Seja bem-vindo!

"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

sábado, 26 de dezembro de 2009

O ataque no Vaticano

Durante a procissão de entrada da Missa do Galo, no Natal deste ano, há apenas dois dias, o papa Bento XVI foi seguro e derrubado por uma mulher que saltou as grades de segurança da Igreja. A autora do ato, Susanna Maiolo, de 25 anos, foi levada a uma unidade de saúde especializada em transtornos psiquiátricos. A jovem, que possui nacionalidade suíça e italiana, também derrubou o cardeal francês Roger Etchegaray, de 87 anos, que fraturou o fêmur.
Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, Susanna afirmou que não era sua intenção machucar o papa. Interessante é o fato de ela ser reincidente: ano passado — trajando a mesma blusa vermelha de anteontem —, ela também tentou atacar o papa, saltando as barreiras, mas foi impedida pela equipe de segurança. Este ano, exatamente como em 2008, viajou da Suíça (onde reside) a Roma exclusivamente a participar da missa de Natal.

Numa matéria d'O Estado de São Paulo de hoje (26 de dezembro), consta: "O padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, disse que não é realístico pensar que o Vaticano pode conseguir 100% de segurança, considerando que o papa está frequentemente rodeado por milhares de pessoas nos eventos. 'Parece que (a segurança) atuou o mais rápido que pôde numa situação em que o risco zero não pode ser atingido', disse Lombardi. Mas o porta-voz afrimou que os chefes de segurança do Vaticano vão estudar o episódio para 'tentar aprender com a experiência'" e a reportagem prossegue: "'Não ocorreu nada grave. Trata-se de uma mulher que tentou saudar o santo padre', minimizou o presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Angelo Bagnasco" (VATICANO revisa segurança pós-ataque. O Estado de São Paulo. 26 de dezembro de 2009. Caderno Vida &. p. A9.).


Saudar o santo padre?


Certa vez, um amigo expôs uma opinião interessante acerca de ações semelhantes a essa. Como fundo de cena, cabe explicar que, assim como eu, esse amigo — cujo nome preservarei — é membro da Soka Gakkai Internacional. Na SGI, temos um mestre da vida — o presidente, Dr. Daisaku Ikeda. Continuando, ele afirmou que precisamos analisar com cuidado o sentimento que possuímos por nosso mestre. Queremos nos encontrar com ele apenas para tirar uma foto e colocar no orkut? Decerto que não, visto que o fato de possuir um mentor é muito maior que isso; grandioso demais para se vulgarizar internet afora.
Creio que o mesmo se possa aplicar ao sumo Pontífice. É adequado expor o líder da Igreja a esse ponto? Sou praticante do Budismo, mas minha paixão pela humanidade como um todo me faz expressar certa irritação ante o ocorrido. Mesmo que Susanna Maiolo pulasse a cerca somente para pedir um autógrafo, a meu ver, fugiria ao espírito de se seguir uma doutrina, por ir de encontro ao propósito da Cerimônia. O respeito para com o papa, para com os cardeais e — por conseguinte — para com os fiéis que também assistiam à Cerimônia, fora totalmente espezinhado. Conforme lido acima, o cardeal Etchegaray está com o fêmur quebrado. Assiste a nós, como bons terrenos, que topamos, indignados, com notícias deste cunho, torcermos e orarmos pela mais pronta recuperação do cardeal, pois, além da gravidade contígua ao ferimento por si só, há ainda o fator de sua própria idade, já avançada. E se um ferimento mais grave tivesse ocorrido ao cardeal ou ao próprio papa Bento XVI? A ausência do cardeal já é pesada à Igreja em todo o mundo. Imaginemos se tivesse ocorrido ao papa? Simplesmente, a cerca de um bilhão de católicos constatados ao redor do globo seriam afetados de alguma maneira, podendo ficar sem direcionamento dentro de sua fé.


Lamentável histórico


A mesma matéria ainda informa o seguinte: "A agressão de Susanna Maiolo contra Bento XVI recordou outros incidentes semelhantes. O principal foi o atentado contra João Paulo II no dia 13 de maio de 1981. O papa cruzava a Praça de São Pedro em um veículo aberto cercado por cerca de 20 mil fiéis. O turco Mehmet Ali Agca, de 23 anos, acertou três disparos em João Paulo II. Ali Agca está preso na Turquia e deve ser libertado no próximo mês.
"Segundo a chancelaria do arcebispado de Cracóvia, outros dois projetos de atentado contra o papa polonês foram abortados. Eles ocorreriam nas visitas pastoriais ao seu país natal, entre 1983 e 1987. Há oito anos, o jornal The Times relatou que a Al Qaida [ou Al Qaeda] planejou assassinar João Paulo II nas Filipinas, em 1999.
"Em junho de 2007, um jovem alemão de 27 anos, também com problemas psiquiátricos, tentou lançar-se sobre o veículo onde estava Bento XVI" (Ibidem).


Jovens!


