz do vento,
Suas letras compuseram o melhor de meus momentos,
Até mesmo esposa e filhos foram dados por presente
Desde aquele dia, minha vida o tomara por presente.

Coração em xeque

A cada empurrão e investida,
A cada punho que grava em minha face,
A cada valsa pela “terra mais garrida”,
A cada estrume que tu dizes ser minha arte...

A cada esquiva por esquinas da cidade,
A cada peça de teatro não cumprida,
A cada beijo que tu dizes ser miragem,
A cada sangramento que arrancas desta língua
Que tentava te beijar passivamente
E recebera um troco atroz viçosamente...

Em meio a tais vergões, meu coração se posta em xeque
E tem a dúvida sobre quem se deve amar:
Se a garota em rebeldia sob o leque
Ou a mulher a quem jamais se deve olhar.

É a segunda um alguém por desapego
(De nada dela há de se aprender),
É a primeira um erro algoz, massivo, certo
Em que se faz a serenata de alegria, de amor e de prazer.

Súplica

Ouço sinfonias que prefiro odiar
Por exigência dos ouvidos de um menino
À convivência, só, forçado, coagido
Em busca única por milhas a trilhar.

Sua dificuldade, por labor, o desespera,
Sua mente — seu sabor — a primavera
Iludida, condenada às suas cores —
Vez por ano, as neves prestam-lhe favores.

Solidão apavorada é sua vida:
Às mãos, desgosto pela juventude perdida,
Seja sua, seja deles, seja dela que o espera
A bailar sobre a cabana de ouro e sal — a nossa esfera.

Quais serão as súplicas cabíveis das paredes
Ao verão deste fidalgo preso à cama
Rebuscada a cada esquina pela mente
Criativa ao apagar da nobre chama?

Dá-me, vida, o direito de sonhar tão livremente
Sem tuas dores e misérias do outono deprimente
Ao badalar do juramento, aos meus braços reprimido,
Do crescer de uma ilha inexplorável ao destino.

A pipa

O atraso da palavra é notório,
Visto que sua presença equivale a milhares desses pensamentos
De um homem (ou garoto) relutante, irrisório
A se lançar contra a torneira de espadas correntes — seu intento...

Uma pipa é lançada em declínio, carregada pelo vento
De encontro ao não-gravitacional; ao encontro desse solo
Em que produzem ouro e milho, e batata, e chimarrão
Contra “outdoors”, hoje esquecidos, sentidos pela presunção.

O moleque corre atrás de sua pipa, agora respaldada pelas mãos de um frentista
Em aparência educado, lhe confere seu brinquedo (talvez o tenha antes possuído)
É marcante a euforia da criança, colocada novamente a brincar
E ela corre em alegria, detentora de um sorriso e uma pipa.

O observador fica calado...
Seus olhos perseguiram essa pipa.
Os mesmos olhos que choraram por rasgarem sua língua
Por uma gata devorada, a lhe forçar a ter com versos, suas rimas.

Ele não fora tão gênio com as linhas nas mãos
Quanto o é com as mesmas em seus olhos; sob os pés
(Talvez em folhas de caderno,
Seja outono ou inverno,
Em seus quadrantes do Universo...).

A pipa, um dia, ainda em curvas, voará...
E tocará aquela nuvem que formara um coração.

A pipa, um dia, em curvas voará...
E tocará aquela nuvem que retrata um beijo
Do casal de namorados pelas ruas, aos lampejos
Contrastantes ao passado comparável a alcatraz.

Outro garoto se vê dentro da mesma situação —
Da pipa e do beijo
Roubado há exatos sete meses deste ensejo
Em que resgata a velha chama de seu novo coração
(Ao qual cada alegria é novidade...).

Ele passava pelo cruzamento mais famoso da cidade,
Deixava para trás o seu desgosto e o mapa do Brasil,
Seu pensamento, enfim, tocava a imensidão do céu anil
E cada verso seu brilhava nos confins da sociedade.

Profético, homérico, paulistano...
Apresentara-se-lhe o dia que valera por dez anos.
Cumprira, o homérico profeta, o velho sonho paulistano
De andar pela cidade embriagado em seus encantos.

E cada lado compusera uma moeda...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Marmita

a.
Há três anos, descrevi a marmita de um pedreiro
Em seu horário de almoço — alvos talheres, sal, tempero.
Chamava-se Antônio o amórfico inspirador
Que a caneta de um poeta, à prosa intrometido, desbravou.

Hoje, acompanhei a criação de um novo texto
Protagonizado por um novo criador.
Fissurado pela imagem do heróico Arpoador,
Ele demonstra neologismo em se jogar do parapeito.

A marmita hoje é minha,
Fora preparado com esmero pelo meu amor.
Alegria a mim suprema — mais que o Sol sempre se por
A dar local à bela noite de sussurros e autorias.

Cada grão de arroz que enviaste é sagrado:
Acompanha a sensação de cada bater do coração
A anunciar teu pensamento nele a se postar aterrissado
E tua imagem nessa mente me aconchega, me é colchão.

