Seja bem-vindo!

"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Café-com-leite

[Um pedido de paciência...]

Ganhei uma só trégua da bebida tão cheirosa.
Caí de para-quedas, fui expulso de sua mora
E do leite com café não mais restou uma opção
Ainda bem que fui tratado pelo som do chimarrão.

Quando se organiza uma casa, os avessos dão-se aos lados
De quaisquer que sejam temas — sejam réguas ou compassos —,
De qualquer que seja o ângulo formado pelo esquadro,
De qualquer que seja o curso que o amor tem ministrado.

Assim surge uma família — tudo errado e ao contrário —,
E assim vinga a rebeldia (:) do prazer de ser otário
Por morar em nosso ar e dar, ao sonho, a porta aberta,
Por morar entre as paredes de um alguém que me detesta.

Quer ser café-com-leite nesse jogo enlouquecido de formar família.
Quero ter braços direitos nesse raio estarrecido de usar mangas compridas.

Chega!
'Tô de saco cheio!
Eu deveria ter nascido sabendo?
Não é correto que esteja aprendendo?

É errado que eu seja egoísta
Se, por esse dom, percebo e dou calor à nossa pista
De asfalto enregelado de ternuras tão concretas
Por janelas descobertas pelas portas entreabertas?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Evoluir I

Entre refúgios e pedidos de desculpas,
Há trajetos, objetos, que a mente nunca estuda
Além dos atalhos, "além dos outdoors",
Além do que é dito tão somente pela voz.

Eu trago o meu jornal para o trabalho,
Mas não posso ainda ler o que, no mundo, há de errado.

Escolas de samba,
Andar na corda bamba,
Mentir com as verdades,
Correr pra ser metade.

Baterias de uma filha
Nos desenhos e nas linhas
Dos cadernos confidentes
(,)
Do chocalho da serpente.

O processo de recuperação dos créditos perdidos...
Algo mais que matemático, além de uma cobrança.
Quebrei.
Fiquei inadimplente nesse jogo do amor.

O progresso da contínua imigração dos hábitos sortidos
Que eu uso pra verter à luz de nossas esperanças.
Chorei.
Não existe "codinome", nem que seja "beija-flor"...

E já volta a saudade
Do sabor de ser metade.

Via Láctea

Cobrança realçada de valores ancestrais
Ocultos às palavras de amores desiguais.
Por que que o falar ficou tão fácil?
Mais fácil que o saber
Ignorante ao perceber.

Cobrança realçada por valores ancestrais,
Pela chuva de uma cinza de cigarro
Que comporta mais pessoas que meu carro
De promessas indiretas — todas éticas, morais.

Referente a telefones de contato,
Há tristeza em meus dias quando não são do teu lado.
Contigo, avançarei —
Panta rei
Oásis no deserto;
Via Láctea em meio ao inferno...

Percorremos novos campos de um deserto mais que velho,
Nos perdemos às imagens de Universos paralelos.

Cão sacrificado

Sociedade que sustenta o consumismo
E nos marca, à flor da pele, os arrepios
Da injustiça averiguada, atualizada do passado
Dos heróis que não existem e fomentam nossos fatos.

É claro que a história vai além do que é memória —
É função que me enrijece à solidão da "micro-stória".
Solidão de nossa dupla, "braço forte"¹, General.
Escuridão da noite acesa à expressão do temporal.

Eu quero que alguém me relacione ao mundo inteiro
E aproveite, de lambuja, pra deter meu pesadelo
De que tudo que se ergue se transforma em espécie
Em tudo aquilo que carece de mudanças ou estepes.

Um pobre cão ataca alguém.
Mata.
Seus olhos perseguindo a ameaça de uma espada.
Seu dono é o culpado —
Dá risada
Por não ser jamais punido,
Por não ter junto ao porão.

E a culpa sempre cai no menos forte,
Pois a força se confunde com desordem, malandragem.
E o eco do disparo fere o forte,
Pois o forte de verdade não se cresce em reportagens.

Até quando esse País se valerá do seu destino?
Até quando aqueles olhos seguirão sendo punidos?

O cão que sente falta do carinho, do afeto.
Que aprende a matar, a atacar um vento cego...
O cão que sente falta de amor, de proteção
Pode ser ferido pelas balas. O seu corpo pode ir ao chão.

Pútrido, hipocentro recanchista!
(E é preciso que o epicentro se coloque às prontidões...)
Não é a pena-de-morte 100% proibida?
Qual a diferença entre o homem e o cão?
A diferença está no fato de não termos coração...

In memorian
A todos os fiéis companheiros
Corrompidos pelo exagero
Desses "donos" que têm medo do espelho.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Falta de ar 6815

O mendigo passa em frente ao "Shopping Center"
O povo acha isso tão normal, tranquilamente.
Fama, lixo e poder
Nos ensinam os valores que jamais queremos ter...

Estou preso, mãos atadas, por minha falta de ar
Que me impede de ter sonhos, que me impede de gritar.
Outro mendigo caça luxo numa esquina
E mais um cara se assusta com uma menina
Que pergunta pra ele as horas;
Diz que não sabe e vai embora.

Chave e fechadura que não param de girar
E me deixam vulnerável ao brindar e ao falar.

Muitos carros se parecem com o da minha sogra...
Por quanto tempo ainda serei alvo de chacota
Dependendo de um camelo pra me locomover,
Dependendo da voltagem pra chegar até você.

Ninguém nunca será igual a alguém
Numa terra em que a destreza fica aquém...

Passei pelos lugares onde estive com você
E nenhum deles me indica onde é que eu te encontro,
Pois a mundos diferentes, campo neutro não existe
Como a dor — minha saudade — que da sua voz consiste.

Ninguém nunca será igual a alguém
Numa terra em que a destreza fica aquém...

O frio VI

a.
'Tá tão calor no mundo todo...
Pelo sabor dos desaforos
Afagados pelas mágoas e angústias
Provedoras de uma busca absurda.

Absurdamente sem sentido...
Absurdamente "sem noção"...

Mas o frio ainda aquece a saudade
Que impera sobre as cores da cidade
Resultante, relutante em não ter cor,
Salpicada em temperos sem sabor.

Daqui de onde estou, escuto a música em tambores.
Onde quer que eu esteja, superou seus dissabores.
E, pra ser muito sincero, já não sei aonde irá
A batida em tom honesto de jamais voltar atrás.

