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"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Às páginas de "Senhora"

Ontem à noite, parei para assistir a uma produção de cinema nacional. Os informes iniciais logo se puderam colocar: "[...] contém palavreado chulo [...]". Por mais que a temática da produção apresentasse problemas sociais de uma nação, particularmente, achei tal frase muito banal. Se ontem fosse a primeira vez a assistir àquele filme, teria ficado pasmo: ele realmente contém palavreado chulo.

O filme (aliás, devo admitir, bela superprodução) deixou muito claro que se tornou corriqueiro abaixar o nível da conversa (se é que esta ainda existe) por motivo algum e, por meio da apresentação de conflitos entre policiais e delinquentes (na prática, atualmente, sabemos que esta dicotomia expandiu-se e deixou de ser em si), concluiu sua intenção de demonstrar o caos em que vivemos. A trilha sonora ainda expôs outra realidade que considero insuportável no mundo atual: o funk "pancadão", do qual os jovens de hoje tanto se orgulham e pelo qual atravessam horrores. Emancipam-se da família e dos verdadeiros amigos para somente dançar no alto de um morro (ou mesmo em casa). Cadê Caetano Veloso "e os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais"¹? Grande Caetano, faço, de seus seguintes versos, minha própria indagação:


"Será, será que, que será, que será, que será,
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos?" ²


Quem sou eu para apresentar alguma tendência comportamental? O que critico não é quem faz a música funkfunk!? — em si ou quem a ouve, mas a devoção cega a isso tudo. Não seria melhor escolher um ideal por que se valha a pena viver?


Por que tudo está assim?
Sinto-me imensamente triste ao ler e reler as páginas de "Senhora" e ver ali o mundo idealizado por Alencar: carruagens; damas e senhoras a trajar luxuosos e rendados vestidos; cavalheirismo etc. Apesar de gênio, ele não poderia mudar tanto o mundo de seu tempo, o que me leva a compreender o quão carismático e aprazível fora tal contexto histórico. Sinto, por vezes, saudades de uma época que nunca cheguei a viver. No entanto, é inútil render-se às lágrimas nos tempos em que todos aguardam seu bater de asas. E, dessa necessidade — desse clamor provindo dos olhos daqueles que sofrem e morrem com a guerra —, extraio forças de onde não há, a fim de dar prosseguimento ao meu modesto labor.


Estou convicto de que a ação que compartilho convosco se dá por atuação nos bastidores dos bastidores da sociedade — e, logo, entendereis por quê.
Mais que lamentar, é vital compreendermos que a geração que se desenvolve na atualidade — jovens, a NOSSA geração — é, talvez, a mais derradeira de todos os tempos, por conviver com a dissolução da Humanidade da humanidade (vide "Introdução I") e ser a real responsável pela nova manutenção do diálogo.


Precisamos tomar por base a teoria da criação de valor do professor T. Makiguti³ [1871~1944], que expunha ser fundamental a valorização do potencial de cada pessoa, tratando-a como única e fazendo com que se desenvolva plenamente. E como fazê-lo? Nada melhor que o próprio professor Makiguti para responder ao nosso questionamento:
"O estudo não é considerado uma preparação para a vida; ele acontece enquanto se vive, e a vida acontece em meio ao estudo. Estudo e vida real são vistos não apenas como paralelos; eles trocam informações intercontextualmente, o estudo dentro da vida e vice-versa, por toda a existência do indivíduo".


Que tal lermos "Senhora" e, durante a leitura, ponderarmos acerca da arte de Caetano e da filosofia de Makiguti? Pensemos um pouco nisso.



NOTAS:
1. 2. Trechos extraídos da canção "Podres Poderes", do cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso.
3. Biografia cronológica de Tsunessaburo Makiguti: http://www.bsgi.org.br/sgi_makiguti.htm

Um comentário:

  1. Belos argumentos. Sou obrigada a concordar com cada palavra, exceto que funk 'pancadão' seja música.
    Falta uma razão lógica para a vida da juventude de hoje.

    Vou ler Senhora, me deixou com vontade.

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