Estranha coincidência é o fato de todos os atentados listados acima contra os dois últimos santos padres terem sido executados por jovens (idades: 23, 25 e 27 anos). Embora haja a possibilidade de estes jovens não terem arquitetado os ataques, de fato, há a presença dos jovens neles. Hipoteticamente, teriam sido corrompidos ao mal (oras, só pode ser). Jovens com problemas psiquiátricos, todos eles — de acordo com o que especialistas constataram. É inprescindível o exercício da plena cidadania a fim de evitarmos crashes e surtos psiquiátricos. Precisamos expandir nossas redes de diálogo por todo o mundo — por mais que tal solução se apresente enfatizada em meus textos. E tal intento só se faz possível ao iniciá-lo por nós mesmos. Dialoguemos com todos com quem depararmos.
Como moro na cidade de São Paulo e sempre pego o metrô na hora do rush, sei que, além de a correria das grandes cidades ser um verdadeiro pandemônio, é impossível conversar com todas as pessoas. Porém, nosso sentimento de fazê-lo é o que conta. Uma propaganda atual de uma renomada indústria petroquímica mostra uma sequência de trocas de olhares: começando por um cachorro, as cenas envolvem pessoas, um carro e o próprio posto de gasolina — foco do reclame. A moral é que cada olhar demonstra o "sonho de consumo" do personagem em questão. Por que não fazemos da pura condição de humanidade das pessoas o nosso próprio "sonho de consumo"?
Assim, podemos olhar fixamente nos olhos de cada uma delas, mesmo que por uma fração de segundos, e transmitiremos, seguramente, a paz, a convicção, a justiça e a esperança, além de outros benéficos valores impossíveis de serem listados, tamanhas são as suas quantidades.


NOTA (in memorian)
Faleceu hoje, pela manhã, aos 80 anos, Muíbo César Cury, radialista e locutor da Rádio Bandeirantes. Sensibilizado, manifesto profundo sentimento pelo passamento desse grande ícone do radialismo brasileiro, que contava com quase 60 anos de trabalho na Rádio Bandeirantes.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Bacalhau às natas

Recente estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) revela que, em 2009, a ceia de Natal dos brasileiros "será a mais barata e farta dos últimos quatro anos".

Consta num comentário do Correio Braziliense sobre o estudo: "A carne, item de maior peso nas compras, recuou, em média, 7,2% no período. O alívio no bolso do brasileiro foi motivado por um dólar desvalorizado frente ao real, o que barateou os importados. Houve ainda um aumento na oferta doméstica de produtos, causada por uma super safra e queda nas exportações"¹. Embora uma pequena inflação atinja as famílias mais desfavorecidas economicamente, produtos como azeite, frango, lombinho suíno e couve também tiveram os preços reduzidos. Uma grande queda de preço fica por conta do bacalhau (17,09%). "E o consumidor não terá de fisgar o pescado entre o mar de batatas", afirma uma matéria de Valéria Mineiro e Ana Paula Viana, do diário Extra Online.
Entre diversas receitas da bacalhoada, uma que me despertou interesse, por tê-la visto também à televisão, foi o "Bacalhau às natas"² (natas é o nome dado ao creme de leite — utilizado na receita — em Portugal, terra onde o bacalhau é mais que tradição).


O bacalhau me conduzira à lembrança de certo e-mail, encaminhado por minha mamãe, que recebi há uns dias. Não costumo abrir e-mails cujos títulos são precedidos por "Fwd: Fw: Fwd: Enc: Enc: Fw" (pois só podem ser correntes), mas nesse caso, em especial, fugi à regra.
Em formato slideshow, o texto, intitulado "Peixe Fresco", tratava da questão da pesca nos mares aos arredores do Japão. Gostaria de expor seu contéudo nas linhas abaixo.

Peixe Fresco
(Autor desconhecido)

Os japoneses adoram peixe fresco. Porém, as águas perto do Japão não produzem muitos peixes há décadas. Assim, para alimentar a sua população, os japoneses aumentaram o tamanho dos navios pesqueiros e começaram a pescar mais longe do que nunca.
Quanto mais longe os pescadores iam, mais tempo o peixe levava para chegar. Se a viagem de volta levasse mais que alguns dias, o peixe não era mais fresco. Os japoneses não gostaram do gosto destes peixes.
Para resolver este problema, as empresas de pesca instalaram congeladores em seus barcos. Eles pescavam e congelavam os peixes em alto-mar. Os congeladores permitiram que os pescadores fossem mais longe e ficassem em alto-mar por muito mais tempo.
Os japoneses conseguiram notar a diferença entre peixe fresco e peixe congelado e, é claro, eles não gostaram do peixe congelado. Entretanto, o peixe congelado tornou os preços mais baixos.
Então as empresas de pesca instalaram tanques de peixe nos navios pesqueiros. Eles podiam pescar e enfiar os peixes nos tanques como "sardinhas". Depois de certo tempo, pela falta de espaço, eles paravam de se debater e não se moviam mais. Eles chegavam vivos, porém cansados e abatidos. Infelizmente os japoneses ainda podiam notar a diferença do gosto. Por não se mexerem por dias, os peixes perdiam o gosto de frescor. Os japoneses preferiam o gosto de peixe fresco e não o gosto de peixe apático.
Como os japoneses resolveram esse problema? Como eles conseguiram trazer ao Japão peixes com gosto de puro frescor? Se você estivesse dando consultoria para a empresa de pesca, o que você recomendaria?
[...] A solução é bem mais simples. L. Ron Hubbard observou no começo dos anos 50: "O homem progride, estranhamente, somente perante um ambiente desafiador". Quanto mais inteligente e competitivo você é, mais você gosta de um bom problema. Se seus desafios estão de um tamanho correto e você consegue, passo-a-passo, conquistar seus desafios, você fica muito feliz. Você pensa em seus desafios e se sente com mais energia. Você fica excitado e com vontade de tentar novas soluções. Você se diverte. Você fica vivo!
Para conservar o gosto de peixe fresco, as empresas de pesca japonesas ainda colocam os peixes dentro de tanques, nos barcos. Mas, eles também adicionam um pequeno tubarão em cada tanque. O tubarão come alguns peixes, mas a maioria dos peixes chega "muito vivo" e fresco no desembarque. Tudo porque os peixes são desafiados, lá nos tanques.
[...]
"Ponha um tubarão no seu tanque e veja quão longe você pode chegar..."
"O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte". (Nietsche)