Calor de só quarenta graus.
Por que só eu não sinto?
Estou perdido em maus lençóis,
Cadê o amor de que preciso?

Ela vem ao meu encontro,
Em tom romântico, galante...
Ela retira os meus assombros
Com seu sorriso radiante.

E eu espero em meus romances
Pelo mais perfeito instante...


b.
Hoje passei fome num contexto literal
(Chorei feito criança sem vestígio teatral),
Pedi por uns trocados pelas ruas da cidade
Que se forma pelo bairro que retém minha saudade.

Talvez eu seja estranho e tenha um quê de "kamikaze",
Talvez um simples vento fornecesse liberdade
Desde que pudesse ser soprado pela boca
Da mulher de minha vida, que me deixa sem escolhas.

Escolho nunca ter de escolher.
Escondo-me às trincheiras do viver.
De meu carinho, planto e vivo; dou adeus ao meu castigo.
Aos importantes empecilhos que nos cercam, damos visto

Pra que partam nús em direção ao Sol...
Pra que tragam luz à escuridão do meu lençol.

Em meio à fome, me senti pedir esmola
E deram mãos sem mão beijada
Ao plano índigo da estrada.

Construção que me servira de escola
E dera força à brigada
Contra o incêndio das palavras.


NOTA
(E um saco de pipoca doce satisfez a minha fome...)

Inspiração

Pela manhã, ao ouvir minha mais nova canção,
Mamãe arquitetara dificílima questão:
"De onde vem tamanha inspiração?"
"De onde vem tanta ideia?"

Vem do que é desimportante,
Dos detalhes,
Do que nos passa por batido
Daquilo a que ninguém dá atenção...

Por vezes, de loucuras ou asneiras;
Por vezes, da chatice corriqueira.
Mas o fato é que eu falo do meu muro vulnerável,
Seja ele uma asa-delta, uma cama, um metrô...

Faço-me valer por engenheiro,
Finjo que me sinto estrangeiro;
Agarro-me ao gosto indelegável
De passar por muito frio sem recorrer ao cobertor.

(Decerto, o cobertor também ajuda,
Quando nunca se tem algo a fazer...)

A inspiração pertence à respiração;
Pertence ao sangue que corre às veias que não pertencem a mim.
Revolta iniciada à justiça injustiçada;
Acordes planejados aos degraus de uma escada...

Se eu pudesse, enfim, dizer o que me inspira a escrever,
Eu diria que é a vontade de se autotraduzir,
Por mais que seja errado, por mais que nunca dê.
Há muitas das lembranças que tento reproduzir.

(Decerto, o passado me ajuda,
Mas é sede de futuro que me leva a escrever...)

Correspondido

É tão difícil nunca ser compreendido.
É tão difícil nunca estar arrependido.
É tão difícil nunca terem entendido

As profecias, ameaças,
Ou falácias do meu ser...

Foi tão difícil nunca ser correspondido,
Mas o amor chegou
E nos proclamou
Os donos desse mundo, os "micróbios do Universo"¹.

Eu preciso me apegar ao novo jeito.
Eu preciso resgatar os meus anseios
E travessuras de criança, traduzidas por lembranças
Que eu quero que existam — mais remotas que a infância.

"E o Fascismo é fascinante,
Deixa gente ignorante fascinada"².

Mas...
Acostumar-me-ei
Só pra ver o seu olhar de novo,
Acordar tão claramente,
Pra entender o Sol Nascente.

"Legislação, normas e procedimentos..."
(Novas coisas como sinergia):
Como isso me irrita!
Por mais que a educação nos enriqueça o treinamento,
Há coisas mais do que importantes que nem são tão percebidas.

(Pra completar, ainda há gente que nos mata:
São pontes que separam e delatam
E se valem de estratégias e de réplicas de afeto,
Como facas pontiagudas — como déspostas sinceros)³.

Foi tão difícil nunca ser correspondido,
Eu tento valorizar o nosso amor
Que nos proclamou ao seu Congresso:
Somos herdeiros desse mundo — os "micróbios do Universo".



NOTAS:
1. Alusão à música "Micróbio do Universo" da banda "Pão com Manteiga";
2. Música "Toda Forma de Poder". Banda "Engenheiros do Hawaii". Compositor: Humberto Gessinger;
3. Algo pouco importante que tenta destruir o meu noivado...

O frio V

Lembro-me de ter, um dia, defendido
Que o fim de alguma coisa nunca mais teria fim
E, de começos, eu riria, ao Sol de um pântano perdido
Que voltasse à minha vida e à nevasca desse um fim.

"Eu gosto do frio. Não gosto é de sentir frio"
Fora o que disseste em mais um triste caminhar
(Eu concordo).
Eu nado nesse rio de sons e pálpebra
E fios
De várias redes de contatos que induzem meu olhar.

O medo só passa a partir do momento
Em que nos damos conta de que ele é medo.

Olho por completo ao novo rastro — hemisfério
Que tu deste ao meu mundo nesse frio de tons sinceros.

"Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo"¹.

Quantas blusas eu vesti a fim de ver o teu sorriso.
Esqueço quem eu sou e também perco o meu juízo.
Essa noite foi terrível: não deu nem pra cochilar
E o frio 'tá mais preciso a cada volta do luar.

Por que o frio se decidiu em se aquecer?
Sem você é impossível...
Sem você não dá pra suportar...

Mas um besouro infalível
Nunca deixa de voar
(Mesmo que não queiram;
Mesmo que impeçam;
Ou mesmo que proíbam...)


NOTA:
1. Música "Cuida de Mim". Banda "O Teatro Mágico". Composição: Fernando Anitelli.

Funeral

Posso, amor, sair e nunca mais voltar?
Queria que houvesse um funeral ao despertar
Dos primos raios da manhã de um só dia
Inaugurado pela chuva que alivia.

Parece que esqueceste toda a vida tão sem fim.
Parece que miraste todo o ódio sempre a mim.
Só quero entender qual é o motivo dessa mágoa;
Só quero que tu largues este vício que te mata.

Qual é o problema de viver, de ser feliz?
Qual é a tristeza que contou dentro de ti?

Vive de saudade; não te esquece da verdade
Desses dias que viveste para mim.
Vence essa vaidade; aprofundo-te a verdade
Até que juntos, pois, criemos lar feliz.

Não me nego a relevar a intolerância;
Não me nego a utilizar da jactância
Desde que essa meta seja a te ver sorrir;
Desde que os alertas não me deixem mais partir.

