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"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A chuteira e o batom

"Cem homens podem formar um acampamento, mas é preciso uma mulher para se fazer um lar".

(Provérbio chinês)


Hoje, dia 21 de dezembro de 2009 (segunda-feira), a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) realizou a cerimônia de entrega do prêmio de "Melhor Jogador do Ano [de 2009]". No futebol masculino, o argentino Lionel Messi — favorito — levou o título, batendo um recorde e se tornando o primeiro argentino a conseguir a premiação desde a sua criação, em 1991.
Quanto ao futebol feminino, pelo quarto ano consecutivo, a vencedora foi a jogadora brasileira Marta, destaque da Seleção Brasileira. Tornou-se a atleta que mais vezes recebeu a condecoração. Entre outras, Marta disputou o título com a também brasileira Cristiane, a quem muito admiro.
Marta Vieira da Silva, nascida a 19 de fevereiro de 1986, na cidade de Dois Riachos (Alagoas), superou inúmeras adversidades desde a infância para chegar ao topo do mundo, a começar pelo preconceito de que futebol não é esporte para mulheres. Sua humildade, determinação e força permitiram sua vitória. Marta é uma fiel e magnífica radiografia da situação das mulheres no mundo, que, a princípio, não tinham direito ao voto, às decisões familiares e, por vezes, ao trabalho. A instituição do "Dia Internacional da Mulher", em 8 de março, deixa isso bem claro.
Ah, mulheres... serviram de inspiração a gênios como Goethe, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias, Lord Byron. Existiriam esses gênios sem suas damas idealizadas? Abrindo meu coração, confesso que eu mesmo não conseguiria compor um único verso sem a existência da dama que cortejo em silêncio.

As mulheres representam da mais perfeita sintonia com que a força do cosmos é regida, no propósito de dar sequência à história e à vida. Gostaria, portanto, nesta ocasião — com vossa permissão —, de discorrer sobre elas, uma vez que, de acordo com denominação feita pelo meu mestre, Dr. Daisaku Ikeda, a presente centúria é o "Século das Mulheres".

Intermináveis clichês indicam as mulheres como detentoras da emoção, ao passo que os homens mantêm, por característica, a razão. Decerto, não há expressão maior de amor, compaixão e sabedoria fora da vida das mulheres, uma vez que estas já nascem com o dom de ser mães. Aquelas que não podem ter filhos também já foram mães, ao menos uma vez — nem que tenha sido da própria boneca. A questão foge de se ter ou não filhos; todas são mães de todas as pessoas que as circundam — o são por natureza.

Mulheres são simples emoções? Segundo o dicionário Aurélio, a palavra razão significa "mente ou função usada para pensar" ou ainda "faculdade que permite o processo para se chegar a uma decisão ou conclusão, o raciocínio". A meu ver, tal descrição deixa de lado a utopia e se faz totalmente verdade, quando vinculada à imagem das mulheres. Fato! Que sentimento pode superar o de mãe da humanidade — sentimento com que se torna possível o sonho da paz mundial? Sua emoção é direcionada pelo seu senso de justiça, pela mais correta das razões e pela mais correta das ações.
Os eternos hemisférios da razão e da emoção são comumente vistos como opostos, mas as mulheres conseguiram quebrar esse paradigma. Provaram a todos que é possível conciliar os dois itens. Em vez de hemisférios, tornaram-se, graças às mulheres, parte um do outro, agindo em auxílio mútuo.


Um recente estudo, publicado na "Folha de São Paulo", revela que "na população brasileira em geral mulheres ganham 17,2% menos que homens" e "entre quem tem alguma deficiência a diferença chega a 28,5%"¹. Entre as razões identificadas pela reportagem da Folha, está o preconceito por parte das instituições empregadoras. Há ainda aqueles que recorrem às tradições históricas dentro de suas respectivas empresas. Mesmo estando em menor número no mercado de trabalho, é inadmissível que as mulheres sejam tratadas com desdém em pleno século XXI. Por que não levam essas tradições históricas mais a sério e retornam de vez com a escravidão ou mesmo com o regime militar? Que orgulho em pertencer à era das máquinas...

Dentro de todos nós, seres humanos, independentemente de gênero, pulsa a mesma energia presente em todos os quadrantes do infinito Universo. Quando fingimos não reconhecer essa energia em qualquer ser vivo que seja, criamos um ambiente propício para que nosso potencial também não se evidencie, e permaneçamos estagnados em meio à progressão da história. Acreditamos, dessarte, que a mesma história se desenvolve de modo linear, enquanto — de acordo com a escola dos Annales² —, em essência, ela é cíclica. Tentando dizer claramente, não existe uma causa para um efeito, assim como não existe um motivo independente para um único fato. Causa e efeito são simultâneos e confluem entre si na produção da vida. Portanto, negando que as mulheres possuam seu devido valor como seres humanos, jogamos fora nossa capacidade — de seres humanos — de construir nossas próprias trajetórias. Há culturas que proibem a mulher de se postar ativamente em meio à sociedade; outras, de opinar em quaisquer que sejam os âmbitos.

A jogadora Marta — ou melhor, a mulher Marta — mostrou hoje, com seu exemplo, a todos nós, que não é necessário acreditar que o futuro inexiste, por mais que tentem nos provar o contrário. Podemos sonhar, mesmo que o sonho pareça impossível, pois, na hora exata, nossa dedicação a ele terá resultados concretos.
A propósito, um filme, a que assisti hoje mesmo, contém um coro protestante que canta uma interessante letra. Segue-se a tradução:

Senhor,
Não mova esta montanha.
Dê-me forças para subi-la.

Longe do desejo de tratar de religiosidade, apenas admiro a determinação em lutar incansavelmente, contida nesses versos. É esse o espírito com que a vida humana deve ser desbravada! Não esperemos por tempos fáceis, mas por aqueles que nos fazem forjar uma gloriosa e invencível identidade.
Façamos justiça à genialidade e à intensa dedicação à humanidade, de Marta, Marie Curie, Rosa Parks, Anne Frank e Helen Keller, de cuja brilhante história me proponho a fornecer detalhes num breve futuro.








NOTAS:

1. BOCATO, Raquel. Entre pessoas com deficiência, mulher ganha até 28,5% menos. Folha de São Paulo. 29 de novembro de 2009.
2. Escola dos Annales: Movimento historiográfico nascido na França na primeira metade do século XX, liderado por Marc Bloch, Henri Pirenne, Lucien Febvre, entre outros, que modificou o estudo da história, acrescentando, a este, elementos sociais e um tanto investigativos. A escola dos Annales propôs uma revolução na historiografia, por abandonar as tradicionais visões elitistas dos fatos e por prezar cada indivíduo como único e participante ativo da formação da história.

2 comentários:

  1. êeh! mulheres brasileiras representando! futebol é território totalmente brasileiro. -q

    A mulher tem conquistado cada vez mais seu espaço, mas ainda é preocupante o preconceito. Lembro-me de uma amiga dizendo que sua mãe recebe menos que seus subordinados, e uma quantia considerável.
    Acho tudo isso muito ridiculo, visto que as mulheres tem tanta capacidade quanto os homens.

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  2. Parábens Vini ! Seu Blog está ótimo. Você escreve muito bem :) Está em desenvolvimento um grande talento, continue sendo escritor. Você tem um futuro brilhante pela frente, rapaz ! Força e determinação que assim, tudo que você aspira se tornará realidade. Beijos.

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