Creio que o texto, por si só, se tenha auto-explanado. Contudo, gostaria apenas de fazer um breve parecer.
A vida é, deveras, grandiosa. E por ser tão grandiosa, precisa provar que o é por meio de valiosos ensinamentos que, por sua vez, nos fazem dar valor a ela e sentir orgulho de viver e de aprender por toda a nossa existência. Lutemos pela vitória, mesmo sem haver a compreensão do real motivo que nos leve a lutar. Dessarte, não nos restarão arrependimentos.



NOTAS:


1. PIRES, Luciano; MARTINS, Victor. Ceia de Natal vai ser a mais farta e barata dos últimos quatro anos. Correio Braziliense. Economia. 08 de dezembro de 2009.
2. Bacalhau às natas. Confira receita no site: http://www.bacalhau.com.br/receitas/natas.htm

A chuteira e o batom

"Cem homens podem formar um acampamento, mas é preciso uma mulher para se fazer um lar".

(Provérbio chinês)


Hoje, dia 21 de dezembro de 2009 (segunda-feira), a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) realizou a cerimônia de entrega do prêmio de "Melhor Jogador do Ano [de 2009]". No futebol masculino, o argentino Lionel Messi — favorito — levou o título, batendo um recorde e se tornando o primeiro argentino a conseguir a premiação desde a sua criação, em 1991.
Quanto ao futebol feminino, pelo quarto ano consecutivo, a vencedora foi a jogadora brasileira Marta, destaque da Seleção Brasileira. Tornou-se a atleta que mais vezes recebeu a condecoração. Entre outras, Marta disputou o título com a também brasileira Cristiane, a quem muito admiro.
Marta Vieira da Silva, nascida a 19 de fevereiro de 1986, na cidade de Dois Riachos (Alagoas), superou inúmeras adversidades desde a infância para chegar ao topo do mundo, a começar pelo preconceito de que futebol não é esporte para mulheres. Sua humildade, determinação e força permitiram sua vitória. Marta é uma fiel e magnífica radiografia da situação das mulheres no mundo, que, a princípio, não tinham direito ao voto, às decisões familiares e, por vezes, ao trabalho. A instituição do "Dia Internacional da Mulher", em 8 de março, deixa isso bem claro.
Ah, mulheres... serviram de inspiração a gênios como Goethe, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias, Lord Byron. Existiriam esses gênios sem suas damas idealizadas? Abrindo meu coração, confesso que eu mesmo não conseguiria compor um único verso sem a existência da dama que cortejo em silêncio.

As mulheres representam da mais perfeita sintonia com que a força do cosmos é regida, no propósito de dar sequência à história e à vida. Gostaria, portanto, nesta ocasião — com vossa permissão —, de discorrer sobre elas, uma vez que, de acordo com denominação feita pelo meu mestre, Dr. Daisaku Ikeda, a presente centúria é o "Século das Mulheres".

Intermináveis clichês indicam as mulheres como detentoras da emoção, ao passo que os homens mantêm, por característica, a razão. Decerto, não há expressão maior de amor, compaixão e sabedoria fora da vida das mulheres, uma vez que estas já nascem com o dom de ser mães. Aquelas que não podem ter filhos também já foram mães, ao menos uma vez — nem que tenha sido da própria boneca. A questão foge de se ter ou não filhos; todas são mães de todas as pessoas que as circundam — o são por natureza.

Mulheres são simples emoções? Segundo o dicionário Aurélio, a palavra razão significa "mente ou função usada para pensar" ou ainda "faculdade que permite o processo para se chegar a uma decisão ou conclusão, o raciocínio". A meu ver, tal descrição deixa de lado a utopia e se faz totalmente verdade, quando vinculada à imagem das mulheres. Fato! Que sentimento pode superar o de mãe da humanidade — sentimento com que se torna possível o sonho da paz mundial? Sua emoção é direcionada pelo seu senso de justiça, pela mais correta das razões e pela mais correta das ações.
Os eternos hemisférios da razão e da emoção são comumente vistos como opostos, mas as mulheres conseguiram quebrar esse paradigma. Provaram a todos que é possível conciliar os dois itens. Em vez de hemisférios, tornaram-se, graças às mulheres, parte um do outro, agindo em auxílio mútuo.


Um recente estudo, publicado na "Folha de São Paulo", revela que "na população brasileira em geral mulheres ganham 17,2% menos que homens" e "entre quem tem alguma deficiência a diferença chega a 28,5%"¹. Entre as razões identificadas pela reportagem da Folha, está o preconceito por parte das instituições empregadoras. Há ainda aqueles que recorrem às tradições históricas dentro de suas respectivas empresas. Mesmo estando em menor número no mercado de trabalho, é inadmissível que as mulheres sejam tratadas com desdém em pleno século XXI. Por que não levam essas tradições históricas mais a sério e retornam de vez com a escravidão ou mesmo com o regime militar? Que orgulho em pertencer à era das máquinas...

