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"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

sábado, 19 de dezembro de 2009

"Login"

Não é de hoje que podemos observar a convergência da dedicação e da pluralidade humanas rumo à digitalização. Tal afirmação se pode dar por certeza pelo crescimento da tecnologia de alguns anos para cá. Com o devido cuidado para não adentrar outros méritos, é espantoso o crescimento e o avanço dos EUA — bem como sua vitória — durante a Guerra Fria, frente à poderosa União Soviética.
Celular? Hem? Há cerca de vinte anos, uma simples linha fixa de telefone era artigo de luxo. E quanto à internet? É preciso dizer algo acerca de sua evolução desde a ascensão de Bill Gates no referido ofício? A cada semana, basta abrirmos as famosas revistas de tecnologia e de informática para conferirmos os lançamentos em aparelhos celulares, notebooks, netbooks etc.
Não obstante, nossos hábitos também se acabam por fazer intrínsecos a tal característica. Sob a presente métrica, no dia de hoje, pude dialogar com grandes amigos pessoais. Com o que aprendi, ficara ainda mais forte a minha convicção de que nós, seres humanos, precisamos ser humanos.

Atualmente, a onda que invade a juventude são os canais on-line de relacionamento (MSN, Orkut, Facebook, MySpace, Twitter etc.). Sem precisar se aprofundar muito, podemos tomar por exemplo a própria mobília do dormitório de uma pessoa do mundo de hoje: todos, em geral, têm, além da cama, linha telefônica, um computador pessoal (se não um notebook), um aparelho de som, um televisor. E assim vai... Para quê esse cidadão sairia do quarto para ir à sala de estar? Famílias não mais assistem à TV em conjunto (nem que seja à novela das oito). Quando se cria o próprio universo dentro de seu respectivo cômodo (no caso, um verdadeiro habitat), extingue-se o contato com os familiares.
Francamente, teríeis a opção por dialogar com um familiar em lugar de assistir ao filme favorito trancafiado em vosso aposento? Bem provável que não, visto que o diálogo, por vezes, apresenta divergências de opinião, ao passo que vosso universo apenas proporciona o que quereis ver, saber, viver e ouvir. Ainda no diálogo de hoje, um amigo enfocou um importante ponto: nem mesmo as brigas familiares de antigamente acontecem mais. Por pior que venha a ser uma discussão, ela ao menos proporciona contato com outras pessoas, podendo se converter, oportunamente, em amizade. Evitando a discordância, infelizmente, perdera-se por completo o contato com outrem.

Retornando à questão da tecnologia, se vem tornando trivial o transporte de nosso mundo virtual para o mundo real. Tomando por exemplo as redes de relacionamento, quando nos identificamos com alguém, corremos a adicioná-lo como nosso "amigo". Por outro lado, quando não há a identificação prevista ou quando alguma visão é díspar, imediatamente, o bloquamos. Há alguns anos, conforme colocado, mal havia telefone. Na necessidade de nos encontrarmos com alguém, íamos até sua casa e aprendíamos a conviver com tal pessoa, mesmo com seus erros e características que porventura não nos agradassem.
Já no presente, os atos de adicionar e bloquear se fazem presentes o tempo todo, até na vida social — seja pessoal (sim, pessoal), familiar, acadêmica, profissional. Por incrível que pareça, conseguimos acabar com a boa e velha — e fundamental — convivência. E a tendência, perdoai-me, é piorar. Acabamos por considerar popular aquele que reúne mais amigos ou seguidores nos referidos domínios. É isso o mundo?

Não sei se é de vosso conhecimento, mas a rede social Twitter cifra-se de um microblog em que são postados textos igualmente curtos, de no máximo 140 caracteres. Sobre o Twitter, o célebre escritor português José Saramago, Nobel de Literatura em 1998, diz o seguinte: "Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido"¹. Embora algumas palavras, sozinhas, traduzam a mente de alguém, é extremamente difícil que 140 caracteres o façam constante e eternamente. O mesmo Saramago — devidamente permitida a paráfrase — também salienta que, por mais que os Blogs se tenham firmado como uma nova ferramenta para a escrita — a qual fez com que muitas pessoas que não possuíam o hábito de escrever o adquirissem —, deve-se tomar o cuidado com a qualidade do que é escrito. E tal cuidado, quase ninguém toma. Em meu ver, é necessária uma certa dosagem da vaidade do Romantismo — enfatizo aqui minha vertência a esse extinto movimento — em nossos dias, devidamente adequada a eles. Não a vaidade destrutiva, mas aquela que faz com que melhoremos nossas qualidades a fim de fazer o mesmo com nosso ambiente. Se analisarmos, não existe mais aquela poética e gostosa vida de que nossos ancestrais — por maiores que fossem as dificuldades — desfrutaram.

