Seja bem-vindo!

"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

domingo, 21 de novembro de 2010

Prova

Ouvi acordes de algum lado,
Dei adeus a um feriado
De que discordo plenamente em função de ideologias
A que sigo fielmente: em vez de dores, energia!

Mas pouco me importa o feriado —
Fiz de sua sequência, do futuro, um preparo,
Pelo qual me fortaleço a cada dia
Em prol de sonhos que traçamos como nosso dia-a-dia.

Estar longe de ti: prova de fogo
Sem ao menos o caderno — meu escopo —
Aterrissa-se-me à mente involuntariamente o soluçar
Às notas de que, em dois meses, sem teus olhos, n'outra prova, falarei ao solfejar.

Quero a convivência do zunido de minhas asas —
Teu amor com teus abraços despertara minhas brasas
As quais, sem minha espera, hoje habitam firmamentos
Em que lemos um futuro — revelar de um momento.

Estar longe de ti: grito socorro,
Pois o brado acalentado em meu coração é fogo novo,
A certeza de te proteger entre as asas de meus braços,
Entre a chuva, entre as asas que promovem os meus passos.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Almoço

Um almoço pode suceder uma manhã apreensiva, em que cada gota de neurônio e paciência está escassa. Um almoço pode suceder a notícia de que um ser seu mais amado está bem, a ser concomitantemente sucedido por uma bronca — quaisquer críticas construtivas...
Recuso-me a comer — estava na rua, prestes a deixar a namorada em sua casa, a fim de prosseguir, ao meu trabalho —; "Vamos comer", insiste ela, "estou com fome e dor de cabeça", diálogo no qual eu interpelava a imaginar que somente comeríamos salgados e guloseimas.
Eis que meu engano é atestado: a um restaurante ela me conduzia. Vimos a Rua Fáustolo, no bairro paulistano da Lapa, se converter em Rua Vespasiano, no que concerne aos passos dados rumo a um novo destino. Embora o número do local não me acorde no momento, garanto que alguns segundos somente nos foram necessários a que a ele chegássemos.
A entrada denotava aconchego, o qual se potencializara pelo "cheiro de fome" àquela altura tão intenso e perceptível! "É por minha conta" é o que o coração daquela dama me dizia enquanto seu sorriso esboçava a cada instante em que nos entreolhávamos. Por fim, entrávamos no restaurante, meu constrangimento em vez de notas de Real em meus bolsos e carteira — por mim, inclusive, pouco utilizada —, afinal o orgulho por vezes sonda os espectros dos quais se originam nossos pensamentos e ações.
Sentamo-nos. As mesas e cadeiras, de fato, remetiam a um lar. "Este restaurante era a antiga casa da família [dona do comércio]", me informava minha amada, agora comparável a um guia turístico, ao passo que eu, o visitante — vislumbrado — descobria cada centímetro daquele paraíso mágico ao qual havia acabado de chegar, cujas paredes verde opaco davam ao pequeno tamanho o tom convidativo de um "Sinta-se em casa". Agora eram dois convites (e o terceiro viria com o acalorado "Seja bem vindo" de um dos proprietários do recinto). Irrecusável! Cada funcionário, às alegrias, atendia a seus clientes com melhores dos sorrisos a lhe colorirem os cenhos.
Algo interferiria em meu encanto: ao me sentar, notei algumas pequenas folhas debaixo da cadeira e da mesa. À hipótese de serem restos de alimento preparado, ponderei acerca de ali repousar minha mochila. Atitude pequena e medíocre do garoto que logo faria o melhor almoço de sua vida — talvez as folhas tivessem sido trazidas pelo vento, numa tentativa (bem sucedida) do Universo de informar que devo abrir minha mente. Mochila repousada.
A comida chegava. Trazia carinho consigo. Ao lado de uma fantástica mulher, eu me alimentava entre goles de refrigerante, ao romantismo rebuscado. Embora industrial, a Lapa sempre me inspira um clima de séculos XVIII e XIX, perfeitamente endossado por aquele momento, o qual jurei prolongar por toda a eternidade, em futuras tentativas de lhe extrair réplicas perfeitas (ou, ao menos, quase perfeitas...)

sábado, 13 de novembro de 2010

Invasivo

Ao lado fabril e febril da cidade...
Nossos corpos aliciam-se entre si,
Tuas boca e malícia vêm a mim
A prover de teu sabor — louco enxame de imagens.

Tu te escorres entre o quente dos meus braços.
Entre vontades em teus passos,
Me entrego em meu silêncio a teu calor
Mais intenso em densidade que os vinhos e o licor.

Tu te ergues, logo desces —
Investida invasiva em que te perdes
Ao contato de tua pele, em ti, me prendo...
Distante do nascer do Sol, sou teu ensejo.

Urros e sussuros...
Não ligamos — absurdo!
Em teu ouvido, meu deleite obtido.
Te contorces em meus gritos favoritos.

Por fim, és invadida.
E te vestes com meus tapas e flechadas.
Promíscuo, em teu amor, te agarro nua
A cada grito de prazer que chama a Lua.

Nossa chama não se apaga.
Olho, de teu rosto, mais brotares de desejos
(Invasão de méis e tapas):
Suja, finalmente, está a fonte de teus beijos...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Definição

Será que ainda estás?
Será que ainda és?
Não sei o que me faz
Clamar pelos teus pés.

Despedi-me de tua mãe neste domingo.
(Cruéis horários do transporte público...)
Ah, como eu a amo!
Lança sobre nós o teu encanto.

(Voltei, reencontrei-te...
Ao ventre da mais sagrada das mulheres.
Ela me esperava, fingia que não...
Eu acalentava versos em meu coração.)

De ti, jamais desejarei sentir saudades.
Portanto, permanece ao lado meu.
Sabes que és, de nossas vidas, a metade.
Vence, pois, as intempéries... Repousa em braços meus.

Perdoa-me por tudo...
Perdoa-me pelas palavras,
Perdoa-me pelos absurdos,
Perdoa-me, outrossim, por te ter deixado no escuro.

Reclamei de comprar fraldas,
Reclamei por ter um lar,
Reclamei por ter escalas,
Reclamei por me casar...
Hoje tudo isso é o que mais quero!
Acredita que teu pai te é sincero...

A águia mãe treina seus filhos —
Do penhasco, os derruba.
"Aprendei a voar!",
Brada-lhes em meio a nuvens taciturnas.

Se uma delas não o aprende,
A mãe confia em seus instintos
(A saber que existem, inexistem)
E mergulha em tom rasante pela vida de seus filhos.

Quanta rigorosidade!

No entanto, não sou digno ainda de, a ela, ser comparado.
Somente me permite recorrer a alguns passos,
E permite que, de tua mãe, eu roube certo trecho
Desta linda alusão, a tua vida por desejo.

Prometo acompanhar cada passinho,
Prometo ensinar-te cada música,
Assim como prometo vencer junto contigo,
Como ao teu lado estar presente, ao calor de cada luta.

Deixa que eu termine cada carta,
Deixa que eu te torne meus poemas,
Deixa que eu chore a cada fala
De teus lábios, ao romper de teus dilemas.

Tenta olhar para mim...
Não morre, meu bebê...
Vive!
Ensina o teu pai a ser feliz,
Caminha junto de teu pai e sê feliz.