Seja bem-vindo!

"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Almoço

Um almoço pode suceder uma manhã apreensiva, em que cada gota de neurônio e paciência está escassa. Um almoço pode suceder a notícia de que um ser seu mais amado está bem, a ser concomitantemente sucedido por uma bronca — quaisquer críticas construtivas...
Recuso-me a comer — estava na rua, prestes a deixar a namorada em sua casa, a fim de prosseguir, ao meu trabalho —; "Vamos comer", insiste ela, "estou com fome e dor de cabeça", diálogo no qual eu interpelava a imaginar que somente comeríamos salgados e guloseimas.
Eis que meu engano é atestado: a um restaurante ela me conduzia. Vimos a Rua Fáustolo, no bairro paulistano da Lapa, se converter em Rua Vespasiano, no que concerne aos passos dados rumo a um novo destino. Embora o número do local não me acorde no momento, garanto que alguns segundos somente nos foram necessários a que a ele chegássemos.
A entrada denotava aconchego, o qual se potencializara pelo "cheiro de fome" àquela altura tão intenso e perceptível! "É por minha conta" é o que o coração daquela dama me dizia enquanto seu sorriso esboçava a cada instante em que nos entreolhávamos. Por fim, entrávamos no restaurante, meu constrangimento em vez de notas de Real em meus bolsos e carteira — por mim, inclusive, pouco utilizada —, afinal o orgulho por vezes sonda os espectros dos quais se originam nossos pensamentos e ações.
Sentamo-nos. As mesas e cadeiras, de fato, remetiam a um lar. "Este restaurante era a antiga casa da família [dona do comércio]", me informava minha amada, agora comparável a um guia turístico, ao passo que eu, o visitante — vislumbrado — descobria cada centímetro daquele paraíso mágico ao qual havia acabado de chegar, cujas paredes verde opaco davam ao pequeno tamanho o tom convidativo de um "Sinta-se em casa". Agora eram dois convites (e o terceiro viria com o acalorado "Seja bem vindo" de um dos proprietários do recinto). Irrecusável! Cada funcionário, às alegrias, atendia a seus clientes com melhores dos sorrisos a lhe colorirem os cenhos.
Algo interferiria em meu encanto: ao me sentar, notei algumas pequenas folhas debaixo da cadeira e da mesa. À hipótese de serem restos de alimento preparado, ponderei acerca de ali repousar minha mochila. Atitude pequena e medíocre do garoto que logo faria o melhor almoço de sua vida — talvez as folhas tivessem sido trazidas pelo vento, numa tentativa (bem sucedida) do Universo de informar que devo abrir minha mente. Mochila repousada.
A comida chegava. Trazia carinho consigo. Ao lado de uma fantástica mulher, eu me alimentava entre goles de refrigerante, ao romantismo rebuscado. Embora industrial, a Lapa sempre me inspira um clima de séculos XVIII e XIX, perfeitamente endossado por aquele momento, o qual jurei prolongar por toda a eternidade, em futuras tentativas de lhe extrair réplicas perfeitas (ou, ao menos, quase perfeitas...)

2 comentários:

  1. Hey Bor...
    Que forma poética de descrever o nosso melhor almoço!
    Obrigada por transformar cada passo de nossas vidas em belos e surpreendentes versos e poemas!
    Amooo que Amooo!!!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, bor, por ser a fonte da transformação de cada passo de nossas vidas em letras que toquem o coração das pessoas.
    Amooo que Amooo!!!

    P.S.: Sem você, nada disto existiria...

    ResponderExcluir