Pensando no futuro,
Espero não morrer até que eu veja o amanhecer
De nossa glória do futuro,
Simples glória de viver...

Nuvens do passado

Quando você fala dos meus mestres idiotas,
Digo que não é escolha ou mesmo falta de opção.
Nem, ao menos, é desejo de viver somente agora —
É ternura que me agrega e arrebata o coração.

E seus aprendizes que não custam nem um dólar?
“Quem eles pensam que são?”
Sempre lhe pergunto o que houve à sua porta
Pra que tudo que há de errado nunca tenha seu perdão.

Por que nunca me conta o que houve?
É grave tudo aquilo que ainda ouve?
É forte meu desejo de sonhar, de proteger;
São fortes os caminhos que levaram a você.

Não me abandone;
Não se assuste se eu pergunto do passado.
Não se abandone;
Não se ofenda pelos choros em que nado.

Perto dos três meses de revanche,
Vejo que viramos nossa mesa.
Sobre arquiteturas e desmanches,
Nunca mais nos preocupamos se haveria sobremesa.

Pois amamos um ao outro.
Juntos, fomos borboletas e besouros.
E seremos pela breve eternidade
Os faróis que ainda vibram às cidades.

(Re)Conciliação

“Hoje eu acordei mais cedo,
Tomei sozinho o chimarrão...”¹
(Humberto Gessinger)

Eu não sei dizer a mesma coisa —
Espero que entenda.
Egoísmo não faz parte do meu jogo,
Então me entenda
Quando lhe pergunto o que sente, o que pensa;
Quando eu lhe digo que brigar já não compensa.

Dormi sem poder ser desculpado.
Dormi por não mais ser interpretado.
O sono encurtara boas horas do meu dia —
A noite prolongara suas garras, reerguida.

Eu não sei fazer a boa escolha —
Espero que me defenda
Quando eu não for capaz de me levantar sozinho —
Peço, então, que não se renda.

Deixar de conversar não mais iria resolver.
Deixar de conciliar foi grave erro abstrato...

Por que me levantei se já não sei ficar a cordado?
Ao fim de tudo, ainda sei que ando errado,
Mas o tempo me corrige pelas mãos de minha dama.
E você, minha princesa, me educa e acalanta...

Por que não me indica?
Por que somente aponta?
Por que sou egoísta?
Por que o amor não conta?

Por que ainda tem vergonha
E não me deixa conversar?

Mas eu sei que ainda me ama
E, por mais que seja errado,
Alimentamos nossa chama
E o Universo nos proclama
E a juventude ainda nos chama...


NOTA:
1. Música "Illex Paraguariensis". Banda "Engenheiros do Hawaii". Composição: Humberto Gessinger

Amor subliminar

O nunca sempre está do lado
De quem luta e se dedica integralmente
Entre as curvas absurdas do teclado
Relevado pelas súplicas da mente.

Visto que o tempo em mim, é pouco,
Dá pra me escutar, ao menos neste vão segundo?
Visto que um sorriso, a eles, sempre é muito pouco,
Dá pra vir comigo ao som de máquinas e mundos?

Luxo da pobreza
Versus lixo da riqueza...
Posso ser o “x” dessa questão?

Fontes de riqueza
Envoltas pela “star” pobreza...
Posso ser o “braço” em contramão?

Está errado defenderem o passado
Se este não importa mais...
Está errado o romper de nosso laço —
Nosso pacto perene de amor subliminar.

Que resgatem parabólicas no tempo,
Que eu impeço nossa dor com sofrimento.
Unidos, estejamos antenados aos nossos melhores momentos,
Só pra ver o que é futuro, só pra ler um pensamento.

O frio IV

O que há de tão errado em ser completamente errado?
O que há de tão errado em viver sem nenhum trago?
A “stória” fica cada vez mais suja.
A rua de tua casa, cada vez, ‘tá mais escura.

O teu medo do frio — em proteger — me arrasou.
Voltei sozinho, sem destino, à velha Pátria do gatilho...
Toquei piano em nosso bar pra espantar esta saudade,
Mas deu tudo errado:
A nossa música é o que meu coração tocou...

Desde então, estou sozinho sem saber o que fazer...
Não querem que façamos outra coisa além do nada.
Valeu pela bolacha em meu estômago.
Valeu pela bolacha em minha cara.

Você cedeu ao que nos dividiu,
Cedeu ao certo e às coisas que acontecem de verdade.
Tetralogias que não têm nenhum sentido
Fecharam minhas noites que não ouvem o meu grito.

Valeu pela bolacha em meu estômago.
Valeu pela bolacha em minha cara.

Sei que me ama,
Mas você cedeu àquilo que nos agredia...
Só que, agora, o frio que cai é de verdade...

(Porque...)

Noites hawaiianas no deserto da cidade.
Súbita lembrança acolhedora da verdade
De te ver e de viver,
Do meu lar e de sonhar,
De correr pra ver você.

Ontem eu nasci à escuridão da luz pacata.
Hoje eu rolei pelos degraus de nossa escada,
Mas eu luto e refuto pra te ver...
E eu driblo infortúnios pra te ter...

Por que precisam censurar?
Por que precisam apagar a nossa luz?
Por que precisam apagar a nossa chama?
Porque precisam roubar a nossa artimanha...

Gurias que somente conhecemos
E gurias que mudaram nossa vida...

(Cidades foram feitas pra não serem tão perfeitas...)
(Cidades foram feitas pra não serem imperfeitas...)


NOTA:
“Braço” da música “Noite %”, de minha autoria.

Noite %

Pavor por não me ter apavorado...
Seria eu um simples cara insensato?
Há verdades que parecem nunca ter acontecido;
Há intrigas,
Há razões,
Há mentiras...

Quando dizem que a luta é o que nos salva
Alguém já ganhou sem não ter que se sujar.
Quando dizem à cabeça que não saia do lugar
É que querem os seus pés presos no chão.

A noite é mentirosa se não tem amanhecer.
Seu rosto e seus olhos vêm correndo pra me ver.
E o dia amanhece
E o vento se esquece
De toda a juventude que faria o céu tremer

Nunca dizem que a palavra é o que nos salva
Porque ninguém aceita um mundo feito de poetas.
Quando dizem a você que não viaje,
Não querem que a cabeça vá às nuvens;
Nunca mais querem te ver sonhar...