Outro texto me chamou muito a atenção. São palavras do jornalista Arnaldo Jabor, publicadas quando de seu artigo "Blogs, twitter, orkut e outros buracos", há cerca de um mês, no jornal "O Estado de São Paulo": "[...] Jamais farei um blog, este nome que parece um coaxar de sapo-boi. Quero o passado. Quero o lápis na orelha do quitandeiro, quero o gato do armazém dormindo no saco de batatas, quero o telefone preto, de disco, que não dá linha, em vez dos gemidinhos dos celulares incessantes". E ele continua: "O Brasil está tonto, perdido entre tecnologias novas cercadas de miséria e estupidez por todos os lados. A tecnociência nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas vivas, chips, pílulas para tudo, enquanto a barbárie mais vagabunda corre solta no País, balas perdidas, jaquetas e tênis roubados, com a falsa esquerda sendo pautada pela mais sinistra direita que já tivemos, com o Jucá e o Calheiros botando o Chávez no Mercosul para 'talibanizar' de vez a América Latina. Temos de 'funcionar' — não viver. Somos carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa. Assistimos a chacinas diárias do tráfico entre chips e 'websites'"².

É... Continuaremos fechados em nosso vasto universo? Obviamente, nosso campo de batalha é enorme, infinito. E a melhor forma de se viver plena e intensamente nesse campo é utilizar de todo o nosso tempo — todo o nosso ser — em prol da concretização da paz mundial. Não por utopia, mas por desejo e convicção. Alguém incapaz de lidar com as próprias limitações — incapaz de sair do seu próprio universo — não pode ser também, de forma alguma, um autêntico valor humano em meio à sociedade.
Seremos meros instrumentos do destino, meras ferramentas do acaso? Instrumentos que assistem pacientemente à "barbárie mais vagabunda" correr solta no País — e (por que não) — no mundo — no nosso mundo? Ou construiremos uma existência tão nobre e concreta, capaz de mover todo o Universo ao nosso favor, em prol do objetivo da humanização da nossa raça?
A globalização e a tecnologia, contudo, se fazem presentes principalmente nos âmbitos de saúde e educacional. Nesse sentido, em se tratando desses aspectos, é imprescindível que utilizemos de bom senso.

Apenas em fins de desmitificar o presente artigo, esclareço que possuo, sim, Orkut, Twitter, MSN e Facebook, além, claro, do Blog. Porém, não recorro a eles como fontes de minha vida. Pelo contrário, trago minha vida a eles, com o objetivo de me aprimorar como pessoa e como escritor. Jamais topareis com vulgaridades, blasfêmias, inverdades ou futilidades em meus textos. Garanto — por gratidão ao prezado leitor e à confiança em mim depositada para que, por meio das letras, possamos nos comunicar.
Um pequeno detalhe: todo o teor do presente artigo se fez exclusivamente de diálogos com amigos (confiáveis, ávidos por conhecimento e sabedoria) e de minucioso estudo.


NOTAS:


1. SARAMAGO, José. José Saramago fala sobre twitter, Lula e seu novo livro. Enviado por André Miranda. O Globo. 26 de agosto de 2009.
2. JABOR, Arnaldo. Blogs, twitter, orkut e outros buracos. O Estado de São Paulo. Caderno 2. 03 de novembro de 2009.

Um comentário:

  1. O tema tecnologia, seus avanços e consequencias na vida das pessoas já gerou muita polemica nas discussões entre meus amigos. E, convenhamos, não é a toa. No momento que os jovens trocaram um abraço por uma caricatura virtual, devíamos ter notado os verdadeiros aspectos dessa 'evolução' e tomado uma atitude.
    Certa vez vi uma tirinha que cai perfeitamente nesse assunto. Enquanto antigamente a prova de amor era matar um dragão, pedir a mão da moça ao pai, hoje é ter coragem o bastante para colocar 'namorando' no orkut.
    E sim, ainda vai piorar muito.

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