Dentro de todos nós, seres humanos, independentemente de gênero, pulsa a mesma energia presente em todos os quadrantes do infinito Universo. Quando fingimos não reconhecer essa energia em qualquer ser vivo que seja, criamos um ambiente propício para que nosso potencial também não se evidencie, e permaneçamos estagnados em meio à progressão da história. Acreditamos, dessarte, que a mesma história se desenvolve de modo linear, enquanto — de acordo com a escola dos Annales² —, em essência, ela é cíclica. Tentando dizer claramente, não existe uma causa para um efeito, assim como não existe um motivo independente para um único fato. Causa e efeito são simultâneos e confluem entre si na produção da vida. Portanto, negando que as mulheres possuam seu devido valor como seres humanos, jogamos fora nossa capacidade — de seres humanos — de construir nossas próprias trajetórias. Há culturas que proibem a mulher de se postar ativamente em meio à sociedade; outras, de opinar em quaisquer que sejam os âmbitos.

A jogadora Marta — ou melhor, a mulher Marta — mostrou hoje, com seu exemplo, a todos nós, que não é necessário acreditar que o futuro inexiste, por mais que tentem nos provar o contrário. Podemos sonhar, mesmo que o sonho pareça impossível, pois, na hora exata, nossa dedicação a ele terá resultados concretos.
A propósito, um filme, a que assisti hoje mesmo, contém um coro protestante que canta uma interessante letra. Segue-se a tradução:

Senhor,
Não mova esta montanha.
Dê-me forças para subi-la.

Longe do desejo de tratar de religiosidade, apenas admiro a determinação em lutar incansavelmente, contida nesses versos. É esse o espírito com que a vida humana deve ser desbravada! Não esperemos por tempos fáceis, mas por aqueles que nos fazem forjar uma gloriosa e invencível identidade.
Façamos justiça à genialidade e à intensa dedicação à humanidade, de Marta, Marie Curie, Rosa Parks, Anne Frank e Helen Keller, de cuja brilhante história me proponho a fornecer detalhes num breve futuro.








NOTAS:

1. BOCATO, Raquel. Entre pessoas com deficiência, mulher ganha até 28,5% menos. Folha de São Paulo. 29 de novembro de 2009.
2. Escola dos Annales: Movimento historiográfico nascido na França na primeira metade do século XX, liderado por Marc Bloch, Henri Pirenne, Lucien Febvre, entre outros, que modificou o estudo da história, acrescentando, a este, elementos sociais e um tanto investigativos. A escola dos Annales propôs uma revolução na historiografia, por abandonar as tradicionais visões elitistas dos fatos e por prezar cada indivíduo como único e participante ativo da formação da história.

sábado, 19 de dezembro de 2009

"Login"

Não é de hoje que podemos observar a convergência da dedicação e da pluralidade humanas rumo à digitalização. Tal afirmação se pode dar por certeza pelo crescimento da tecnologia de alguns anos para cá. Com o devido cuidado para não adentrar outros méritos, é espantoso o crescimento e o avanço dos EUA — bem como sua vitória — durante a Guerra Fria, frente à poderosa União Soviética.
Celular? Hem? Há cerca de vinte anos, uma simples linha fixa de telefone era artigo de luxo. E quanto à internet? É preciso dizer algo acerca de sua evolução desde a ascensão de Bill Gates no referido ofício? A cada semana, basta abrirmos as famosas revistas de tecnologia e de informática para conferirmos os lançamentos em aparelhos celulares, notebooks, netbooks etc.
Não obstante, nossos hábitos também se acabam por fazer intrínsecos a tal característica. Sob a presente métrica, no dia de hoje, pude dialogar com grandes amigos pessoais. Com o que aprendi, ficara ainda mais forte a minha convicção de que nós, seres humanos, precisamos ser humanos.

Atualmente, a onda que invade a juventude são os canais on-line de relacionamento (MSN, Orkut, Facebook, MySpace, Twitter etc.). Sem precisar se aprofundar muito, podemos tomar por exemplo a própria mobília do dormitório de uma pessoa do mundo de hoje: todos, em geral, têm, além da cama, linha telefônica, um computador pessoal (se não um notebook), um aparelho de som, um televisor. E assim vai... Para quê esse cidadão sairia do quarto para ir à sala de estar? Famílias não mais assistem à TV em conjunto (nem que seja à novela das oito). Quando se cria o próprio universo dentro de seu respectivo cômodo (no caso, um verdadeiro habitat), extingue-se o contato com os familiares.
Francamente, teríeis a opção por dialogar com um familiar em lugar de assistir ao filme favorito trancafiado em vosso aposento? Bem provável que não, visto que o diálogo, por vezes, apresenta divergências de opinião, ao passo que vosso universo apenas proporciona o que quereis ver, saber, viver e ouvir. Ainda no diálogo de hoje, um amigo enfocou um importante ponto: nem mesmo as brigas familiares de antigamente acontecem mais. Por pior que venha a ser uma discussão, ela ao menos proporciona contato com outras pessoas, podendo se converter, oportunamente, em amizade. Evitando a discordância, infelizmente, perdera-se por completo o contato com outrem.