A noite é mentirosa se não tem amanhecer.
Seu rosto e seus olhos vêm correndo pra me ver.
E o dia amanhece
E o vento se esquece
De toda a juventude que faria o céu tremer.

(Sofrimento...
100%; Quebra-cabeça...
Sentimento; Noite adentro...
Noite-por-cento...

Eu amo você,
Pois você me faz sonhar...
Ainda ‘tá pra nascer
Qualquer coisa que nos possa enfrentar...)

A noite é mentirosa se não tem amanhecer.
Seu rosto e seus olhos vêm correndo pra me ver.
E o dia amanhece
E o vento se esquece
De toda a juventude que faria o céu tremer.

Traição

Sim, meu amor, nós fomos traídos.
Nem pelas palavras, nem por força do destino
E sim pelas pessoas que nos foram tão queridas
E fizeram com que nossa voz fosse bem quista.

Preferia ser traído pelo Governo;
Preferia ter um baixo desempenho
Às loucuras, às chatices, aos encantos terminais
Dessa chuva, puro eclipse — ilusões fundamentais.

Pessoas criam e constroem;
Impedem-nos de desconstruir...
Planetas giram e corroem
Toda a mente que não quer submergir.

(Tomo mate pra não levar o Xeque-Mate...)

Ardores quentes, tropicais,
Do antigo lar dos Generais.
Teores métricos, rivais
Da nova mente dos iguais.

Esfaqueamento não seria mais tão grave
Quanto o agudo da agulha que deixou nosso palheiro.
E proíbem da maçã e da metade
E da sólida textura que saíra do tinteiro.

É mais fácil viver dessa cidade(,) do dinheiro
Que correr em menos tempo a curtir um bom celeiro.
É mais fácil ter com dúvidas e medos
Que quebrar a garantia por um mundo por inteiro...

O frio III

Cem homens até conseguem
Erguer um acampamento,
Mas haja uma mulher
Para que qualquer lugar possa ser um lar...

E meu lar, pensando assim,
Aos poucos, deixa de ser lar.
Coração, dizendo sim,
Sabe que o meu lar já se tornou qualquer lugar.

Pensando bem,
Sem ti, nunca foi lar...

Roupas encharcadas de brinquedos;
Regras insolúveis aos espelhos...

Não quero aprender a ter saudade,
Pois, quando for para fazê-lo, eu não mais precisarei:
Contigo, fico vivo. Contigo, casarei.

Cobertores são inúteis,
Pois impedem ventos fúteis.
O que importa realmente é inevitável —
É o frio que faz e bate
Às juntas deste besouro indomável.

Ditadura

Uma pessoa no inferno,
Outra pessoa no céu;
Um cidadão de chinelo,
Oposto à noiva de véu.

Religiosos que se passam por ateus
E vice-versa.
Criminosos que criam o seu Deus
Além da espera.

Uma pessoa no inferno —
A mesma pessoa do céu.
Várias facetas que prezo —
Abelhas que trazem meu mel.

Nem toda ditadura é 100% ditatorial.
Nem toda boa conversa é por domínio territorial...

Sorte ou azar...
Você brincou com sorte, com azar.
Sete caras que me deram a coroa,
Que reluz em minha mente, no meu jeito de pensar.

Não quero perceber que fui traído
(Então me conte).
Faça os seus versos bem, comigo
(E os remonte).

Contudo e sobretudo,
Saiba que eu a amo mais que tudo.

O frio II

Mais um dia que acaba bom
Por eu ter visto minha doce dama.
Mais um livro que se fecha, leve,
Quando me deito exausto em minha fria cama.

Enquanto uns habitam nuvens sem ao menos terem voado,
Há as nuvens que esquecem como haviam trovejado.

Mercados cheios, vidas tão vazias.
Um só carteiro que procura uma palmilha.
Países que “batalham” por justiça
São quadrilhas que nos roubam à luz do dia.

Contudo, eu sigo em frente
Sem olhar a um só lado
A fim de me perder em acidentes
Que combinam com o Lá do meu teclado —
Reluzente, tão somente, em tom brilhante;
Tão oposto à luz vermelha dos flagrantes.

Idiomas que se perdem entre o nosso;
Amazonas que se perdem no que é nosso...
Lugares que não levam a lugar nenhum;
Coisas que se perdem se haver motivo algum.

Mais um dia que acaba bom;
Que exige que eu use um edredom
Visto que tua ausência contamina minha sede
Da conjunta iminência que procede
Em prol do frio que, pela noite, contagia —
Pela noite em equilíbrio do pós-dia...

Falta ou saudade?
Talvez nenhum dos dois.
Pois quando se vive sem sentir a outra metade,
Em saber que está longe e só se chega bem depois,
É difícil ficar vivo...
É difícil ter abrigo...

Eu só quero ter mais tempo pra dizer que eu te amo;
Eu só quero dar um tempo a esse tempo tão gritante.
E, mesmo que precise dar um sopro ao berrante,
Quero sempre que tu saibas que, por tua vida, eu chamo.

Apartheid II

Um time que tem onze atacantes,
Em que nenhum deles sabe ser um centroavante.
Máquinas de guerra no lugar das de escrever,
Mortes irrequietas insistentes em dizer
O que fazer pra se manter;
O que manter para viver.

Redações que não se apegam a seus temas
+ Canções que não se apegam aos fonemas
Sob um mundo regulado por problemas valvulados
Sobre erros ministrados pelo mundo regulado.

Permanecer sobre esse muro é uma escolha
Necessária desde a era “Guaraná-com-Rolha”,
Explanada por um livro que, sem folhas,
(Que soube mais que um só livro de cem folhas;)
Ensinou a poesia de cem folhas;
Chamada vida com desejo de vingança,
Estarrecida pela falta de união.

Sobrevivo à nossa pira de matanças
Sendo errado sem deixar de ter razão.

A Guerra Santa é menos grave que uma dança
Coreografada por quem mata por matança;
Coreografada por quem perde a esperança;
Protagonizada por quem cede a liderança.

Por que não nos ensinam a vencer?
Por que nos incentivam a sofrer
Em vez de nossos dons, com muito esmero, compartirmos
A quebrarmos nossas pontes que ligavam ao destino?

O tabuleiro já deixou de ser xadrez;
Damas corrompidas, transformadas em turnês...
O piano já perdeu seus acidentes
E, com teclas desiguais, está ganhando muitos dentes.

