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"O gênio e a natureza fizeram uma aliança eterna: o que o primeiro promete, a segunda certamente realiza".
(Friedrich von Schiller)

sábado, 11 de setembro de 2010

Hey, vovô


No caminho do trabalho, trajando um casaco do vovô.
A cada passo entre as ruas — veias e artérias paulistanas —,
Sinto que andaste em meu lugar, com esta blusa, em teu labor.
Há meio século, estiveste aos vinte anos, Lua e Sol em teu pijama.

Há meio século, buscavas, pela luta, os teus sonhos —
Sonhos de um garoto apaixonado pela vida, pelo estudo.
Há meio século, brada em prol da paz em meio a escombros,
Livre da maior futilidade que são sonhos de consumo.

A cor azul deste casaco que hoje me aquece contra o frio —
Imagino que assim fossem cada um de teus abraços apertados.
Talvez seja por isso que mamãe mantém o azul como sua cor favorita.
Interessante e engraçado, outrossim, que seja a predileta cor de minha namorada.

Hey, vovô! E as gatinhas? Como eram teus namoros?
Eu soube que tu foste um galante mulherengo,
Que fazias dez a zero em qualquer um bom boêmio.

Lembro-me do mapa mundi que tu desenhaste numa lona
Ele está na minha casa — perfeito!
Fica tranquilo — eu o preservo pela eternidade de tuas contas.

Quantas não foram as lições que tu retiraste de um simples caminhão...
(Tudo bem, vai... Vários caminhões!)
Japonês, italiano, tu falavas com fluência até mesmo em alemão!

Gênio!

Herdei o teu talento ao desenho, a fotografar a lápis.
Eu não desperdiçarei o encanto do teu sangue vital.

"Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones".
Tamanha fora minha emoção quando eu soube de tuas composições...
Gênio!
Há meio século, de madrugada, estivera em meu lugar
Munido de papel, uma caneta, uma guitarra, um violão...

Já em meu trabalho,
Imagino quantas não foram as pessoas com quem tu conversaste num só dia.
Será que eu supero essa tua marca durante uma vida?
Tempo bem proporcional, tendo em vista a imensidão de nossos dons.
Quase iguais, não? Tenho em vista a vastidão do coração.

Eu soube que tu foste um bom sapateador.
('Taí uma coisa que não sou,
Mas tudo bem... Por esta, passa...)

E passo no vestibular de ser igual a ti.

A cor azul deste casaco que hoje me aquece contra frio
(O forro em roxo — minha cor de que mais gosto)
Imagino que assim fossem cada um de teus abraços apertados.
É que eu era tão pequeno quando nos abandonaste...

(Passado e futuro, no presente interligados...)
Mas a Vitória ainda tem contigo...
Portanto, peço por favor que sempre cuides dela por mim.

P.S.: Logo mais, um aniversário... Parabéns atrasado.

Um comentário:

  1. E ai Negão? Show. Adorei sua homenagem a uma pessoa tão importante em minha vida, meu pai. Apesar de você ter convivido pouco com ele realmente herdou no sentido literal da palavra seus dons de desenhar e também cantar. Parabéns, sei que ele ficaria muito feliz em ver você hoje, o primeiro neto e primeiro a dar a ele a honra de ser bisavô. Parabéns! Esse é o meu garoto. Beijos
    Mamãe.

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