Pela manhã, ao ouvir minha mais nova canção,
Mamãe arquitetara dificílima questão:
"De onde vem tamanha inspiração?"
"De onde vem tanta ideia?"
Vem do que é desimportante,
Dos detalhes,
Do que nos passa por batido
Daquilo a que ninguém dá atenção...
Por vezes, de loucuras ou asneiras;
Por vezes, da chatice corriqueira.
Mas o fato é que eu falo do meu muro vulnerável,
Seja ele uma asa-delta, uma cama, um metrô...
Faço-me valer por engenheiro,
Finjo que me sinto estrangeiro;
Agarro-me ao gosto indelegável
De passar por muito frio sem recorrer ao cobertor.
(Decerto, o cobertor também ajuda,
Quando nunca se tem algo a fazer...)
A inspiração pertence à respiração;
Pertence ao sangue que corre às veias que não pertencem a mim.
Revolta iniciada à justiça injustiçada;
Acordes planejados aos degraus de uma escada...
Se eu pudesse, enfim, dizer o que me inspira a escrever,
Eu diria que é a vontade de se autotraduzir,
Por mais que seja errado, por mais que nunca dê.
Há muitas das lembranças que tento reproduzir.
(Decerto, o passado me ajuda,
Mas é sede de futuro que me leva a escrever...)
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