Um time sem goleiro é como a zaga sem zagueiro.
Um ríspido guerreiro é um fumante sem isqueiro.

Sem desigualdade, que juntemos as metades
Da laranja tão mecânica — a máquina das artes —
Sem ter posições — decorações —, num carrossel,
Vimos, nesse instante, ao “plus” da chuva que, do céu,
Mostra que um time só precisa de um esquema
E que tudo nessa vida pode, em si, virar poema.

Nossos momentos

Vamos já valorizar nossos momentos,
Pois, a cada micro-instante que se passa nas estradas,
É brochura de caderno que anuncia sofrimento
De viver para morrer sem deixar uma só carta.

Como deve ser morrer sem dar adeus?
Como deve ser a fé do nosso solo ateu?
Dúvidas eternas de uma mente tão sincera
Que se apaga noite afora sem apegos a promessas.

“Promessa é dívida”...
Aprendi — era uma vez — que é papel de vigarista
Que não paga por desprezo, até mesmo à fantasia.
Promessas sempre são feitas pelo forte devedor
Que destrói a todo o mundo e recorre ao seu Senhor...
(Adianta?)

Velhos frutos, contrabando,
Vêm armados com tamancos
E com saias das mulheres encharcadas de “idéias”
Cuja força feita às pernas dão inveja a centopéias.

Vamos já valorizar nossos momentos,
Pois a estrada, de repente, pode ter seu fim.
Com isso, nós perdemos movimentos.

Juntos dela, que driblemos nosso fim.

Apartheid I

Talvez eu seja "hippie" e creia em música holandesa,
Por mais que seja esfinge a essa Pátria natureza
Nesse mundo que não gira, em que pagamos pra pagar.
Nessa "terra das palmeiras",
"Onde canta o sabiá"¹,
Há domínio e estranheza,
Ninguém chega a algum lugar.

O metrô é um velho exemplo desta nova decadência:
Deixamos que exista os bancos preferenciais
Em troca da preguiça de não ter pela presença
Dos iguais ao nosso lado — dos iguais tão desiguais.

Por que não educar o bravo povo reprovado?
Por que não preferimos a nação a um Estado?
Qual será o sentido de bradar por "Pátria livre"
Se a frequência desse sonho, com frequência, não existe?

[Memórias de um jovem
(Memórias tão remotas...
Que não são decerto póstumas...)
Memórias de quem não tem memória;
Memórias de quem quer virar memória;
Memórias de quem quer pintar a história:]

A Guerra Santa é menos grave que uma dança
Protagonizada por quem mata esperanças,
Coreografada por quem nunca vê ninguém;
Coreografada por quem nunca amou ninguém.

O "Apartheid" começou num banco cinza de metrô
Que não vê utilidade no espelho retrovisor.
Segregamos semeando egoísmo;
Democratizamos ocultando o lirismo.

Vestimos este bom sapato
E compramos mais cigarro
Tão felizes por bom grado
E por sermos tão otários...

"Apartheid" que reparte as metades desiguais;
"Apartheid" que renasce em nossos velhos tribunais.
Há quem o critique nas tevês e nos jornais,
Desmentindo seus segredos de vender comerciais.

(Saber e criticar não chega perto
De fazer, colaborar, de peito aberto!)

Velhas novidades de quem preza as cidades
Mórbidas, inóspitas, doutoras da verdade.
Onde estão as valsas e os defeitos?
Onde estão as rosas e os erros
De nossa velha língua portuguesa?

O tabuleiro já deixou de ser xadrez;
Damas corrompidas, transformadas em turnês...
O piano já perdeu seus acidentes
E, com teclas desiguais, está ganhando muitos dentes.

O piano já perdeu seus acidentes:
Tonalidade descoberta, desonesta, que dá Dó...
A ternura já sofreu seu acidente
E cavalga solitária, sem que veja a luz do Sol...


NOTA:
1. "Canção do Exílio". Gonçalves Dias.

Seleção

Seleções brasileira e de emprego,
Empregos ostracistas, passageiros.
Há eternos, indiscretos;
Há discretos como insetos
Que demonstram pela sombra sua grandeza
De sentidos pluriformes — correntezas...

Meu amor ficou em casa, esperando boas novas
Que não sejam só boatos, que produzam boas notas
Rompedoras do silêncio indeciso — solidão
Sucessora do desprezo, provedora da emoção.

Agora que eu te tenho,
Eu te digo: tu me tens.
À tua súplica, eu venho
À esperança que me tem.

Longe, aqui, te sinto,
Como é sádico o destino...

Insistente em separar alguém que ama
Do amor de sua vida à semana
Crucial, fundamental,
Amarradora de projetos.
Mas eu sei que penso em ti.
E, pelo teu amor sincero,
Trabalho arduamente sem ter medo de errar.
Contra ríspidas correntes, vamos juntos nos levar.

Seleção de emprego(,) de fachada,
Seleção de prédios e escadas;
Seleção de futebol,
Seleção de celular...
Solidão do meu lençol
Que te espera em meu lar.

Pra quem acha que o mundo não tem + jeito

Pra quem acha que o mundo não tem mais jeito,
Abrirei meu coração a revelar alguns segredos
Que garotas não colocam nos diários
E que a gente nunca guarda no armário.

Há problemas que precisam de um só número,
Há poemas que só querem uma letra,
Há transtornos que só pedem o intuito
De jogarmos num só time, hasteando a bandeira
Que nasce com um rasgo de garganta
Detentora do silêncio e da nossa implicância.

Pra quem pensa que o mundo não tem mais jeito,
Basta carregar um grande amor dentro do peito;
Alegrar-se pela chuva de "bubuias" d'uma "stória"
Descoberta pelo tempo que não é mais só memória.

"Viajando a trinta mil quilômetros por segundo"¹...
Fálicas ternuras estridentes ao sussurro
De quem acha que, de fora, é capaz de ver o mundo
E mudá-lo pr'o melhor da nossa Terra do escuro.

Deixemos que a mente obedeça,
Deixemos que a bondade prevaleça,
Deixemos que o coração reveja
Os conceitos de ternura, de relance, de certeza.

Deixemos que a mente não se esqueça
Deste Blues que de poema já foi letra
E, hoje pela música, vem junto da certeza

De que o amor faz deste alguém um bom profeta
De anúncios de revista, pisca-alerta
Sugestivo de uma porta entreaberta
Que demonstra nosso sonho de outras eras.