Retornando à questão da tecnologia, se vem tornando trivial o transporte de nosso mundo virtual para o mundo real. Tomando por exemplo as redes de relacionamento, quando nos identificamos com alguém, corremos a adicioná-lo como nosso "amigo". Por outro lado, quando não há a identificação prevista ou quando alguma visão é díspar, imediatamente, o bloquamos. Há alguns anos, conforme colocado, mal havia telefone. Na necessidade de nos encontrarmos com alguém, íamos até sua casa e aprendíamos a conviver com tal pessoa, mesmo com seus erros e características que porventura não nos agradassem.
Já no presente, os atos de adicionar e bloquear se fazem presentes o tempo todo, até na vida social — seja pessoal (sim, pessoal), familiar, acadêmica, profissional. Por incrível que pareça, conseguimos acabar com a boa e velha — e fundamental — convivência. E a tendência, perdoai-me, é piorar. Acabamos por considerar popular aquele que reúne mais amigos ou seguidores nos referidos domínios. É isso o mundo?

Não sei se é de vosso conhecimento, mas a rede social Twitter cifra-se de um microblog em que são postados textos igualmente curtos, de no máximo 140 caracteres. Sobre o Twitter, o célebre escritor português José Saramago, Nobel de Literatura em 1998, diz o seguinte: "Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido"¹. Embora algumas palavras, sozinhas, traduzam a mente de alguém, é extremamente difícil que 140 caracteres o façam constante e eternamente. O mesmo Saramago — devidamente permitida a paráfrase — também salienta que, por mais que os Blogs se tenham firmado como uma nova ferramenta para a escrita — a qual fez com que muitas pessoas que não possuíam o hábito de escrever o adquirissem —, deve-se tomar o cuidado com a qualidade do que é escrito. E tal cuidado, quase ninguém toma. Em meu ver, é necessária uma certa dosagem da vaidade do Romantismo — enfatizo aqui minha vertência a esse extinto movimento — em nossos dias, devidamente adequada a eles. Não a vaidade destrutiva, mas aquela que faz com que melhoremos nossas qualidades a fim de fazer o mesmo com nosso ambiente. Se analisarmos, não existe mais aquela poética e gostosa vida de que nossos ancestrais — por maiores que fossem as dificuldades — desfrutaram.

Outro texto me chamou muito a atenção. São palavras do jornalista Arnaldo Jabor, publicadas quando de seu artigo "Blogs, twitter, orkut e outros buracos", há cerca de um mês, no jornal "O Estado de São Paulo": "[...] Jamais farei um blog, este nome que parece um coaxar de sapo-boi. Quero o passado. Quero o lápis na orelha do quitandeiro, quero o gato do armazém dormindo no saco de batatas, quero o telefone preto, de disco, que não dá linha, em vez dos gemidinhos dos celulares incessantes". E ele continua: "O Brasil está tonto, perdido entre tecnologias novas cercadas de miséria e estupidez por todos os lados. A tecnociência nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas vivas, chips, pílulas para tudo, enquanto a barbárie mais vagabunda corre solta no País, balas perdidas, jaquetas e tênis roubados, com a falsa esquerda sendo pautada pela mais sinistra direita que já tivemos, com o Jucá e o Calheiros botando o Chávez no Mercosul para 'talibanizar' de vez a América Latina. Temos de 'funcionar' — não viver. Somos carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa. Assistimos a chacinas diárias do tráfico entre chips e 'websites'"².

É... Continuaremos fechados em nosso vasto universo? Obviamente, nosso campo de batalha é enorme, infinito. E a melhor forma de se viver plena e intensamente nesse campo é utilizar de todo o nosso tempo — todo o nosso ser — em prol da concretização da paz mundial. Não por utopia, mas por desejo e convicção. Alguém incapaz de lidar com as próprias limitações — incapaz de sair do seu próprio universo — não pode ser também, de forma alguma, um autêntico valor humano em meio à sociedade.
Seremos meros instrumentos do destino, meras ferramentas do acaso? Instrumentos que assistem pacientemente à "barbárie mais vagabunda" correr solta no País — e (por que não) — no mundo — no nosso mundo? Ou construiremos uma existência tão nobre e concreta, capaz de mover todo o Universo ao nosso favor, em prol do objetivo da humanização da nossa raça?
A globalização e a tecnologia, contudo, se fazem presentes principalmente nos âmbitos de saúde e educacional. Nesse sentido, em se tratando desses aspectos, é imprescindível que utilizemos de bom senso.

Apenas em fins de desmitificar o presente artigo, esclareço que possuo, sim, Orkut, Twitter, MSN e Facebook, além, claro, do Blog. Porém, não recorro a eles como fontes de minha vida. Pelo contrário, trago minha vida a eles, com o objetivo de me aprimorar como pessoa e como escritor. Jamais topareis com vulgaridades, blasfêmias, inverdades ou futilidades em meus textos. Garanto — por gratidão ao prezado leitor e à confiança em mim depositada para que, por meio das letras, possamos nos comunicar.
Um pequeno detalhe: todo o teor do presente artigo se fez exclusivamente de diálogos com amigos (confiáveis, ávidos por conhecimento e sabedoria) e de minucioso estudo.