Ah, esposa de meus dias!
Tens sobrepujado vãs tristezas e alegrias;
Tens te adaptao ao novo ritmo do dia
Que o futuro nos reserva em prol de sua vastidão,
Em prol das nuvens entreabertas ao prover de uma paixão.


b.
Um casal é como um filme sem diretores.
A vida, por sua vez, como o teatro e seus atores
Sem saberem aonde estão, aonde irão, em seus temores
Sem ensaios, á mestria, ao crescer de seus amores.

Surpresa é ter o beijo de uma noiva
Adocicado pela essência do amor — maior verdade —
Que se ensaia (a te tomar por minha esposa)
Em coração, teu pensamento a argumentar contra a saudade.

Surpresa é ter um bolo ao chegar àquela casa
(Que me acolhe, me abriga)
Acompanhado pelo sal de uma torta,
Ambos preparados pelo amor em tuas mãos
O qual, de pressentido, arrebentara com portais da solidão.

Hoje, trago teu carinho na mochila
Estendido pelas asas da paixão interior
Sob a certeza de ser teu amor por vidas
Que se erguem sobre os muros do inverno, do calor.

O chão do refeitório engordurado pelo almoço,
Uma barata pela sala é prensada no sapato...
Um casal é como um filme abstrato;
Um casal é como o artista abstrato.


c.
"Como estará meu ombro amigo,
Sim, do qual à aderência tenho alívio,
Pelo qual meu corpo dorme em arrepios,
No qual minha essência busca abrigo?

"Onde estará meu ombro amigo?
Teria com saudades de meus beijos?
Haveria de me ver em seus desejos?
Ou somente é ilusória dor de ouvido?

"Perco-me no sono sem que haja a voz dos sonhos...
Estaria o ombro amigo a trovar pela cidade?
Bradara, pois, pela má naturalidade.
Suas trovas são cantigas de amigo
Que um coração de um poeta leva embora, em si, consigo.

"Ele é banhado pelo esforço, por verdade.
E embora não se sinta á minha altura,
Sou beijada por seus olhos de doçura
A brilharem — bucolismo em meio à arte.

"De mim, alega não tirar seu pensamento.
(Será que é verdade?)
Somente sei que, no passar de meus momentos,
O consumismo de meu ser se dá em forma de saudade".


d.
"Ilex paraguariensis" ao correr de minhas veias,
Bombeares de uma vida a bailar feito correias
Em que, suspenso, interativo, está o amor em refração
Eternizada à constrição dos dias provedores de ilusão.

Parabólica a reter em si meus pensamentos
É a dama a transmitir à minha vida e sentimento
De amar e ser amado a cada criação,
A cada tombo ou alegria, a cada beijo ou arranhão.

Em vez de uma face, esbofeteara um coração.
Não obstante, à (im)parcialidade, empunhara do condão
A proteger o noivo que a ela direciona suas lágrimas
Ao escrever do nobre enredo pelas pautas de suas páginas.

Um livro encantado a que incrementam-se as pautas
Por meio do tinteiro — a simplicidade de um coração
Em que repousam ternos gestos nos quais abro mão de pausas,
A fim de abster o amor da eventual sofreguidão.

O banquete é servido (estou sozinho):
Superior, em amplitude, à citação do chimarrão.
Em seu castelo, a dama cruza seu destino ao do menino
Que, por ela apaixonado, junta as mãos em oração.


e.
É a primeira ocasião, em cinco dias,
Que não serei, pelos teus braços, afagado
Ao chegar ao nosso lar.

Um lar que não mar nem mesmo ilha,
Não está "in loco" algum localizado
No entanto, tão somente, em nosso encontro tem lugar.

Evidente que, aos prantos, o meu rosto tu verias.
Por vezes penso, em vãos momentos, quão feliz ainda serias
Sem que este vagal poeta tu tivesses conhecido,
Sem que a este amor sincero tu tivesses respondido.

Disseste "sim" olhando apenas às virtudes
Às quais o mundo aderiria a unir as vidas desses jovens.
Por outro lado, agradeço por me conferires juventude
A partir do rumo certo ao qual lançamos nossas vozes.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Empréstimo

Velho hábito —
Involuntário...

Traduzir a cada instante o que hoje sinto
Á permanência da surpresa rotineira que envio
Seja em carta, seja em prosa, seja em curvas de teus lábios —
Logo, permitem que meu mundo seja estrado.

Confundo-me entre as pessoas confundidas pelos trens,
Abalo-me por não ser digno o bastante de não ter tudo o que tens.
Sabe, Margarida, tuas pétalas são invisíveis à penumbra do destino.
Entretanto, és fogo em ímpeto; és destaque em meio aos lírios.

Seja em meu lirismo, seja em meio ao Carnaval,
Meu coração é do menino que, pela primeira vez, se apaixona.
Seja em meu lirismo, seja à lira social,
Meu coração se acelera a cada encontro; a cada valsa, me apaixona.

Críticas serão pautadas, feito pés do Sol à escada
Ao passo que verbos divinos, rotulados, formam águas
A afogarem argumentos dos vencidos por fluências em palavras —
Todo o cenário se remonta a cada encontro meu com minhas asas.

O voo é imprescindível — vem a hora de partir
(Empresto minhas asas ao destino...
À tristeza, à saudade...) —
Enquanto o fim do mundo insano se aproxima a me inspirar a ser feliz.