Mas, pra quem acha que o mundo não tem mais jeito,
O amor nos leva à vida,
Que retorna, por sua vez, ao nobre amor.
As lágrimas e vozes incontidas
Nos ensinam seus desenhos de esplendor.


NOTA:
1. Música "Cavaleiro Lancelot". Banda "Pão com Manteiga". 1976

Magnetismo

Talvez o divórcio doa menos do que eu sinto
Por ser tão corroído ao vir de cada despedida
Que eu valso tristemente em meu caminho
Demolido pelo tempo que te leva à tua vida.

As leis da física ensinamo o que ganho
Com teu toque, teu sorriso — toda a fonte destas rimas.
Quanto aos muros que se erguem para unir o nosso espanto,
Não são fortes o bastante para deterem a alegria
Que eu sinto ao te ter;
Que eu quero ao te querer...

Quedas roxa e fome azul nos permitiram
Refletir por quê amamos e ter tempo para sorrir
Defronte a leva de problemas que, de fato, existiram
A beirar toda a saudade que eu tento reprimir.

Magnânimo romance que demonstra que eu amo
Longe desses magnatas que desdobram todo o ano.
Entre as redes eu me ergo feito o teu magnetismo
Que nos faz tão permanentes entre árvores e circos.

Sinos de concreto, cantigas de algodão:
Ou mentira sincera em que renasce o coração.
Chegas sempre como eu retorno sempre a ti
Por toda a vida que se estende em prol de sempre ver florir.

O besouro e a borboleta

Oito maravilhas, sete anos de azar;
Nove consciências, oito ventos — uma chance pra tentar,
Do sândalo, domar uma maré,
Do pântano, querer um jacaré
Que nos treine, que nos ache neste híbrido embarque,
Nesse tempo relativo, tão difícil de aceitar.

Sangue de auforria, mar de sangue que se monta.
Nove autorias — com teus olhos, me dou conta
De que a fé move montanhas e nos mostra a esperança.
Um verme, às entranhas do leão, faz a sua dança.
Eu te amo mais que tudo, mais que a mim, mais que à verdade,
Mais que à chance deste sonho, tão difícil de encontrar.

As melhores pessoas do mundo
Estão do seu lado
E as asas que levantam borboletas
Nos protegem dos estragos.
Como mágicos besouros,
Nós voamos contra a natureza,
Mergulhamos e peitamos a certeza
De jamais sermos tratados como iguais.

Sangue de auforria, mar de sangue que se monta.
Nove autorias — com teus olhos, me dou conta
De que a fé move montanhas e nos mostra a esperança.
Um verme, às entranhas do leão, faz a sua dança.
Eu te amo mais que tudo, mais que a mim, mais que à verdade,
Mais que à chance deste sonho, tão difícil de encontrar.

Sou uma lagarta
E você, meu par de asas
Que me leva ao horizonte, ao infinito, ao surreal.

Meu casulo é o passado,
Tão alegre com suas mágoas,
Que eu não volto mais atrás —
Eu não quero nunca mais.

A tudo, contrario.
Assim, dessarte, nosso amor o faz.
Sou besouro em voo ágil, digo não a qualquer deus
Que me projete a não voar.

As melhores pessoas do mundo
Estão do seu lado
E as asas que levantam borboletas
Nos protegem dos estragos.
Como mágicos besouros,
Nós voamos contra a natureza,
Mergulhamos e peitamos a certeza
De jamais sermos tratados como iguais.

Sétima arte

(Como um velho filme, um tom,
um som rodado em meu coração)

Ao som de nossos solos musicados
Harmônicos, oráculos, melódicos,
A mágica dos pântanos ilhados
Sai do nosso sonho vão, metódico;
Mostra o terror de tal tormenta
Rebuscada pela noite barulhenta,
Tocada pelo cíclico silêncio,
Armada só por tudo o que dispenso:

Tem muita gente incomodando nesta minha solidão
Diz, minha querida,
Como faço para ser solteiro
Pelos breves instantes em que sinto falta de sentir teu coração
Batendo ao enlevo do teu corpo por inteiro.

Muros incapazes de negar as fortes armas,
Grades eficazes em barrar as tuas rosas:
Vida num castelo encrustado numa escala
Farta, matriarca, comedora de suas notas.

Louros e morenos são metades que levaram
O Velho Mundo dos quadrantes ao açúcar desbotado.
Hoje, nossa regra é escrever nossos jornais
Amando independentes: velho dom das capitais.

"Nas grandes cidades de um país tão violento
Os muros e as grades nos protegem de quase tudo
Mas o quase tudo quase sempre é quase nada
E nada nos protege de uma vida sem sentido...
O quase tudo quase sempre é quase nada
E nada nos protege de uma vida sem sentido..."¹.

Ou nada-mais-protege-que-uma-vida-sem-sentido?
Ilusão de ótica dos rápidos sorrisos
Ouvintes das notícias que criamos sem ouvir
Às falsas flores do rupestre já deixado de existir.

Primeiras impressões e rendição às evidências:
Sinônimos e antônimos armados de aparências.

Mas as armas e as rosas que me deste de presente
Continuam desenhadas nesta minha camiseta
Enquanto eu as copia num caderno descontente
Por ouvir as minhas queixas de besouro e borboleta.

Sonho, simplesmente, para sonhar mais uma vez
Mais discretamente que parece parecer.
Sonho novamente, desde ontem, para te ver.
Sonho novamente, desde sempre, para vencer
As distâncias e os ataques dos remédios invencíveis;
As alfândegas, massagens, dos negrumes impossíveis.

Entra no meu peito
Lá se aloja,
Não sai mais.

Vence teu receio
Vem, se aloja
Pois aqui é o teu lugar.


NOTA:
1. Música "Muros e Grades". Banda "Engenheiros do Hawaii". Letra: Humberto Gessinger; Música: Augusto Licks.

Quadrantes da ilusão

Num pandemônio em que soldados
Só veem a luz da escuridão,
Ainda há uma chama acesa
Que inspira esta canção.

Setor vermelho que se abre
Em meio ao “ás” da prontidão
E me apresenta dama a vista
Que tomou meu coração.