NOTAS:


1. SARAMAGO, José. José Saramago fala sobre twitter, Lula e seu novo livro. Enviado por André Miranda. O Globo. 26 de agosto de 2009.
2. JABOR, Arnaldo. Blogs, twitter, orkut e outros buracos. O Estado de São Paulo. Caderno 2. 03 de novembro de 2009.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Às páginas de "Senhora"

Ontem à noite, parei para assistir a uma produção de cinema nacional. Os informes iniciais logo se puderam colocar: "[...] contém palavreado chulo [...]". Por mais que a temática da produção apresentasse problemas sociais de uma nação, particularmente, achei tal frase muito banal. Se ontem fosse a primeira vez a assistir àquele filme, teria ficado pasmo: ele realmente contém palavreado chulo.

O filme (aliás, devo admitir, bela superprodução) deixou muito claro que se tornou corriqueiro abaixar o nível da conversa (se é que esta ainda existe) por motivo algum e, por meio da apresentação de conflitos entre policiais e delinquentes (na prática, atualmente, sabemos que esta dicotomia expandiu-se e deixou de ser em si), concluiu sua intenção de demonstrar o caos em que vivemos. A trilha sonora ainda expôs outra realidade que considero insuportável no mundo atual: o funk "pancadão", do qual os jovens de hoje tanto se orgulham e pelo qual atravessam horrores. Emancipam-se da família e dos verdadeiros amigos para somente dançar no alto de um morro (ou mesmo em casa). Cadê Caetano Veloso "e os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais"¹? Grande Caetano, faço, de seus seguintes versos, minha própria indagação:


"Será, será que, que será, que será, que será,
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos?" ²


Quem sou eu para apresentar alguma tendência comportamental? O que critico não é quem faz a música funkfunk!? — em si ou quem a ouve, mas a devoção cega a isso tudo. Não seria melhor escolher um ideal por que se valha a pena viver?


Por que tudo está assim?
Sinto-me imensamente triste ao ler e reler as páginas de "Senhora" e ver ali o mundo idealizado por Alencar: carruagens; damas e senhoras a trajar luxuosos e rendados vestidos; cavalheirismo etc. Apesar de gênio, ele não poderia mudar tanto o mundo de seu tempo, o que me leva a compreender o quão carismático e aprazível fora tal contexto histórico. Sinto, por vezes, saudades de uma época que nunca cheguei a viver. No entanto, é inútil render-se às lágrimas nos tempos em que todos aguardam seu bater de asas. E, dessa necessidade — desse clamor provindo dos olhos daqueles que sofrem e morrem com a guerra —, extraio forças de onde não há, a fim de dar prosseguimento ao meu modesto labor.


Estou convicto de que a ação que compartilho convosco se dá por atuação nos bastidores dos bastidores da sociedade — e, logo, entendereis por quê.
Mais que lamentar, é vital compreendermos que a geração que se desenvolve na atualidade — jovens, a NOSSA geração — é, talvez, a mais derradeira de todos os tempos, por conviver com a dissolução da Humanidade da humanidade (vide "Introdução I") e ser a real responsável pela nova manutenção do diálogo.


Precisamos tomar por base a teoria da criação de valor do professor T. Makiguti³ [1871~1944], que expunha ser fundamental a valorização do potencial de cada pessoa, tratando-a como única e fazendo com que se desenvolva plenamente. E como fazê-lo? Nada melhor que o próprio professor Makiguti para responder ao nosso questionamento:
"O estudo não é considerado uma preparação para a vida; ele acontece enquanto se vive, e a vida acontece em meio ao estudo. Estudo e vida real são vistos não apenas como paralelos; eles trocam informações intercontextualmente, o estudo dentro da vida e vice-versa, por toda a existência do indivíduo".


Que tal lermos "Senhora" e, durante a leitura, ponderarmos acerca da arte de Caetano e da filosofia de Makiguti? Pensemos um pouco nisso.



NOTAS:
1. 2. Trechos extraídos da canção "Podres Poderes", do cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso.
3. Biografia cronológica de Tsunessaburo Makiguti: http://www.bsgi.org.br/sgi_makiguti.htm

Entre o justo e o santo

Não é do meu feitio criticar negativamente as pessoas, principalmente porque sei que dentro delas, até mesmo da mais maléfica, existe uma condição de vida elevada. E a essa condição de vida que presto eternamente minhas reverências.
Um parêntese, porém, precisa ser aberto aqui (não em exceção à minha regra, mas em reiteração a ela) na postagem do Blog.

Fiquei absolutamente chocado — e deveras decepcionado — com o discurso do presidente norte-americano quando da entrega do saudoso Prêmio Nobel da Paz 2009, decorrido a 10 de dezembro de 2009 (ontem). A alegação de que os conflitos armados, em que os EUA estão envolvidos, servem como parte do processo condutor à paz me fez recordar da "Introdução I" deste Blog, escrita ontem mesmo, ainda ignorando do teor de tal discurso. Assiste a mim ressaltar a citação de Fiodor Dostoievski que lá transcrevi, há menos de vinte e quatro horas: "Decididamente, não entendo por que é mais glorioso bombardear de projéteis uma cidade do que assassinar alguém a machadadas".