Depois de meses de conversa
Não encontrava solução
A me entregar àqueles braços —
Deu-se em mim a volição

E nas T.V.’s e nos jornais,
Saudava a sua aparição
Mas me dei conta: sou mais novo —
Do amor, terei um “não”

Sérios problemas que se fazem
Ao ler um livro em alemão —
E lá eu vejo minha vida:
Um amor na contramão

A minha dor é insucesso
Deste torpor da solidão,
E fica intensa em horas, meses,
Anos — raios da paixão

Nem começou, já não deu certo —
O nosso amor não tem razão —
E, no meu quarto, às paredes,
Dois quadrantes da ilusão

E, no meu quarto, às paredes, dois quadrantes...
E, no meu quarto, o seu rosto a todo o instante...
E, no meu quarto, a morte habita — não se espante...

A minha dor é insucesso
Deste torpor da solidão,
Fica intensa em horas, meses,
Anos — raios da paixão

Nem começou, já não deu certo —
O nosso amor não tem razão —
E, no meu quarto, às paredes,
Dois quadrantes da ilusão

Modernidade do Modernismo

Nunca ouvem o que falo,
Muito menos o que ouço.
Esmurrei as suas facas,
Apertaram meu pescoço.

Frustração é só concílio
Das paredes de um esgoto
Embalsamado pelas nuvens de sonar
Rejubilado por quem tem o que não dar.

Sufocaram os meus pais e meus irmãos (e)
A despeito disso tudo, aos ideais, dou profusão.
O fundo desse poço é uma ofensa ao meu desgosto
Das perguntas que me fazem: se eu mato, se eu morro.

Alguém que nunca mente compra ingressos...
Como fazes a fazer tanto sucesso?
Pede carinhosamente a teus pais
Que não destruam os teus sonhos.

Nesta Terra que depende de outro mundo,
Vagabundos que acusam vagabundos
São caçados por pilotos
Que nos mandam ir ao bar
Ou a dormir à padaria,
Dizendo:
"Troque sua família pela padaria!"...

Coxo espírito: revolta modernista!
Porcos frígidos: parada revanchista!
Façamos do moderno o sustentar do nosso teto
Mais que flácidas palavras que habitam o céu aberto.

Dedo de prosa

"Stand by me
Nobody knows
The way it's gonna be".
(Noel Gallagher)

Discos, acalantos e presentes
Que transmitem o teu sonho tão contente.
Fotos e guitarras; envelopes e cartões.
Roupas ilustradas; multidões e corações.

Tudo tão bem feito...
Tudo tão perfeito...

(E a sogra reconhece que sua nora é heroína...)

"Mil palavras,
Mil sentimentos,
Mil emoções"
É o que dizia um daqueles teus cartões.
Um "Eu amo você" gravado no coração
No tom roxo calejado das trincheiras da paixão.

Ela cuida tanto do meu ser...
Ela cuida tanto do viver...
Nunca mede esforços e ajuda ao mundo inteiro!
Sabemos que o amor é feito "de janeiro a janeiro".

John Lennon deveria se deitar
A fim de que ela passe,
Pois nunca foi correto aceitar
Que os heróis nos digam coisas e se matem.
(!?)

As maiores obras literárias,
A genialidade dos romances de Alencar,
Não valem 1% destas cartas
Que ela endereçara por amar.

(Dedos de prosa com a mãe
Acerca de brigas com a namorada)

Feitas para mim!
Cartas feitas por sentir!

"Sinto o sentimento" ao leve toque do papel —
Máxima pureza elevando-se ao céu.
É justo que eu jogue todo fora esse amor?
É justo que eu erre, sem demora, em meu pavor?

É fácil ser criança...
Facílimo por sinal...
Difícil ter infância
À idade magistral.

Tudo bem mais fácil do que ver um horizonte
Da janela do hospital.

Ela odeia o que é comum,
Ama tudo o que compus;
Ama os meus defeitos
E as culpas que carrego aqui dentro do meu peito.

Eu cuidarei de ti.
(Ciúmes...)
Contigo, aprendo o alguém que sonho em ser.
E sei que morrerei feliz
Desde que eu aprenda que, sem ti, não sei viver.

P.S.: Os mil já se foram...
Agora, falta um...

Falta

Acabara d'uma vez a tal da mágica do amor
Por mais que eu te dissesse ou pedisse por favor
Que não deixasse a minha pele ao Sol do ártico poente
E não vivesse à minha sombra ao Sol do máximo expoente.

Saí de casa brigado,
Sem dizer por que saí;
Sem saber aonde ir.

Saí de casa obrigado,
Por não ter com quem dormir;
Por não ter como sair.

Alguém sentiria a falta do adeus?
O que seria um tchau frente às nossas discussões?
Alguém mais morreria como os judeus?
Ou mataria como eles, a pauladas de jargões?

Estás ao meu lado em lado físico,
Mas bem distante na questão sentimental
Enquanto nos perdemos pelo tempo relativo
Da falta de tempo que é saudade magistral.

Embora eu não concorde, amo muito tua linguagem
Por não ter mais tradução;
Por não ter muita opção.

Embora eu só discorde, me arrependo das miragens
Do sabor do perdão;
Do teor do coração.

Teores ácidos, proféticos —
Ou macetes do mistério —
Formas, fotos atraentes
Que comprovam o presente.

Na rua, nunca sinto.
Sinto apenas saudade
Da tua forma de expressão;
De alguém a quem não minto;
De alguém que tem metade
Deste fósmeo coração.

Festas que só têm gente indecente
Festas que parecem atraentes
Às parcelas que detinham o poder do anonimato
E, hoje, não conseguem mais sair do estrelato.

Eu queria ver minha casa
Nem que fosse num só dia
Pra chegar perto de ti às falas
Que eu perco em ironia
Do destino,
Da paixão,
Do ser-menino...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cobertores




Que saudade de você...
Em acordar e ver seu rosto, qual o mal que pode haver?

Se um dia nos deixamos pra não ter nenhum espanto,
Minha mente e meu desejo me levaram a você.

Eu só quero descansar serenamente
E só quero abrir meus olhos ternamente
Pra ver que nosso mundo não é mais o fim do mundo
Só pra ver que nosso mundo não se faz de confusão.

Voltando a minha casa, eu me afasto desse lar
Que é seu corpo,
Esse sorriso em sua voz, em seu olhar...

Quebro o braço pra esquecer dor de cabeça.
Quero ter, em seu abraço,
Meu direito de sonhar...

Que saudade de você...
Em dormir ao ver seu rosto, qual o mal que pode haver?

Usei tantos cobertores...
De pesados, eles foram ao chão.
Acordei desmiolado e perdi minha razão.