Além disso, ele ainda declarou que as duas lutas armadas de que os EUA participam formam uma "Guerra Justa". Nada tenho contra a pessoa do presidente dos EUA (eu até mesmo fui a favor de sua eleição), mas, de certa forma, mesmo que seu objetivo — como deve ser o do governante soberano — seja o de proteger o seu povo, mesmo que tenha as melhores das intenções (pode ter sido apenas uma colocação infeliz), a recorrência à guerra não condiz e jamais o fará com alguém recebedor do Prêmio Nobel da Paz. E quanto a Martin Luther King Jr? Fora somente um ingênuo que nada entendia da funcionalidade prática das cousas?
Não criticarei o respeitável presidente, mas, por outro lado, apenas exporei, sob vossa permissão, uma pequena reflexão relativa ao desastroso ocorrido, pois, a exemplo de meu mestre, repudio categoricamente a guerra.

Hoje pela manhã, acompanhando o Jornal Gente (da Rádio Bandeirantes AM), um dos apresentadores (sinceramente, não lembro qual dos três) disse que nós, cidadãos de paz, vivemos atualmente entre a "Guerra Justa" e a "Guerra Santa". Brilhante colocação! Podemos entender que se tornou comum viver rodeado por bombas explodindo, gente morrendo e gente sofrendo as dores da vida contemporânea.

Não podemos controlar os exércitos que, neste exato instante, lançam mísseis contra seus oponentes, mas, com nossas atitudes diárias, podemos mudar isso, aos poucos. Esbanjando gentileza e cordialidade, podemos cativar as pessoas; oferecendo um sincero bom-dia, podemos levar-lhes alegria ao coração; primando o franco diálogo com cada um com quem nos encontrarmos, podeemos agregar conhecimentos, bem como transmitir nossas experiências. E, assim, de modo decerto compassivo, construímos o mundo que desejamos habitar: honroso, decente, cívico e pacífico.
Presidente, conte comigo para mudarmos o mundo. Afinal... "Change: we can believe in"...

Introdução I

A cada dia passado, os seres humanos perdem um pouco de sua Humanidade, por mais contraditória que tal afirmação possa soar a nossos ouvidos (ou, em nosso caso, a nossos olhos). Sim, a perdem justamente por não realizarem o correto usufruto, tal como o cérebro também é degradado à medida que suas funções são inutilizadas por movimentos e ações viciosos. Chegaram até mim relatos acerca de um jovem que perdeu uma considerável porcentagem da massa encefálica por conta da rotineira dedicação a jogos digitais. Um distúrbio se apoderara desse jovem desde então. Infelizmente, não mais pude obter informações a respeito, pois o desejável seria proporcionar-vos uma fonte confiável de informações. Por hoje (e somente por hoje), fiquemos no fatídico diz-que-me-disse.

Retornando à temática da Humanidade, é de nosso conhecimento que o homem é, dentro do Reino Animal, uma das espécies mais frágeis e sensíveis. Por exemplo, o filhote de girafa cai de uma altura de mais de dois metros ao nascer e se choca com o chão, sem morrer; para ensinar aos filhotes a técnica do voo, a mamãe águia faz com que se precipitem para fora do ninho localizado no alto das montanhas; muitos animais já começam a se comunicar com poucos meses (ou dias, em alguns casos) de vida. Apenas o ser humano necessita de anos para se adaptar ao mundo fora da barriga da mãe; apenas ele se machuca com qualquer coisa quando filhote.

Com o passar do tempo, porém, o homem aprendeu a se defender e a sobreviver com o uso do intelecto: fabricou armas, ferramentas, utensílios, além de produzir fogo e descobrir diferentes formas de abrigo contra as intempéries e contra seus bastantes predadores. Após todos esses processos, aprendeu, finalmente, seu próprio meio de comunicação: a fala. Desse fato à sua chegada à Lua, à invenção da Internet e à clonagem, bastou um único piscar de olhos.

Tantos benefícios o homem proporcionara a si mesmo... Tantos até demais — abstivera-se daquilo que deveria ser sua prioridade na passagem pelo mundo: o diálogo. E dialogar é mais essencial do que pensamos, pois garante que nós, humanos, sejamos, de facto, humanos. Feito tal esquecimento, regredimos, gradativamente, às origens até chegar o momento em que nem mais da pederneira saberemos produzir o fogo.
Exagero? Não, visto que as guerras no Oriente Médio (sejam quais forem os motivos) estão piores, a cada dia. Sem precisar ir muito longe, se, ao sairmos de casa, nos esquecermos de virar duas vezes a chave na fechadura da porta, é bem provável que alguma coisa faltará lá dentro quando chegarmos...

A televisão nos mostra o caos em que a sociedade, cada vez mais, se encontra mergulhada. É isso o que nossos antepassados queriam para nós? É essa nossa missão: contribuir para a destruição de nosso lar? É normal matar por dinheiro ou por religião?



"Decididamente, não entendo por que é mais glorioso bombardear de projéteis uma cidade do que assassinar alguém a machadadas".

Fiodor Dostoievski [1821~1881]



Por outro lado, não devemos dar asas ao sensacionalismo, que somente condena e não propõe soluções. E, por isso, trilhando a fórmula aqui estabelecida rumo ao primeiro passo, minhas soluções — concluo — se seguem apresentáveis.
Na tentativa de cumprir com tal propósito, inicio as atividades do meu Blog. Vamos, juntos, entender a mentalidade humana (se é que é possível fazê-lo em totalidade) e expor nossas idéias em prol de "Paz, Cultura e Educação".

O despertar

Entre mágicas, tabuleiros, quadros e pentagramas, optei pelo ramo que mais se pudesse afigurar a meu ser, casando-o à forma da necessidade implícita sofrida pelo mundo, sem que, por vertência temporal e/ou escrita, se me perfaça a tendenciosa imagem do gênio reprimido que luta pela justiça. Sim, pelo contrário, desejo tais confrontos, mas confrontos diferentes: iniciados em meu ser — ideológicos, por vezes enfáticos — e também por ele e por todas as pessoas, sem exceção.

Certa vez, soube de um honroso dito popular venezuelano que tinha, por primazia, o enfoque na audácia, assim como a coragem, dos seres humanos. Não me lembro exatamente de suas palavras, mas, se me permitem de início, gostaria de realizar uma ínfima paráfrase acerca do conteúdo. Dizia que, ao toparmos com um rio sob a necessidade de atravessá-lo, precisaríamos fazê-lo a nado. Mesmo sem saber o que há dentro daquelas águas, seria imprescindível reunir toda a coragem para nelas se lançar. Apenas desse modo, tornar-se-ia possível a travessia.
Da mesma forma é a vida (bem como tudo que dela se torna fractal), uma vez que não conhecemos em totalidade seu teor e tememos, mais que tudo, a própria morte. Não desejo, por agora, me aprofundar na delicada questão da morte, mas prometo discorrer sobre isso oportunamente. O que quero exprimir com essa analogia é que, mesmo sem ser dotado da devida experiência no ramo das letras, arrisco-me com base nela. Reconheço ser deveras limitado em questões acadêmicas, mas vontade não me falta de querer remoldar o mundo em que vivemos. No entanto, não ignoro a míngua de cumprir tal decreto — compreendamos o sentido desta palavra — da maneira como o mundo o requer, diferente da minha maneira que, a todos, não interessa. Buscando caminhar na mais cônjuge retidão, mantenho o foco no melhor para o mundo como um todo, sem o erro da generalização, que o será, da mesma forma, para mim.

Sonho?
Para alguém embasado no modo de ser dos séculos XVIII e XIX que vive no mundo globalizado, talvez seja, por sonho, o palco a abrigar todas as cenas pertencentes à epopéia da vida humana. Talvez seja este o ponto de chegada e de partida para o pró-romancista que, sem a total eloquencia, humildemente, vos informa. E é decerto o meu querido lar, do qual consigo projetar a quintessência da vitória a que, há muito, aderi e, em particular, rezo para que todos se agremiem.

"A grandiosa revolução humana de uma única pessoa irá um dia impulsionar a mudança total do destino de um país e, além disso, será capaz de transformar o destino de toda a humanidade".
Daisaku Ikeda [1928~]

Meu querido mestre, o Poeta Laureado do Mundo Dr. Daisaku Ikeda, no prefácio da obra de sua vida, a "Nova Revolução Humana", pôde compor essa imparidade — a presente frase a que vos apresento — com um único propósito: o de cultivar a paz dentro do coração de cada indivíduo que seja em nosso planeta. Perdera o irmão mais velho, morto durante as barbáries da II Guerra Mundial. A partir de então, por sentir em suas entranhas os horrores da agressão à vida, fez o juramento de bradar e lutar pela justiça enquanto vivesse, com base nos ideais do Budismo. Sua ira por conta da guerra permitiu que seu interior se fortalecesse de forma que, nunca mais, nada o viria abalar novamente. Embora sem saúde durante sua juventude, com firmeza, desafiou uma sociedade derrotada japonesa e, sozinho, hasteou a bandeira da vitória no cume do Monte Sumeru¹.

E é por tal representatividade, por honra a pessoas como ele, que coloco-me — às presentes linhas — à disposição da labuta em prol de "Paz, Cultura e Educação", atuando ativamente naquilo que sei que posso fazer: a escrita.

Não deixai, por gentileza, que tal atitude se converta apenas em teoria (é, inclusive, comum associar a escrita ao ser teórico), mas sim em um rugido a ecoar por todos os quadrantes do Universo. Sim! Essa é minha decisão com tal intento! Não recuarei um passo sequer em minha missão!

Desejo, contudo, aprimorar-me cada vez mais, galgando o tortuoso caminho da juventude, vertendo-o numa fonte inesgotável de benefícios, com base nos estudos e no diálogo de vida-a-vida. Por meio do ofício de escritor, expor-me-ei a furiosos ventos que venham a golpear o grande navio que é a Terra.

Por fim, agradeço, sinceramente, pela paciência despendida à leitura deste singelo artigo.

NOTA:

1. "Montanha localizada no centro do mundo, segundo a antiga cosmologia indiana. Acredita-se que o Monte Sumeru eleva-se a uma altura de oitenta e quatro mil yojanas (um yojana equivale a, aproximadamente, sete quilômetros). O deus Shakra habita o topo do Monte Sumeru, enquanto os quatro reis celestiais ocupam os quatro lados da parte inferior dessa montanha. No oceano que rodeia a parte externa do Sumeru existem quatro continentes onde, no sul, encontra-se Jambudvipa [por dedução, o nosso mundo]" (Abertura dos Olhos: explanação. Daisaku Ikeda.; — trad. Elizabeth Miyashiro — São Paulo. Ed. Brasil Seikyo. 2009. pp. 94).

Sobre a presente nota, favor não considerar literalmente as menções mitológicas.