Passei por onde você tinha me deixado,
E hoje, meu amor,
Damos adeus à solidão...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Rival




Noivos, casados, amigos, namorados?

Tudo, já fizemos juntos.
Agora, entrevista...
Só nos resta trabalhar...

Juntos, já driblamos bons apuros.
Amor da minha vida,
Não hesito em te olhar

Pra ver a "porta aberta" —
Mar Vermelho;
Pra ver outras pessoas
No espelho.

É interessante que eu sinta saudade
Mesmo estando do seu lado.
Caminhamos e corremos à cidade
Que dá nome ao nosso Estado.

Amor, eu reconheço que, qualquer que seja o dia,
Manterei as mãos honestas ao volante que nos guia.

O primeiro rival que é tão amigo,
O primeiro rival que tanto amo!
O rival que é oposto a inimigo;
Rival que traz as letras que eu chamo
(Aliado!)

É interessante que eu sinta saudade,
Mesmos estando do seu lado.
Mas não posso te abraçar,
Mas não posso te beijar.
Precisamos ter postura à entrevista
Pr'o futuro, o quanto antes, nos chamar...

Casal quase perfeito.
Milagre quase feito
(Estaria feito se ao menos existisse...).

Sr. e Srª. Smith,
Canetas de grafite...
Te amo mais que tudo.
Vamos, juntos, decolar.

Pra tudo, há solução:
É a primeira vez que nos beijamos com as mãos...

domingo, 15 de agosto de 2010

Chocolate




Poderias ter fumado menos,
Ter cuidado mais de tua saúde.
Contudo, se contigo, dessa vida não lamento
E demonstro a nossos monstros que o amor te amplitude.

Somos separados pela grade do despacho de bagagem
Da estação de trem.
Somos assolados pelos vícios e chantagens
(Mas tudo bem...)

Somos separados pela grade da linha do trem...
O muro vai ficando alto
À medida que amamos e driblamos o “porém”.
E bem hoje não vieste com teu salto...

“Não chore!”;
“Não me deixe, não me traia, não me troque”.
Conselhos de quem ama e de quem corre
Em busca da poesia, de meus hábitos e T.O.C.’s¹.

Chorei quando ganhei o chocolate
Que passaste, de presente, pela grade.
Tu pediste que eu sentisse o teu beijo ao prová-lo.
Chorei feito criança; num só brado,
Nosso coração, à nossa mente, decidia
Não dizer mais “tchau” e sim fundir os nossos dias.

Dormir e acordar no mesmo lugar...
Aferir, averiguar, e ter um só ponto de vista...
Sorrir e repousar em teu olhar
É o máximo desejo deste artista
Que dorme e acorda procurando tua imagem;
Que cresce e renova a qualidade de sua arte.

Pra quê chocolate quente?
Esperei pela estrela cadente.
Pedi e tu chegaste sem ter medo, sem vaidade...

Prefiro o chocolate que me deste de presente.
Guardo o papel que o envolvia — meu pertence.
E choro admirando a tua foz de sinceridade...

domingo, 8 de agosto de 2010

Danki!





Seis cordas pra guitarra
Seis sentidos na mesma direção
Seiscentos anos de estudo
Ou seis segundos de atenção

Pra entender
Pra entender
Nada disso é tudo
E tudo isso é fundamental...¹



Dia 08 de agosto de 2010, domingo.
Pela manhã, ao acordar, ouço um carinhoso "Feliz dia dos pais..."

Num mágico passeio ao parque temático Hopi Hari (Vinhedo, cidade do interior paulista), uma nova percepção: passo a fazer parte da formação de alguém.
O dia dos pais me dá bom dia deixando claro meu papel — um papel ousado (como eu), diferente, corajoso, em busca do momento crucial. Há poucos meses, parecia impossível que algum dia eu representaria uma figura paterna.
Vitória, a filha de minha donzela. Vitória — uma princesa incrível; extremamente educada.

Entretanto, digo que sou o "pai do coração", por ser a Vicky a minha "filha do coração". Sim, ela tem um pai biológico. Excelente pai — afetuoso, atencioso. Não me sinto no direito de simplesmente "entrar" na vida de alguém como pai. Falta de respeito. Dois leões não exatamente co-habitam. Contudo, respeitam ao espaço um do outro.
Respeito... palavra fundamental, em torno da qual se colocam as órbitas de meu namoro com a Larissa. Por sinal, aprendi com ela.
Mas por que falo de leões se eu sou um besouro?

Cada brinquedo que "travava", cada fila que travava ainda mais, cada raio solar que nos extraía o suor (a ponto de nos conferirem a saudade do frio), cada uma das 21 mil pessoas lá presentes... Tudo tão mágico! Recordações monumentais que dão inveja ao Partenon. Grand Canyon? Stonehenge? Pirâmides com cálculos perfeitos? O que é isso perto da grandeza de minha filha do coração? O que é isso perto da alegria das mulheres da minha vida? Que sentido há em qualquer coisa que esteja fora desta órbita? Órbita de nossa eterna felicidade...

Tenho apenas vinte anos. Minha filhinha do coração, seis. Se estou pronto? Acho que não. Mas é até melhor que não esteja. Afinal, "seiscentos anos de estudo" ou "seis segundos de atenção"? Minha inexperiência não será definitiva pelo lado negativo e será definitiva pelo lado positivo. Meus "seis segundos de atenção" já me são suficientes a que eu as proteja de todas as tormentas; de todos os vendavais. Quero que meus "seiscentos anos de estudo" se façam com cada um dos "seis segundos de atenção", até que eu chegue lá.

Billi Billi, Chabum, Dispenkito, Klapi Klapi Show, Spleshi... Cada uma das sedes dos momentos tão felizes e alegres. Junto de minha sogra — Dona Solange — e de um dos meus cunhados — Lucas —, houve muito divertimento.
Nomes estranhos e coisas bizarras, além de "chatices desnecessárias". Assim eu via o Hopi Hari — nome que, agora, após ter ido, associo a coisas boas, sorrisos, risadas, trapalhadas e muita gente (risos)...

Pela primeira vez, um dia dos pais analisado a partir do outro lado do muro. Claro que agradecerei, às presentes linhas, um cara fundamental em minha vida chamado Cláudio de Souza. Obrigado, papai!


NOTA:
1. Música "Pra Entender". Banda "Engenheiros do Hawaii". Compositor: Humberto Gessinger